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O controverso papel da mídia no caso Jeffrey Dahmer

Entenda como ela continua influenciando até hoje

06/08/2025

Era tarde da noite do dia 22 de julho de 1991 quando uma unidade de patrulha do Departamento de Polícia de Milwaukee avistou um homem parcialmente vestido, com uma algema pendurada em um de seus pulsos, caminhando pelos arredores de um prédio na North 25th Street. Seu nome era Tracy Edwards e quando questionado ele relatou que havia sido ameaçado com uma faca dentro daquele mesmo lugar, direcionando os policiais para o apartamento onde tudo tinha acontecido. 

LEIA TAMBÉM: A psicologia por trás de Jeffrey Dahmer

Chegando lá, a polícia descobriu um cenário que muito bem poderia ter saído de um filme de terror. Infestado de moscas e com as paredes revestidas com fotografias chocantes, o apartamento escondia inúmeras partes de corpos humanos, as quais pertenciam a múltiplas vítimas. Desconcertados, os policiais encontraram todo tipo de evidência, desde restos mortais humanos até as ferramentas utilizadas para torturar e desmembrar as vítimas. Prestes a se tornar um dos serial killers mais infames da história dos Estados Unidos, o morador do apartamento, um homem de 31 anos, foi preso. 

Não demorou para que o nome de Jeffrey Lionel Dahmer chegasse às manchetes dos jornais e fosse pronunciado repetidamente pelos noticiários da televisão. Logo após a sua prisão, Dahmer confessou ter cometido dezessete assassinatos entre 1978 e 1991. Desafiando a compreensão humana, o caso foi tomando rumos cada vez mais sombrios, envolvendo necrofilia, canibalismo e tentativas de criar “zumbis” a partir de suas vítimas. A brutalidade da história de Dahmer não apenas chocou o mundo, mas a transformou em um dos capítulos mais perturbadores do true crime

Jeffrey Dahmer

Agora, o caso é desvendado em sua forma mais completa em Jeffrey Dahmer: Canibal Americano, livro da coleção Arquivos Monstros Reais da DarkSide® Books. Escrita por Daniel Cruz – autor de Anjos Cruéis e criador do site OAV –, a obra oferece uma análise aprofundada da história de Dahmer, cobrindo desde a sua infância conturbada até o julgamento que chocou a sociedade estadunidense. Acompanhado de materiais complementares, Jeffrey Dahmer: Canibal Americano não oferece apenas um panorama minucioso dos eventos, como também revela as complexas nuances que os rodeiam, explorando como questões como negligência, preconceito e silêncio permitiram que Dahmer permanecesse invisível por tanto tempo. 

É claro que essa invisibilidade terminou assim que a polícia entrou em seu apartamento, despertando um frenesi midiático que repercute até os dias atuais. Entenda um pouco mais sobre o papel da mídia na cobertura do caso do “Canibal de Milwaukee”. 

Um frenesi midiático: acompanhando o caso Dahmer

Jeffrey Dahmer

Após a descoberta dos corpos, não demorou para que o caso se tornasse manchete nacional. Nem 48h haviam se passado quando no dia 24, por exemplo, o jornal diário USA Today noticiou com detalhes o que havia sido encontrado no local do crime em uma manchete intitulada “Pesadelo em Milwaukee”. Quase que instantaneamente, Jeffrey Dahmer foi divulgado como o responsável por tais atrocidades, o que tornou seu nome conhecido por todo o país.

Desde o início, a cobertura midiática do caso foi extensa, moldando a percepção pública sobre o assassino e suas vítimas. Se por um lado, a mídia ajudou a divulgar o caso, chamando a atenção do público para a negligência policial e expondo falhas institucionais, por outro, também assumiu um papel controverso, o qual gerou debates sobre ética jornalística, exploração do sofrimento, racismo e homofobia. 

Jeffrey Dahmer

A questão é que a imprensa, em sua grande maioria, optou por abordar o caso com um tom sensacionalista, o transformando em uma grande espetáculo que visava o aumento das vendas de jornais e os altos índices de audiência televisiva. Buscando o elemento do choque e incitando a curiosidade mórbida, inúmeros veículos midiáticos exploraram exaustivamente os detalhes gráficos dos crimes de Jeffrey Dahmer, centrando suas histórias em questões grotescas como canibalismo e necrofilia. Manchetes sensacionalistas e reportagens apelativas tornaram-se mais do que frequentes, realçando a natureza monstruosa do caso e explorando o horror como espetáculo. Enquanto isso aumentava o interesse do público pelo caso, também era explorado o sofrimento das vítimas e de suas famílias, que eram expostas e obrigadas a reviver traumas e informações dolorosas.

Outro ponto muito importante foi como muitos veículos de comunicação transformaram Dahmer em uma espécie de celebridade macabra, contribuindo imensamente para a fetichização da figura do serial killer. Diversas reportagens e programas de televisão, por exemplo, passaram a focar unicamente na mente perturbada e no passado problemático do assassino, contribuindo para uma narrativa que tendia a apagar e desumanizar as vítimas – encaradas como coadjuvantes em suas próprias histórias e utilizadas como “pontos de discussão” pela imprensa. 

