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Caveira Viu: Imaculada

Filme de Sydney Sweeney dá à luz uma nova scream queen

23/05/2024

O ano ainda não chegou na sua metade, mas uma coisa é certa: as freiras definitivamente voltaram com tudo no cinema de horror de 2024. A grande prova são os filmes A Primeira Profecia e Imaculada, duas produções lançadas em um pequeno intervalo de diferença e que chamaram a atenção pelos temas similares. 

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Não é de hoje que o cinema se aventura pelas paredes dos conventos. O audiovisual soube desde cedo explorar a aura de segredo e mistério que orbita ao redor de mulheres de vida religiosa. Não é coincidência nenhuma que nos anos 1970 então um subgênero muito popular despontou principalmente no audiovisual europeu: o nunsploitation. Pegando carona em séculos de fascinação e medo perante a história católica, tais produções traziam em sua grande maioria freiras cristãs sendo confrontadas com repressão sexual, opressão religiosa e até mesmo possessão demoníaca

Como qualquer outro subgênero do horror, o nunsploitation contou com momentos de maior popularidade enquanto em outros apareceu de forma mais tímida nas telas. Se 2023 preparou o terreno para o retorno das freiras ao horror, com produções como Irmã Morte e A Freira 2, 2024 escancarou de vez as portas dos conventos. 

imaculada

Em Imaculada, que acabou de chegar nos cinemas brasileiros, o público viaja até um convento no interior da Itália junto de Cecilia, uma jovem freira interpretada por Sydney Sweeney, que sai dos Estados Unidos para assumir um cargo voltado para cuidar de freiras idosas em seus últimos dias de vida. Contudo, sua rotina muda drasticamente após seus votos, quando descobre que está milagrosamente grávida e pode estar carregando o filho de Deus em seu ventre

Dirigido por Michael Mohan e com roteiro de Andrew Lobel, Imaculada demorou cerca de dez anos para sair do papel. A atriz Sydney Sweeney, que posteriormente ganhou notoriedade pela série de televisão Euphoria, tinha apenas 17 anos na época dos primeiros testes de elenco. Por motivos desconhecidos, o projeto acabou sendo deixado de lado por alguns anos, até a jovem atriz comprar os direitos do roteiro e chamar Mohan para ocupar a cadeira da direção. Algumas mudanças estruturais foram então realizadas na história, que originalmente não era centrada em freiras, mas sim em estudantes do ensino médio

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Essa mudança para um convento remoto cheio de salas ornamentadas e labirínticas é provavelmente um dos grandes acertos de Imaculada. A partir disso, o filme abraça o horror religioso, suas imagens e blasfêmia, ao mesmo tempo em que encontra espaço para subverter as expectativas do público. O ponto forte aqui é justamente utilizar as convenções do horror religioso para despistar o espectador, que é surpreendido com uma inesperada revelação.

imaculada

Imaculada sabe aproveitar bem o misto de fascínio e medo que a imagética católica, com suas relíquias, histórias e santos, desperta há décadas. Uma das cenas mais impactantes do filme é extraída a partir disso, quando Cecilia é vestida com trajes deslumbrantes que a aproximam da Virgem Maria. Considerando isso, não podemos dizer que Imaculada não é um filme corajoso.  O longa não tem medo de mexer com uma das maiores personalidades do catolicismo, entregando um roteiro carregado de sacrilégios que desbrava o tabu da gravidez monstruosa e a concepção virginal. Considerando isso, o filme de Mohan cumpre os requisitos de um bom horror religioso, desdobrando-se em uma batalha sangrenta e chocante nunca antes vista nas telas, confrontando o espectador com gore e imagens religiosas ousadas.

Enquanto o filme investe pesado nessa ambientação grandiosa, o elenco por sua vez é bastante reduzido, o que contribui para um constante sentimento de desconfiança da protagonista e do público.  Embora a trama seja preenchida por nomes como Álvaro Morte (A Casa de Papel) e Benedetta Porcaroli, o grande destaque realmente vai para Sydney Sweeney, que brilha como a doce e inocente Cecilia, carregando grande parte da ação do filme. 

No entanto, apesar de todos os pontos positivos, o ritmo alucinante do roteiro é justamente onde o filme sofre seu maior deslize. Com tempo de execução de 90 minutos, Imaculada parece estar correndo contra o relógio. Isso rende cenas apressadas, pouco aprofundamento na história e falta de conexão entre os diferentes pontos da trama. O filme acerta ao marcar os trimestres da gravidez de Cecilia, conduzindo ao temido clímax, mas erra ao deixar de lado a profundidade dos personagens, que não têm identidade nem muita presença no roteiro, o que diminui o impacto de suas ações e consequências, os inserindo como meros dispositivos de roteiro.

imaculada

A falta de ritmo também faz com que a ação demore para ser estabelecida. Enquanto Imaculada entrega uma violência chocante e boas doses de sangue, a loucura desenfreada fica relegada aos minutos finais da história e isso é um grande desperdício. Não é que o filme não chegue lá, mas a performance feroz e brutal de Sweeney quando Cecilia é confrontada com os causadores de sua gravidez poderia ter ganhado muito mais tempo de tela. A descida da jovem freira em uma luta primitiva pela sobrevivência é definitivamente um dos melhores momentos do filme, culminando em uma cena final de arrepiar.

Além da iconografia religiosa, Imaculada encontra inspirações nas mais diversas fontes. O filme bebe do horror italiano, do nunsploitation e do New French Extremity, ao mesmo tempo em que acena para clássicos norte-americanos como O Bebê de Rosemary. Embora exista um comprometimento com o imaginário católico, vale destacar que o filme comete um deslize logo em seu título. O termo “Imaculada” não possui relação com a concepção virginal a qual o longa faz referência, mas sim ao dogma da Igreja que afirma que Maria foi concebida sem o pecado original

Apesar de todos os problemas e de seu ritmo errático, Imaculada é um filme que conta mais com acertos do que erros, se destacando por sua brutalidade crua e deslavada. Junto de A Primeira Profecia, o longa desponta como um artefato da época em que vivemos, tecendo um comentário pertinente sobre controle, agência e perda de autonomia corporal feminina perante instituições poderosas. Além disso, Imaculada funciona como um bom filme de horror religioso, entregando algumas das cenas mais selvagens, sangrentas e sacrílegas dos últimos tempos, consolidando Sydney Sweeney como uma nova scream queen. O filme de Michael Mohan não só é exemplo da função do horror de provocar desconforto e enfrentar tabus, mas também mostra que as freiras voltaram a causar no cinema. Nos basta torcer para que elas fiquem por aqui nos abençoando por um bom tempo.  

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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