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Por que 1984 é uma obra obrigatória?

Livro de George Orwell parece uma profecia repetida de maneira incansável

06/04/2022

Ele pode não ser Nostradamus, mas George Orwell parece ter uma visão muito certeira de como seria o futuro. Em sua obra mais famosa (ao lado de Revolução dos Bichos), 1984, o escritor narra com uma perturbadora semelhança elementos tão presentes no século XXI, mais de setenta anos após a primeira publicação do livro.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: 1984, DE GEORGE ORWELL

A própria trajetória de Orwell contribuiu para que ele tivesse essa visão tão crítica e pessimista do que o mundo estava se tornando. Sim, porque 1984 não é simplesmente um chute de como as coisas estariam em aproximadamente quatro décadas, mas um alerta do autor sobre o que já estava em andamento.

Orwell nasceu numa Índia ainda colonizada pela Inglaterra, estudou em um dos colégios internos mais prestigiados do Reino Unido, foi policial na Birmânia — quando teve intenso contato com o poder do Estado —, combateu o regime totalitário de tendência nazifascista na Espanha de Franco e, apesar de não poder servir na Segunda Guerra Mundial, presenciou os ataques e os terrores do conflito na Inglaterra.

Mas a biografia de George Orwell tem tantas particularidades que merece um livro próprio. E foi isso o que o roteirista Pierre Christin fez em 1903: Orwell. Com os traços do artista Sébastien Verdier, essa graphic novel traz uma ampla pesquisa histórica sobre a complexidade da história de um dos autores mais visionários do século XX.

Por que distopias são tão perturbadoras

Se tem algo que George Orwell sabia muito bem que é distopias que se passam no futuro nunca realmente falam sobre ele. Muito pelo contrário, essas histórias são sobre o mundo que rodeia o autor. Existe até um rumor de que 1984 seria apenas uma reorganização do ano em que Orwell trabalhou nele: 1948. Ou seja, na visão do escritor aquela realidade já estava acontecendo ou pelo menos em andamento.

Quando entendemos que a história é cíclica, começamos a perceber certos padrões que se repetem de tempos em tempos e se manifestam em diferentes partes do mundo. Regimes autoritários ou que flertam com o autoritarismo emergem com certa frequência, geralmente encontrando um terreno semelhante para ganhar força.

Quando foi lançado, 1984 podia ser fortemente relacionado à União Soviética no contexto da Guerra Fria e pouco depois ao Macarthismo nos Estados Unidos. Na década de 1970 o livro parecia uma previsão de aspectos do governo Nixon e do caso Watergate. Num passado bem recente, os americanos passaram a associá-lo ao governo Trump.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: 1903: ORWELL, DE PIERRE CHRISTIN E SÉBASTIEN VERDIER

O Ministério da Verdade e o mundo da pós-verdade

Mas não é apenas nos Estados Unidos que os padrões de 1984 são observados de maneira perturbadora. Não é à toa que o momento em que vivemos é conhecido como o da “pós-verdade”, em que narrativas são construídas para atender a interesses econômicos e como uma forma de governantes controlarem suas populações.

Em 1984 o país relatado pelo autor, Oceânia, vive sob um regime totalitário que, além de vigiar a vida de seus cidadãos, emite suas narrativas através do Ministério da Verdade. Só que ali a verdade é aquilo que o governo diz, independentemente dos fatos e outras evidências científicas. “Ciência”, aliás, é uma palavra proibida. Se o governo disser que 2+2=5 todos devem acreditar.

Qualquer semelhança com as fake news de hoje em dia, amplamente disseminadas por meio das redes sociais e aplicativos de mensagem, não é mera coincidência. A construção de narrativas para atender a esses interesses é capaz de manipular resultados eleitorais, colocar a saúde pública em risco e convencer uma nação inteira de que a guerra na qual você está envolvido não é real. 

