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Xtro: Original, bizarro e traumatizante

Uma boa dose de horror alienígena

02/08/2024

Que a década de oitenta foi uma época de florescimento para o horror e para a ficção científica nós já sabemos, e que alguns filmes desse período jamais ganhariam as telas dos dias atuais, podemos imaginar. Para algumas almas cinéfilas, o filme de hoje possivelmente se encaixe nessas diretrizes, e talvez por esse motivo ele seja tão difícil de ser encontrado. Dirigido por Harry Bromley Davenport e rebatizado por aqui de Estranhas Metamorfoses, essa ficção científica de horror britânica emergiu da mente distorcida de seus criadores em 1982, e rapidamente precisou passar por algumas amputações antes de ser distribuído.

O começo de Xtro é simples e eficiente, com uma família passando momentos felizes em uma propriedade rural, uma casa de campo. Papai brincando com o filho, mamãe saindo com o carro, o cão da família, na verdade uma fêmea chamada Kate, ansiosa para continuar brincando de apanhar um graveto.

Então o dia se torna noite de um segundo para o outro, e percebemos que estamos sendo lançados em uma história bem diferente. A cena seguinte é o menino, Tony, acordando de um pesadelo, e por um breve momento não fica claro se o que acabamos de ver na cena anterior era realidade. Agora a mãe do menino Tony está vivendo com um novo homem, Joe, e ela diz que o pai de Tony “foi embora”.

A diversão começa na sequência, com uma criatura humanoide e deformada literalmente brotando do chão da floresta, como uma semente podre. A criatura neonata vai para a beira da estrada, e é atropelada por um casal que passa de carro pelo lugar; ela os ataca sem piedade quando eles saem do carro. Depois de acabar com o casal, o ser segue até uma casa próxima e insere alguma coisa, um membro alien, na boca de uma mulher. A cena é bastante sexuada, e apesar de não ser direta, transmite a ideia de cópula.

Na casa de Tony, ele acorda banhado em sangue, e ninguém sabe exatamente de onde veio tanto sangue, uma vez que não pertence ao menino. A mãe (Rachel Phillips), o namorado de Rachel (Joe), e a babá francesa (Analise) de Tony acreditam que ele tenha pregado uma peça, para externar a falta que sente do pai. Da casa, Tony é o único que sustenta que o pai “foi levado por uma luz”, sendo que os demais acreditam que o homem abandonou a família.

Falamos de cortes logo no começo dessa matéria, então, eu vou dizer do que se trata o primeiro deles. A moça que foi inseminada pela boca, pela criatura grotesca, passa por uma gestação acelerada, e o que ela traz ao mundo é Sam, pai biológico de Tony. A cena é explícita, degradante, sangrenta, tão inesquecível quanto traumática (pode confiar em mim). E o Sam que já (re)nasceu homem formado toma um lanche e um banho antes de seguir seu caminho de volta ao lar. No trajeto, ele apanha Tony na escola.

Depois de três anos desaparecido, a recepção da ex-esposa não é muito calorosa, mas Tony está feliz, esperançoso que o pai tenha vindo para ficar. O pai, Sam, alega ter perdido a memória depois do incidente com as luzes na casa de campo, algo que não é totalmente mentira. Isso não torna a vida da família mais fácil, principalmente a de Joe, o namorado de Rachel Phillips — ex-exposa de Sam e dona da casa.

Sam não é totalmente humano, então ele faz coisas estranhas como comer ovos de cobra de estimação cru e cheirar gás de cozinha, algo que Tony não aceita tão bem. Depois de flagrar o pai em um desses momentos bizarros, Tony foge, mas Sam o convence, contando partes de sua história de abdução. E ele também faz uma coisa esquisita com a pele do menino, bem esquisita. Depois disso, Tony parece desenvolver certos poderes.

Pai e filho tornam-se cada vez mais ligados, e os poderes do menino aumentam a cada minuto. Tony tem um desafeto no andar de baixo do prédio onde a família mora, uma senhora que matou seu bichinho de estimação, e ela não é o tipo de pessoa que pressente o perigo que está correndo (já os poderes mentais de Tony chegam a tal ponto que ele pode transformar seus pensamentos em realidade).

A fim de desbloquear as memórias de Sam, Rachel o leva de volta para a casa de campo onde tudo aconteceu, e Tony fica com a babá Analise, que decide não dar muita atenção ao menino porque prefere passar horas felizes, trancada no quarto com seu namorado. Bem, péssima ideia pra moça, porque Tony resolve fazer o negócio esquisito na pele dela, e é bem diferente do que o seu pai fez com ele.

Com uma boa quantidade de horror alienígena e pitadas de Além da Imaginação, Xtro pode não ser o melhor filme da década, mas semeia ideias interessantes que podem ter sido aproveitadas ao longo dos anos. O dilema familiar unido ao caos biológico é um desses temas, bem como a ameaça que uma criança pode se tornar ao ser presenteada com poderes ilimitados. Visualmente, o filme também é muito bem feito, com efeitos práticos convincentes e uma dose precisa do gore ultrajante que tanto amamos. É impossível também, deixar de mencionar as cenas mais desafiadoras da versão sem cortes, que agridem nossa resistência moral e reduzem o ser humano a pouco mais que um hospedeiro indefeso.

O clímax de Xtro chega quando Joe decide levar Tony ao encontro dos pais, que a essas alturas já estão, digamos, se reconectando. Em um último ato antes de perder a forma humana, Sam deixa sua herança biológica com Rachel, e tenta fugir da Terra com o filho. O que acontece depois não podemos dizer, mas prepare seus nervos para um final (talvez mais de um final) bem bizarro.