Filmes • Resenha

Caveira Viu: M3gan

Annabelle que se cuide com essa concorrência

23/01/2023

Nada é mais aterrorizante do que um brinquedo inofensivo ganhar vida e se voltar contra você. De Chucky e Tiffany a Annabelle, diversos filmes e séries já trouxeram pequenos grandes antagonistas para as telas. Brinquedo Assassino, Bonecas Macabras, Um Passe de Mágica… a lista é longa, contando até mesmo com um episódio da clássica série de televisão Além da Imaginação, protagonizado pela apavorante Tina Falante. Os tempos mudam, as tecnologias também, mas bonecos assassinos continuam em alta. E eis que em 2023 esse hall de mini assassinos ganha uma nova integrante: M3gan.

Dirigido por Gerard Johnstone e produzido por James Wan, que já tinha se aventurado por esse mundo com Gritos Mortais de 2007 e Annabelle em 2014, M3gan nasceu destinado ao hype. Desde o lançamento de seu trailer, o filme tem dado o que falar e não é para menos. Apostando em um tom cômico que entretém e numa crítica ácida à indústria de brinquedos infantis, o filme chega como um dos primeiros destaques do ano.

A premissa é pouco inovadora, remetendo em certo ponto até ao remake de Brinquedo Assassino de 2019, mas bastante eficaz. Após perder os pais em um trágico acidente de carro, a jovem Cady vai morar com sua tia Gemma, uma roboticista que trabalha em uma das maiores empresas de brinquedos tecnológicos do mundo, a Funki.

Enquanto tenta cumprir um prazo de entrega do design de um novo brinquedo, Gemma trabalha com sua equipe em um projeto secreto: o Model 3 Generative Android, ou para os íntimos, M3gan, uma boneca ultrarrealista programada para reagir, pensar e aprender. Tentando conciliar a nova vida com o trabalho, ela transforma M3gan em uma companheira para Cady, que a testa em primeira mão.

Contudo, o que era para ser uma solução que beneficiava a todos, logo se torna um pesadelo quando M3gan desenvolve uma consciência própria e se torna um perigo a todos ao seu redor.

Misturando o tropo do boneco assassino com o da inteligência artificial que se volta contra humanos (alô Exterminador do Futuro), M3gan apresenta uma trama divertida e debochada. Apesar de começar com o trauma e a perda de Cady, o filme logo opta por outro caminho, ridicularizando o mundo corporativo dos brinquedos infantis e a criação de produtos absurdos (e ridiculamente caros). Nesse sentido, M3gan acerta em cheio ao criar uma ácida crítica aos brinquedos e tecnologias que pretendem substituir a presença humana (no caso do filme, pais e adultos), além de apontar para a falta de escrúpulos de muitas corporações.

O terror com fortes doses de comédia em M3gan

Agora, se você deseja um filme de horror sério, certamente não vai o encontrar aqui. A ênfase de M3gan é justamente no absurdo. Esqueça cenas muito violentas, jumpscares ou grandes contagens de corpos. O objetivo do filme não é esse. A diversão está na boneca, que desde sua primeira aparição nos desconcerta com seu visual e seus modos quase humanos.

À medida que M3gan vai se desenvolvendo e se tornando mais autônoma (e consequentemente mais perigosa), mais divertidas as cenas vão ficando. É impossível desviar os olhos das telas, afinal precisamos saber o que a boneca vai aprontar em seguida. Apesar de reunir um bom elenco, encabeçado por Allison Williams e Violet McGraw, a verdadeira estrela do filme é M3gan, que evidencia os ótimos efeitos especiais da produção.

M3gan é um filme que não se leva a sério e se beneficia imensamente disso. Sem medo de abraçar o ridículo, a produção entrega uma história previsível, mas bem contada e divertida, que arranca risadas do público ao mesmo tempo em que causa um leve desconforto com o visual da boneca. Dando uma revigorada no subgênero dos bonecos assassinos, M3gan mostra que nem sempre tudo precisa ser sério e às vezes tirar sarro de si mesmo é o melhor negócio.

Com uma continuação já confirmada para 2025 e intitulada de M3GAN 2.0, já podemos esperar que M3gan se torne um novo ícone do horror. Como ela vai voltar, ainda não sabemos. Mas uma coisa é certa: Annabelle que se cuide, aparentemente a competição chegou para ficar.