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8 Referências a 1984 na cultura pop

Clássico de George Orwell influenciou literatura, cinema e música

13/04/2022

Embora tenha sido escrito a partir de 1947, 1984 de George Orwell traçou um cenário aterrador com a sociedade de Oceânia, com similaridades perturbadoras com diversos acontecimentos mundiais desde então. A obra de ficção pode não ter cravado todas as suas projeções para o futuro, mas se mantém assustadoramente atual mesmo décadas após a data que ambienta sua história.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: 1984, DE GEORGE ORWELL

Inspirado pelas experiências que alimentaram o pessimismo do autor em relação aos rumos da humanidade, o livro já causou forte impacto na época de sua publicação, principalmente pelos alertas que dava sobre situações já vividas em 1949. Diferentemente de outras obras, 1984 não apenas envelheceu muito bem como se tornou uma forte referência para estudiosos e para a cultura pop de forma bem abrangente.

É seguro dizer que boa parte das distopias que conhecemos em livros, filmes e séries acaba bebendo um pouco da fonte de Orwell. Elas frequentemente retratam sociedades sob regimes totalitários e uma vigilância tão intensa que não abre espaço para a privacidade.

De livros a filmes e séries, passando até por reality shows, 1984 se mantém vivo no imaginário popular, até mesmo para aqueles que nem leram a obra. Conheça algumas das principais referências e obras inspiradas pelo clássico:

1. Big Brother

Sim, o reality show mais comentado do Brasil e um dos mais populares do mundo tem suas raízes orwellianas. Concebido em 1999 pelo holandês John de Mol, dono da Endemol e que também criou o The Voice, o programa consiste em uma casa isolada habitada por diferentes participantes que são vigiados o tempo inteiro

Créditos: Divulgação / Rede Globo

O nome, é claro, veio do Grande Irmão, o líder que representava o regime que mantinha constante vigilância sobre os habitantes de Oceânia. O programa já conta mais de 500 temporadas em todo o mundo, totalizando 62 franquias e edições regionais. No Brasil o programa vai ao ar desde 2002.

2. V de Vingança

Publicada na década de 1980, quando a história de Orwell se passa, a graphic novel V de Vingança foi escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd. A história possui muitas semelhanças com o ambiente concebido por Orwell: uma Londres do futuro tomada pelo autoritarismo e pela vigilância constante — um regime construído em cima dos medos da população.

Créditos: Vertigo / DC Comics

Embora as metodologias de Winston e V sejam diferentes, ambos carregam a mensagem de que as pessoas devem se rebelar contra os abusos de quem está no poder. Não é à toa que a máscara de Guy Fawkes, utilizada por V, tenha se tornado um símbolo de protestos em todo o mundo — principalmente após a adaptação da HQ para os cinemas em 2005. 

3. Brazil: O Filme

Apesar do nome, Brazil: O Filme não se passa aqui, mas em um mundo distópico que confia demais em suas máquinas, que não são lá aquilo tudo. A trama se concentra em Sam Lowry (Jonathan Pryce), um burocrata de baixo escalão que tenta encontrar a mulher que aparece em seus sonhos ao mesmo tempo em que tem um emprego medíocre e mora em um apartamento minúsculo. O filme de Terry Gilliam é uma sátira à tecnocracia, à burocracia, à alta vigilância, ao corporativismo e ao capitalismo estatal, com traços de 1984.

Créditos: Embassy International Pictures

O próprio Gilliam já afirmou que Brazil: O Filme foi inspirado na obra de Orwell, apesar de ter admitido nunca ter lido o livro. Diferentemente do original, o filme não se passa em um futuro, mas em uma visão do presente com um tom tragicômico.

4. O Conto da Aia

Popularizado pela série de TV, o livro O Conto da Aia também possui forte influência de 1984. A história, aliás, foi escrita por Margaret Atwood no ano que dá nome à obra de Orwell. A existência de um regime autoritário que mantém vigilância constante é presente em ambos os trabalhos, porém, na história de Atwood o governo tem bases teocráticas que acaba desfavorecendo majoritariamente as mulheres.

Créditos: Hulu

Enquanto Orwell colocou o Grande Irmão de olho em tudo e todos, em Gilead a vigilância recebe o nome de “Os Olhos”. Em ambas as histórias qualquer um que desobedecer o governo é enviado para campos de trabalhos forçados, torturado ou morto.

