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Crianças de Atlanta: Conheça a série de crimes retratada no livro

Obra-prima de Toni Cade Bambara reconstrói caso com sensibilidade

28/08/2024

Viúvos e viúvas da série Mindhunter devem se lembrar de um caso retratado na segunda temporada: a série de homicídios que ficou conhecida como assassinatos das crianças de Atlanta. Embora tenha sido abordado de maneira breve na série de David Fincher, este triste episódio deixou marcas profundas na história dos Estados Unidos, em especial para as comunidades afro-americanas.

LEIA TAMBÉM: O fim de Mindhunter?

O caso se tornou objeto de um amplo estudo da escritora Toni Cade Bambara, de Gorila, meu Amor, que deu vida e voz a essas vítimas, mergulhando na realidade, frieza, dor e na indiferença que acompanhou as vidas de tantas famílias, devastadas por suas perdas. O resultado está na obra-prima Crianças de Atlanta, um lançamento Crime Scene Fiction, editado pela brilhante Toni Morrison.

De julho de 1979 a maio de 1981, pelo menos 28 pessoas na região de Atlanta, a maioria delas meninos e adolescentes negros da periferia, foram sequestradas e assassinadas. Por mais que Mindhunter tenha abordado o caso de maneira um tanto fiel aos fatos, a série não nos dá uma imersão e tampouco a dimensão real do caso que vamos conhecer um pouco melhor nesse post.

crianças de atlanta

Quem eram as vítimas?

A série de assassinatos teve início no verão de 1979 quando Edward Hope Smith, de 14 anos, e Alfred Evans, de 13, desapareceram. Os corpos dos jovens foram encontrados em um pátio de estacionamento vazio dias depois, apesar de Evans não ter sido identificado por mais de um ano.

Apesar da descoberta dos corpos, o fato não causou pânico imediatamente. A polícia simplesmente deduziu que as mortes estavam relacionadas ao tráfico de drogas e quase as ignorou. Meses depois, quando foram descobertos os corpos de Milton Harvey, de 14, e Yusuf Bell, de apenas 9 anos, a polícia de Atlanta ainda não estava fazendo a conexão entre todos os desaparecimentos e assassinatos.

Em 1980 o número de mortes aumentou. Angel Lenair, de 12 anos, foi assassinada no início de março — e antes de seu corpo ter sido encontrado amarrado a uma árvore, a polícia insistia à mãe dela que a menina simplesmente tinha fugido de casa. O próximo desaparecimento foi do menino de 11 anos chamado Jeffrey Mathis, embora seu corpo só tenha sido encontrado quase um ano depois. Eric Middlebrooks, de 15, foi encontrado espancado em maio. 

assassinatos de atlanta

No mesmo mês, Camille Bell (mãe de Yusuf), Willie May Mathis (mãe de Jeffrey) e Venus Taylor (mãe de Angel) organizaram a primeira reunião do Comitê para Parar Assassinatos de Crianças, um grupo que pressionou a polícia a investigar com seriedade a conexão entre os casos.

Mesmo assim, os desaparecimentos continuaram ocorrendo: Latonya Wilson, de 7 anos, e Aaron Wyche, de 10 anos, desapareceram em junho; Anthony Carter, de 9 anos, e Earl Lee Terrell, de 10, em julho. Antes do fim daquele ano, mais cinco crianças desapareceram, além de sete crianças e seis adultos terem sido assassinados em 1981. Os corpos de algumas das vítimas foram encontrados pouco depois dos desaparecimentos, enquanto outros ficaram ocultos por meses. Algumas das vítimas se conheciam entre si e eram vizinhas.

A investigação do caso

Chamar o trabalho inicial da polícia de Atlanta de incompetente chega a ser um eufemismo. Durante meses os investigadores se recusaram a acreditar que os assassinatos estivessem conectados, e pessoas públicas evitavam falar em detalhes sobre o caso com medo de que isso prejudicasse a reputação da cidade.

assassinatos das crianças de atlanta

Mais ou menos na época em que o Comitê foi formado pelos parentes das vítimas para pressionar as autoridades, a polícia local formou uma força-tarefa com outros investigadores do estado, com dois agentes do FBI atuando como intermediários entre os policiais locais e a Unidade de Ciência Comportamental — mas o caso ainda não tinha se tornado de interesse federal. Camille Bell, mãe de uma das vítimas, contou à revista People na época: “Quanto mais falávamos, descobrimos que nenhum de nós tinha conseguido que a polícia fizesse contato com a gente. Eles não retornavam nossas ligações; nada estava sendo feito”.

A investigação só começou a ser levada mais a sério no mês de agosto, depois que encontraram o corpo de Clifford Jones, de 13 anos de idade, estrangulado. O fato de que o garoto era de Cleveland (estava na cidade visitando familiares) provavelmente ajudou a trazer a atenção nacional para o caso.  