Dahmer

Nesse sentido, a mídia foi bastante criticada pelo descuido e indiferença em relação a essas vítimas. Se, por um lado, a cobertura expôs falhas graves das autoridades, principalmente em relação à ocasião em que Konerak Sinthasomphone conseguiu escapar de Dahmer e foi “devolvido” pela polícia, por outro, minimizou aspectos cruciais do caso, como o fato de a maioria das vítimas de Dahmer ser composta por homens negros e latinos, pertencentes a comunidades marginalizadas, como a cena LGBTQIA+. Ao não questionar o descaso inicial das instituições com essas pessoas e ao focar apenas no nome de Dahmer, a mídia acabou, de certa forma, perpetuando a invisibilidade das vítimas. Posteriormente, a falta de atenção a esses homens, que tiveram suas vidas brutalmente ceifadas, levantou a reflexão sobre como seria a cobertura midiática caso eles fossem brancos e heterossexuais. Isso, por sua vez, expôs como diferentes grupos sociais são tratados em situações de violência, trazendo novamente à tona o problema sistêmico do racismo e da homofobia.

O julgamento

Antes mesmo do julgamento de Dahmer começar em 1992, a imprensa já havia se deslocado para Milwaukee para cobrir qualquer assunto relacionado ao caso. Estima-se que a cidade recebeu mais de 450 jornalistas na época, os quais produziram um alto volume de notícias e conteúdos com uma rapidez impressionante. A revista New York Times, por exemplo, passou dez dias consecutivos abordando o caso com artigos que ocupavam mais de meia página de suas edições. 

Jeffrey Dahmer

A cobertura continuou durante o julgamento, que começou oficialmente em 30 de janeiro de 1992. O evento coincidiu com a popularização dos noticiários de 24 horas, de forma que as emissoras de televisão estavam constantemente à procura de notícias e o julgamento de um assassino em série era simplesmente uma oportunidade imperdível. Sendo assim, jornalistas lotaram o tribunal esperando em filas para conseguir assentos na sala ou chegar o mais perto possível do local. 

O interesse da imprensa não terminou com a condenação de Dahmer a 957 anos de prisão. O serial killer voltou a ser assunto de manchetes e reportagens em novembro de 1994, quando foi brutalmente morto por outro detento que cumpria pena na mesma prisão de segurança máxima, em Wisconsin. Além de fornecerem detalhes gráficos da morte, diversos jornais comemoraram a “morte do monstro”.

Jeffrey Dahmer

A abordagem do true crime

Na época, a mídia desempenhou um papel bastante complexo na divulgação do caso Dahmer, ajudando a alimentar um fascínio crescente por assassinos em séries. Ao mesmo tempo em que informou o público sobre crimes terríveis, despertando a mobilização comunitária, a imprensa também cometeu sérios deslizes éticos, explorando a tragédia e o sofrimento como espetáculo, negligenciando as vítimas, deixando de lado questões como racismo e homofobia e contribuindo para uma cobertura que visava mais o entretenimento do que a justiça. 

De uns anos para cá, o caso de Dahmer passou a ser revisitado em diversas produções de true crime, como documentários, minisséries e podcasts. Enquanto algumas obras se esforçam para focar nas vítimas e no impacto dos crimes, abordando as dimensões sociais do caso, outras continuam enveredando por narrativas que exploram o sensacionalismo e o trauma alheio, muitas vezes vitimizando novamente as famílias e glamourizando o assassino. 

Dahmer

Mais recentemente, a minissérie Dahmer: Um Canibal Americano reacendeu discussões sobre o papel e a responsabilidade da mídia em abordar essas histórias. Muitas críticas apontaram que a produção de Ryan Murphy, protagonizada por Evan Peters, romantizou a figura de Jeffrey Dahmer, promovendo uma aparente justificativa para seus atos ao analisar seu passado e seus traumas, o que poderia levar os espectadores a simpatizarem com o assassino. Além disso, a minissérie foi bastante criticada por distorcer detalhes para efeito dramático e também por sua representação das vítimas. Um dos grande problemas foi que a produção não consultou as famílias das vítimas, explorando livremente suas histórias e trivializando seus traumas. A mãe de Tony Hughes, uma das 17 vítimas de Dahmer, foi uma que criticou abertamente a minissérie, apontando que se tratava de uma invasão de privacidade e do uso indevido do nome de seu filho. 

Desta forma, com a popularização das produções de true crime e dos conteúdos presentes em redes sociais, o caso está longe de sumir da opinião pública. No fim, o que devemos fazer é consumir estes conteúdos com responsabilidade e sensibilidade, lembrando que pessoas reais foram afetadas por estes crimes e tentando encontrar um equilíbrio entre o interesse público, o entretenimento ético e o respeito às vítimas. 

LEIA TAMBÉM: Daniel Cruz: “Não gosto de filmes e séries sobre casos reais”

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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