5. Jogos Vorazes

Uma obra que apresentou o conceito de distopia para muitos jovens leitores foi a série Jogos Vorazes, que também ficou famosa pela sua adaptação para as telonas. A Panem concebida por Suzanne Collins também é governada por um regime opressor, que obriga adolescentes a se enfrentarem numa gincana letal todos os anos para fins de entretenimento — que distrai as pessoas dos verdadeiros problemas. 

Créditos: Lionsgate

O universo de Jogos Vorazes é separado em distritos, mostrando o poder do governo em jogar pessoas iguais umas contra as outras através da competição. O livro também reproduz elementos de Orwell como a violência do regime e armas nucleares.

6. O Show de Truman

O monitoramento constante da vida das pessoas de Oceânia serviu de inspiração para o filme O Show de Truman, no qual um homem tem sua vida televisionada desde o momento de nascimento sem ele saber disso. Truman não vive no mundo real, mas sim em um set de filmagens altamente elaborado. Todas as pessoas com quem ele convive são atores.

Créditos: Paramount Pictures

Mais do que monitorar os passos de Truman, os showrunners tinham o poder de manipular a vida do protagonista — mais ou menos como o Grande Irmão acabava fazendo com os cidadãos na obra de Orwell. O longa é quase um degrau entre 1984 e o programa de TV Big Brother.

7. 1974

A influência de 1984 se estendeu à música. O álbum 1974 do cantor David Bowie contém cinco canções inspiradas pelo livro: “We are the dead”, “Rock ’n’ Roll with me”, “Sweet thing” e, é claro, “1984” e “Big Brother”. O plano original do artista era elaborar uma adaptação musical da obra, acompanhada de uma produção teatral de longa duração. Porém, a viúva de Orwell, Sonia Brownell, havia lhe negado os direitos.

Créditos: RCA

Contornando a situação, Bowie fez um especial para a TV chamado The 1980 Floor Show — uma brincadeira com a pronúncia em inglês de 1984 (nineteen eighty four x nineteen eighty floor). 

8. O Círculo

Uma abordagem mais moderna de Orwell pode ser observada no livro O Círculo, de Dave Eggers, publicado em 2013. Na trama, O Círculo é o nome de uma grande empresa de tecnologia com ampla vigilância sobre as pessoas. Parafraseando 1984, a corporação se utiliza de três mantras: segredos são mentiras, compartilhar é se importar e privacidade é roubo. 

Créditos: Frank Masi – © 2017 – STX Entertainment

Num primeiro momento a iniciativa de vigilância da empresa até parece benéfica, reduzindo crimes e corrupção. Porém, as câmeras logo começam a infringir a liberdade das pessoas, que não deixam de ser observadas um minuto sequer — até mesmo quando estão em atividades BEM privadas. Tanto O Círculo como 1984 levantam a questão: como você se comportaria se fosse observado por alguém o tempo inteiro?

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: 1903: ORWELL, DE PIERRE CHRISTIN E SÉBASTIEN VERDIER

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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3 Comentários

  • rodrigo

    21 de abril de 2022 às 10:15

    O romance de Orwell parece, a primeira vista, ser um exagero, uma situação tão absurda que, teoricamente, seria impossível ser considerada palpável, uma situação de um totalitarismo colocado a máxima potência, e, na verdade, acredito que esta tenha sido a intenção de Orwell quando escreveu seu romance, é muito provável que nem mesmo o criador do mundo de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro poderia imaginar que a sociedade doentia que ele imaginou poderia, um dia, se tornar real, no entanto, não há como negar que o mundo que imaginou Orwell está batendo a nossa porta, e pior, clamada e apoiada por nós mesmos.

    Alimentado pelo medo e pelo controle das informações vivemos em um constante estado de tensão e, em cada ação violenta que presenciamos em nossa sociedade, ouvimos o discurso de “mais poder para o Estado”, “mais polícia nas ruas”, e “mais câmeras de vigilância”, cedemos nossa privacidade para um Estado que nos promete mais segurança, estamos presos em um círculo viciosos de violência, pois esta nunca diminui e nós cobramos do Estado mais segurança e em resposta o Estado põe mais polícia nas ruas, mais câmeras, mais mentiras, tudo em vão, pois a violência não para, e o clamor popular por mais vigilância também não para.

  • Juliana

    29 de abril de 2022 às 15:52

    Excelente comentário. Fico feliz em saber que existem pessoas que podem ver isso tão claramente. Infelizmente, não faz parte da maioria!

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