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Witcherature: A vez das bruxas na literatura

Por que estamos fascinados por bruxaria?

16/01/2023

A bruxaria está nos livros, nas redes sociais, em releituras de clássicos e no streaming. Até onde não há a bruxaria propriamente dita, a estética e temas relacionados se fazem presentes, como é o caso do sucesso da série Wandinha. Afinal, por que estamos tão fascinados pelo tema?

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No inglês já surgiu até a palavra “witcherature”, uma junção das palavras “witch” [bruxa] e “literature” [literatura], para sintetizar esse fenômeno cultural. Se em séculos passados elas eram perseguidas e assassinadas — aliás, muitas mulheres que nem eram bruxas acabaram acusadas desse “crime” — hoje elas estão tomando conta do imaginário popular e deixando de ser um mercado que há até pouco tempo pertencia a um nicho bem restrito para dominar as livrarias.

Perseguição, contos de fadas e feminismo

Se por um lado as perseguições às bruxas massacraram pessoas — em sua maioria mulheres —, as bruxas nunca foram completamente queimadas nas fogueiras ou enforcadas. Elas permaneceram muito vivas no imaginário popular, ainda que em uma visão bem deturpada do que a bruxaria realmente significa.

Nos contos de fadas elas eram as vilãs frequentemente representadas como feiticeiras invejosas da juventude e da beleza das princesas. Até mesmo nas versões mais “familiares” da Disney elas carregavam consigo a essência do mal. E se você leu Princesas Dark sabe que essas histórias possuem contornos ainda mais sinistros.

Banner Princesas Dark

Mas de umas décadas para cá essa visão tão negativa e unilateral sobre as bruxas vem sendo questionada de maneira gradativa — não coincidentemente acompanhando a evolução do movimento e das pautas feministas. Hoje entendemos que muito do que era considerado bruxaria era simplesmente feminismo, como não se casar nem ter filhos, administrar a própria fortuna e bens materiais, deter conhecimentos sobre plantas e ervas e adotar práticas espirituais alternativas ao cristianismo são apenas alguns exemplos. Se você se identificou com pelo menos um deles, é bem provável que você seria acusada de bruxaria há alguns séculos.

Trazendo para o nosso século XXI, há uma nova onda de feminismo que está dedicada a revisitar a luta pelos direitos das mulheres ao longo da história e observar a repercussão de tais injustiças. Desde o cerceamento a direitos reprodutivos em países como Brasil e Estados Unidos até notícias sobre a opressão sofrida por mulheres no Irã e no Afeganistão, a leitura sobre as injustiças históricas cometidas contra elas estabelece um revoltante vínculo entre o passado e o presente.

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Uma obra essencial para conhecer melhor a história da bruxaria diante da sociedade é Grimório das Bruxas, escrita pelo pesquisador Ronald Hutton. Motivado pela relação entre medo e bruxaria estabelecida ao longo dos séculos, o autor mergulha numa pesquisa profunda, analisando seus contextos, crenças e origens históricas e culturais. 

grimório das bruxas

Bruxaria natural e colapso ambiental

Uma das vertentes que está despertando o interesse das pessoas atualmente é o da bruxaria natural. Além de permitir uma prática mais independente, é talvez um dos ramos da bruxaria que mais valorize a nossa conexão com o universo e com o nosso planeta sem esbarrar em muitas regras, tornando-se bem acessível para quem ainda está dando os seus primeiros passos na prática.

A bruxaria natural encontra respaldo em um movimento urgente de rever a relação do ser humano com o nosso planeta, principalmente no que diz respeito à utilização de recursos naturais. Adeptos da prática não enxergam árvores apenas como fornecedoras de matéria-prima, a água como algo para matar a sede ou animais como mero bichinho de estimação. Bruxas e bruxos naturais honram cada presente da natureza e se dedicam a respeitá-los, estabelecendo uma relação harmoniosa e responsável com a vida em todas as suas formas.