Após o desaparecimento de Darren Glass, de 11 anos, em setembro, o caso atraiu a atenção do FBI para abrir uma investigação de sequestro, com base na teoria de que o garoto tivesse sido retirado do estado. Em novembro, o FBI abriu uma investigação conhecida como ATKID, e os jornais começaram a noticiar o caso regularmente em rede nacional. Uma recompensa na casa das centenas de dólares foi oferecida a quem ajudasse a capturar o assassino e milhares de pessoas se mobilizaram para ajudar nas investigações.

assassinatos de crianças de atlante - passeata

John Douglas, que inspirou o personagem Holden Ford de Mindhunter, viajou para Atlanta no início de 1981. Ele analisou os arquivos do caso e também recorreu a entrevistas previamente conduzidas com 25 serial killers e assassinos em massa. Assim como retratado na série, o agente acreditava que o assassino era uma pessoa negra, pois “uma pessoa branca não conseguiria perambular por aquela vizinhança sem levantar suspeitas”. 

O suspeito

No fim dos anos 1980, uma mudança no modus operandi do criminoso levou a uma descoberta importante. Os corpos das vítimas, que até então eram encontrados em terrenos secos, começaram a surgir próximos a rios. Os profilers do FBI acreditavam que o assassino queria “lavar” melhor as evidências, uma vez que a polícia costumava encontrar muitas fibras de carpete e pelos de cachorro nos corpos das vítimas.

O agente do FBI Mike McComas sugeriu que fossem mapeadas pontes ao longo dos rios, o que levou a uma dúzia de pontes naquela região. Uma dessas pontes levou a investigação a Wayne Williams, que foi abordado pelos policiais após eles terem ouvido um barulho suspeito na água na manhã de 22 de maio.

wayne williams

O homem de 23 anos negou qualquer envolvimento com o caso, alegando que ele era um caça-talentos tentando encontrar uma cantora chamada Cheryl Johnson, cuja existência nunca pode ser verificada. Dois dias depois, o corpo asfixiado de Nathaniel Cater, de 27 anos, foi encontrado próximo ao local onde Williams foi abordado. Em junho, a polícia ligou fibras verdes encontradas na casa dele a um dos assassinatos. 

Williams realmente era um olheiro musical, que estava em busca do “próximo Michael Jackson”, ou seja, ele poderia muito bem ter tido contato com meninos na faixa etária das vítimas. Em 21 de junho ele foi preso pelos assassinatos de Cater e de Jimmy Ray Payne, de 22 anos.

Teria o FBI pego o homem certo ou apenas encontraram alguém que se encaixava no perfil criado por John Douglas? Para piorar, na época o próprio Douglas disse à imprensa que Williams se encaixava em uma boa quantidade dos casos — declaração que lhe rendeu uma repreendida pelo FBI. 

john douglas

Williams continuou negando qualquer conexão com os assassinados e defendendo sua inocência durante um julgamento que atraiu muita atenção em janeiro de 1982. A promotoria sustentou seu caso com base no “grande número de fibras da casa e carro de Williams”. Apesar da apresentação de evidências de outros crimes, o réu estava sendo apenas julgado pelos assassinatos de Cater e Payne.

O julgamento acabou com a condenação de Williams no dia 27 de fevereiro, rendendo-lhe duas prisões perpétuas consecutivas. Pouco tempo depois, os investigadores atribuíram a Williams a maioria dos casos de assassinatos não solucionados. 

O caso é reaberto

Engana-se quem pensa que essa história terminou por aqui. Nas décadas após o julgamento, a controvérsia em torno da condenação e a convicção popular de que Williams não era culpado pelos assassinatos das crianças aumentou consideravelmente — até mesmo familiares das vítimas defendiam sua inocência.

wayne williams

Nenhum suspeito chegou a ser acusado de qualquer um dos assassinatos das crianças — lembrando que Cater e Payne, do caso de Williams, eram adultos. 

Cinco dos casos foram oficialmente reabertos em 2005, incluindo a morte de Aaron Wyche, mas tais investigações foram descontinuadas em 2006. Em 2010 a CNN fez uma entrevista com Williams, que continua defendendo sua inocência. Em 2019 a polícia de Atlanta anunciou que iria testar novamente evidências do caso, e além: a investigação abrange um período de 1970 a 1985, quando 157 crianças foram assassinadas.

Wayne Williams permanece preso. Centenas de assassinatos de crianças em Atlanta entre os anos 1970 e 1980 permanecem sem solução.

LEIA TAMBÉM: 8 Curiosidades sobre Toni Cade Bambara

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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