A ideia por trás de 2+2=5 foi descrita por Orwell antes mesmo de escrever seu clássico. Quando trabalhou para a BBC durante a Segunda Guerra, ele aplicou a ilógica equação para ilustrar a psicologia negacionista da propaganda nazista, que alegava que “não existia tal coisa como a verdade”. Por exemplo, não havia a “ciência”, mas sim a “ciência alemã” e a “ciência judaica”. O objetivo implícito era criar o caos e privar a população de fontes confiáveis. Não muito diferente daquelas pessoas que repassam fake news e quando confrontadas com fatos apenas se justificam dizendo “hoje em dia não se sabe mais em quem acreditar”. 

O Grande Irmão que tudo vê no mundo moderno

Uma das abordagens mais lembradas de 1984 diz respeito à vigilância constante do Estado, que sabia tudo o que os cidadãos faziam o tempo inteiro. O nome do mecanismo, Grande Irmão, até serviu de inspiração para batizar um dos reality shows mais populares do mundo, o Big Brother. Mas está cada vez mais evidente que esse olho que tudo vê — e ouvido que tudo ouve — já está entre nós.

A noção da vigilância constante da população faz sentido com a ideia de um governo totalitário. Ao deter todo o poder, ele precisa saber muito bem o que seus cidadãos estão fazendo. Qualquer coisa que saia dos eixos deve ser eliminada em sua origem.

Embora algumas nações não apenas flertem com essa ideia, mas de fato se utilizem de alguns mecanismos de vigilância, tal monitoramento ocorre de uma maneira menos centralizada. E o mais assustador: o tempo inteiro.

Pense na situação: você comenta com um amigo que precisa comprar um aspirador de pó. Isso foi feito pessoalmente, durante uma conversa cara a cara. Na próxima vez que você pegar o seu celular para utilizar a internet magicamente aparecerão anúncios de diferentes marcas e lojas de aspirador de pó. Quase como se os deuses da publicidade on-line pudessem ler os seus pensamentos.

Poucas pessoas se dão conta, mas o simples fato de utilizar um aparelho celular com acesso à internet e GPS se torna uma rica fonte de informações a nosso respeito. Por meio de dados de navegação, geolocalização, câmera fotográfica e o próprio microfone do aparelho é possível traçar um perfil muito detalhado de quem somos, nossos interesses e costumes. 

Além de tais dados serem uma mina de ouro para as empresas que vendem os produtos que queremos, e principalmente aquelas que desenvolveram a tecnologia que permitisse esse Big Brother da vida real, essas informações já estão sendo utilizadas por governos e campanhas políticas em todo o mundo. A Oceânia de Orwell nunca pareceu tão próxima de nós.

Mas se por um lado essa vigilância parece vir de uma maneira invasiva e indesejada, há também a própria contribuição das pessoas para esse BBB contínuo. Uma previsão que Orwell deixou passar seria justamente essa boa vontade das pessoas em expor suas vidas em redes sociais para milhares de seguidores que podem esconder intenções escusas. 

Os alertas fundamentais de 1984

Créditos: 1984 © MGM

Longe de ser um livro de ciências políticas, 1984 é amparado pelo véu da ficção para alertar sobre dilemas e ameaças absolutamente reais. Não é à toa que a obra é uma indicação constante nas leituras de estudantes do ensino médio e universidades. O protótipo de uma nação como Oceânia, com todos os seus absurdos, serve de alerta para os absurdos que lentamente se constroem fora da ficção.

Mas o aviso não serve apenas para o mundo, mas para nós mesmos. Enquanto o próprio Orwell esperava que os leitores se identificassem (de maneira assustadora) com O’Brien, um personagem seduzido pelo poder do totalitarismo, devemos prestar mais atenção ao nosso Winston interior — que sabe que há algo errado, que está perdendo o controle da própria vida, mas que ao mesmo tempo sabe que não tem como resistir.

O conformismo de Winston se aplica tanto em um simples “Li e concordo com os termos” (sem realmente ter lido e concordado com os termos) como na inércia diante da atitude de governantes. O que tanto preocupava Orwell na década de 1940 não era simplesmente o socialismo ou o fascismo, mas sim qualquer “ismo” capaz de levar multidões a defenderem uma ideia sem muito questionamento, deixando-se convencer que 2+2=5.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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