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Você sabia que Viagem Maldita foi inspirado num caso real?

Conheça essa história macabra

20/07/2024

Não existe nada mais aterrorizante do que um filme de terror baseado em uma história real. Afinal, saber que os eventos das telas aconteceram fora do âmbito da ficção é o suficiente para tirar o sono de muita gente por aí. Enquanto alguns filmes carregam a fama de serem “baseados em fatos reais”, como O Exorcista, Terror em Amityville e O Exorcismo de Emily Rose, outros acabam escondendo a inspiração por trás de seus roteiros.

Esse é justamente o caso de Quadrilha de Sádicos, filme de 1977 dirigido pelo mestre Wes Craven, responsável por clássicos como A Hora do Pesadelo e Pânico. Mas talvez você conheça a história por outro nome, já que o longa ganhou uma refilmagem em 2006, dirigida por Alexandre Aja, que no Brasil ganhou o título de Viagem Maldita.

Apesar das diferenças, ambos os filmes contam a história dos Carter, uma família americana de classe média que, durante uma viagem de férias pelo deserto dos Estados Unidos, acaba encontrando um clã de canibais violentos. Com o carro danificado e longe da estrada principal, eles precisam lutar para sobreviver pondo em xeque sua própria noção de civilização.

Assustador, não é mesmo? Mas se prepare que fica pior. Você sabia que o enredo foi inspirado em uma popular lenda escocesa? Vem que a Caveira conta tudo que você precisa saber sobre a infame história de Sawney Bean.

Os horrores do clã Bean

É comumente acreditado que as primeiras histórias sobre Sawney Bean e sua família se originaram no século XVI, ganhando mais notoriedade com o passar do tempo. O primeiro relato organizado da lenda apareceu em um tabloide do século XVIII, supostamente muitas décadas depois dos eventos.

De acordo com a lenda, Alexander “Sawney” Bean nasceu na Escócia, sendo criado pelo pai que trabalhava podando sebes e cavando valas. Embora tenha sido treinado para seguir os passos do patriarca, Sawney foi embora de casa com Agnes Douglas, uma mulher acusada de bruxaria que compartilhava suas inclinações sombrias, como canibalismo e carnificina. O casal então fugiu para se isolar da comunidade, firmando residência em uma caverna perto da costa de Galloway.

Ao longo dos 25 anos que viveu no local, a dupla teria criado quatorze filhos e mais de trinta netos, de forma que o clã aumentou para quase cinquenta membros. Devido ao isolamento geográfico, a família cresceu a partir de relações incestuosas, provavelmente dando origem a mutações genéticas, algo que foi utilizado tanto no filme de 1977 quanto no de 2006.

A família permaneceu na caverna por anos e desenvolveu um hábito bizarro: caçar e se alimentar de viajantes desavisados. A lenda conta que os membros capturavam as pessoas azaradas durante a noite e as arrastavam para sua gruta, onde desmembravam e conservavam partes dos corpos para consumo. Embora muitos historiadores afirmem ser um exagero, alega-se que o clã de canibais fez mais de mil vítimas. Vale lembrar que não era fácil acompanhar nem investigar desaparecimentos na época, de forma que muitos sumiços eram atribuídos a ataques de animais, eventos sobrenaturais ou roubos que davam errado.

No entanto, segundo a versão da lenda publicada em 1719 por Alexander Smith, tudo mudou quando um casal foi atacado e o homem conseguiu escapar com vida. Ao buscar ajuda, ele contou ter sido atacado por canibais selvagens durante uma viagem a cavalo. Infelizmente, sua esposa não teve a mesma sorte e não sobreviveu à emboscada.

Nem precisamos dizer o furor que a notícia causou quando chegou ao magistrado local, não é mesmo? O monarca da época, Jaime VI, enviou então um grupo de 400 homens, junto com cães de caça, para realizar uma busca minuciosa. Depois de muita procura na área, foi descoberta uma caverna, escondida pela maré alta, a quase 180 metros de profundidade.

De acordo com a lenda, a caverna estava mobiliada com barris recheados com partes de corpos humanos e objetos pessoais das vítimas. As paredes também estariam decoradas com pedaços de mãos e pés. Encurralada, a família não tinha por onde escapar e acabou se rendendo ao grupo, que os levou sob custódia para a prisão de Old Tolbooth.

Devido aos seus crimes, os Bean foram prontamente executados de uma maneira brutal. Alguns relatos apontam que todos, inclusive as crianças, foram submetidos a longas sessões de tortura. Os homens foram então desmembrados e tiveram suas partes jogadas no fogo, sangrando até a morte. Já as mulheres e crianças foram queimadas vivas ou enforcadas.

Como Wes Craven chegou na história?

O primeiro filme, Quadrilha de Sádicos, contou com roteiro do próprio Wes Craven, que se deparou com a lenda escocesa quando estava pesquisando na Biblioteca Pública de Nova York. O cineasta ficou impactado pela história e decidiu utilizá-la em seu próximo filme.

Em entrevista concedida pouco antes do lançamento de Quadrilha de Sádicos, Craven comentou que ficou extremamente pensativo em relação à questão de civilização presente na lenda, principalmente a forma pela qual os Bean foram executados e como suas terríveis ações acabavam espelhando a sociedade da época. Segundo o cineasta: “eles não estavam fazendo nada muito pior do que a civilização fez após os capturarem. E eu apenas pensei […] como o mais civilizado pode se tornar o selvagem e como o selvagem pode se tornar civilizado”.

Craven comentou ainda que construiu as duas famílias do filme como espelhos uma da outra em uma reflexão sobre nossa ideia historicamente construída de civilização e nossa capacidade tanto para o bem quanto para o mal. Ao atualizar a história da família Bean para o século XX e transportá-la para a Califórnia, o diretor encontrou a oportunidade de comentar sobre sociedade e civilização modernas.

Enquanto o filme de 1977 e a refilmagem de 2006 compartilham a mesma premissa e questionamentos, alguns elementos foram alterados na nova versão. No filme de Alexandre Aja, a ação se passa no deserto do Novo México e a família de assassinos é vítima de testes nucleares realizados pelo governo dos Estados Unidos em uma comunidade mineira. Aja realizou uma pesquisa extensa sobre os efeitos nucleares de Chernobyl e Hiroshima, dando assim uma nova camada de crítica ao roteiro original de Wes Craven.

A família Bean existiu?

Os historiadores não estão muito confiantes de que a família de canibais escocesa realmente existiu. A validade da história é bastante debatida e o consenso é de que a narrativa é, na verdade, fruto de lendas e relatos transmitidos ao longo do tempo que tinham como objetivo atuar de forma moralizante e servir para assustar viajantes desavisados.

Real ou não, isso não diminui o impacto dessa história. Talvez seja precipitado categorizar Quadrilha de Sádicos e Viagem Maldita como “baseados em fatos reais”, mas é inegável que ambas as produções trazem em sua essência a lenda de Sawney Bean e sua família, personificando seus temas por meio de um espírito sombrio e macabro. E isso, por si só, já é motivo para conhecer essa narrativa assustadora, que deu origem a dois filmes icônicos de terror.

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