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Curiosidades

114 anos da imigração japonesa no Brasil

Histórias e culturas que se entrelaçam

18/06/2022

Na manhã do dia 18 de junho de 1908 o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos, trazendo a bordo 781 imigrantes japoneses. Eles haviam partido do porto de Kobe 52 dias antes e atravessaram o oceano com o intuito de trabalhar nas terras brasileiras, fazer riqueza e voltar à terra natal alguns anos depois. Assim começou, há 114 anos, o fluxo de imigração de japoneses ao Brasil, impulsionado por um acordo firmado entre os governos dos dois países. 

Nas décadas seguintes, novos grupos de imigrantes continuaram chegando do outro lado do mundo e sendo alocados em diversas regiões do Brasil. Na época da Segunda Guerra Mundial a entrada de japoneses ao país foi proibida, mas foi reiniciada no início da década de 1950. O último navio a transportar estes imigrantes chegou em 1973. Mais de 200 mil japoneses ingressaram no Brasil como imigrantes e hoje o país abriga a maior população de nipônicos fora do Japão. Apesar da diferença da língua, cultura, clima e outros, os imigrantes japoneses superaram as dificuldades, integraram-se à sociedade e muitos fixaram residência permanente aqui. 

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Navio Kasato Maru | Créditos: Alamy

Meus pais também fizeram parte deste contingente de imigrantes. Nasci no interior paulista e passei minha infância em comunidades japonesas, as chamadas “colônias”, onde costumes e tradições da terra do sol nascente mantiveram-se bem enraizadas. Na época, muitos pais incentivavam os filhos a estudarem o idioma japonês — além de frequentarem escolas de ensino obrigatório —, não apenas para facilitar a comunicação entre gerações, mas também por nutrirem a esperança de algum dia regressarem ao Japão. Na minha família não foi diferente e, aos cinco anos de idade, fui matriculada num curso de língua japonesa no município de São José dos Campos (SP).

A língua japonesa é o meu idioma materno, mas foi com o professor Yokote (ou Yokote sensei, como chamávamos) que aprendi a ler e escrever. Mas o nosso primeiro contato não foi dos melhores. Era a primeira vez que eu entrava em uma sala de aula e, assustada com a expressão séria do sensei e os olhares curiosos de outros estudantes, saí da sala aos prantos. A turma era mista, com mais de vinte alunos de idades e níveis variados. Superado o choque inicial, passei a frequentar diariamente as aulas, fiz amigos e comecei a gostar daquele ambiente.

Yokote sensei era imigrante de primeira geração (issei) e um professor bastante engajado que reservava parte da aula para atividades lúdicas como origami (dobradura de papel), desenho, colagem e músicas folclóricas japonesas. Foi ele também que me ensinou a varrer o chão e a recolher o lixo, uma vez que limpar a sala de aula era tarefa de todos, a exemplo do que ocorre nas escolas do Japão. Por outro lado, ele era exigente quanto à disciplina e, para manter a ordem, utilizava-se de régua. Com medo da punição, eu não arriscava abrir a boca durante a aula. Essa rigidez na classe motivou a evasão de alunos e o encolhimento gradual da turma, até o ponto de eu ser a única aluna remanescente. Na minha vaga lembrança, eu fazia lições enquanto sensei preparava papéis coloridos para atividades, e o silêncio só era quebrado pela cantoria dos pássaros do lado de fora.

Com o tempo, novos alunos ingressaram e fiquei feliz em voltar a ter colegas de classe. Sensei ficou mais brando e continuou a lecionar por mais alguns anos até deixar o cargo por causa da sua idade avançada. 

Na hora de escolher minha futura profissão, o aprendizado da língua japonesa foi o que me fez decidir pela tradução. Curiosamente, o meu primeiro trabalho para DarkSide® Books foi a preparação do mangá A Menina do Outro Lado, de Nagabe, cuja história gira em torno da menina Shiva e Sensei, um personagem bondoso e esforçado, mas que tem dificuldade em expressar seus sentimentos. Além do conhecimento da língua e da cultura, de certa forma as lembranças do meu primeiro sensei me ajudaram na adequação das frases que caracterizam este personagem. 

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Sobre Juliana Kobayashi

Avatar photoJuliana Kobayashi é tradutora no par de idiomas japonês - português, bacharel em Letras - Tradução e editora na DarkSide® Books. Atuou na área de jornalismo e em empresas de origem japonesa antes de ingressar no mercado editorial.

2 Comentários

  • Jussara Maria Gomes

    19 de junho de 2022 às 19:31

    Sempre fui fascinada pelo povo japonês, seus costumes e cultura. Seu caráter tão nobre! Excelentes informações, belíssimo texto!

  • Rosemeire Ribeiro Morais

    7 de fevereiro de 2023 às 19:40

    Boa noite, me chamo Rosemeire sou de SP. Sou formada em História e durante minhas pesquisas para a pós transitei pela História da imigração japonesa,meu trabalho foi sobre os órfãos da imigração e neste momento fiquei curiosa por mais conhecimento a respeito da imigração e da cultura japonesa.Gostaria de dar seguimento às pesquisas para um futuro mestrado, gostaria muito de receber informações ou conversar com alguém que pudesse me dar um norte na pesquisa. Fico no aguardo obrigada

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