DarkSiders que queiram estreitar a sua conexão com o planeta têm em Arin Murphy-Hiscock uma mentora com experiência de sobra. A sacerdotisa é autora dos livros Bruxa Natural e A Casa da Bruxa Natural, com dicas, receitas e ensinamentos valiosos sobre nos reconhecermos em meio às dádivas do universo, a relação com os elementos da natureza e como transformar o nosso lar nesse santuário natural e repleto de significado.

bruxa natural

Em busca de respostas

Um dos motivos que tem tornado a literatura bruxa mais popular envolve a jornada de autoconhecimento pela qual muitas pessoas estão optando por passar. Nesse sentido, diversas obras são procuradas como oráculos, interpretações ou mensagens para o nosso dia a dia.

Esse tipo de conteúdo costuma ser procurado principalmente quando a sociedade enfrenta crises, como as políticas, financeiras ou sanitárias, como a pandemia de Covid-19. Para encontrar algum tipo de sentido, sinal ou estrutura, as pessoas recorrem a esses guias como um contraponto ao caos e às incertezas do dia a dia.

E quem disse que essas publicações não podem nos reservar lições valiosas ou aquele sinal que você tanto queria? O Livro das Respostas, por exemplo, funciona como um verdadeiro oráculo, partindo do princípio que nada na nossa vida acontece por acaso — nem a página em que você decidiu abrir o livro. Já o Dicionário dos Sonhos reúne mais de 10 mil possibilidades de explicações para o que o seu inconsciente está tentando lhe dizer.

livro das respostas

Agora se você é daqueles que sabe que cada dia possui alguma oportunidade ou lição, o Diário Mágico é um ótimo acompanhante para todas as manhãs, com informações, curiosidades, rituais e mensagens repletas de significado para uma jornada mais abundante nos caminhos da magia.

De vilãs a donas da própria história

Vilanizadas, demonizadas e perseguidas, as bruxas agora estão no centro da busca por um contraponto sobre a percepção que a sociedade criou delas. Mas se engana quem acha que o seu novo papel é o de vítimas. Não, as bruxas estão dispostas a mostrar que o mundo é muito mais complicado e belo do que o simples “bem contra o mal”.

Elas conquistaram o centro da narrativa, contemplando todo o seu poder para desafiar as estruturas patriarcais que as subjugaram por tanto tempo. Uma dessas histórias que conquistou DarkSiders de todos os cantos é Reino das Bruxas: Irmandade Mística, de Kerri Maniscalco. Na trama, uma bruxa chamada Emilia investiga o assassinato da irmã para conseguir sua vingança.

Alexis Henderson também colocou essas personagens no centro da narrativa em O Ano das Bruxas, uma ficção especulativa que desenterra um passado de violência contra essas mulheres. A jovem Immanuelle é tida pelos moradores de Betel como uma pessoa amaldiçoada, não importa o quanto ela se esforce para seguir o Protocolo Sagrado. Quando se encontra com os espíritos de bruxas assassinadas pelo Profeta, ela passa a compreender a injustiça da sociedade em que vive.

o ano das bruxas

Mas não foi apenas o cristianismo que perseguiu as bruxas. Genevive Gornichec ambientou a trama de No Coração da Bruxa em meio à mitologia nórdica para contar a história de Angrboda, uma gigante bruxa que foi punida por Odin quando ela lhe negou conhecimentos sobre o futuro. 

Há algo empoderador em ver tantas mulheres desafiando o preconceito e a misoginia. Seja para conhecer melhor a história da bruxaria, seguir uma jornada mágica, obter respostas e inspiração ou acompanhar jornadas de personagens poderosas, a witcherature se conecta à rebeldia que cada um carrega consigo. Isso acaba estabelecendo um senso de comunidade entre leitores e leitoras que questionam essa demonização sobre a bruxaria, escrevendo uma nova história para praticantes da magia em todo o mundo.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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