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A Demonologia e os exorcismos do mundo moderno

Prática tem se tornado popular dentro e fora do catolicismo

01/04/2022

Quando o assunto é exorcismo a primeira coisa que costuma vir à mente são as assustadoras cenas de filmes como O Exorcista ou Invocação do Mal. O tema parece muito distante da nossa realidade, remetendo a séculos ou pelo menos a décadas passadas. Porém, exorcismos têm se tornado cada vez mais populares, e o Brasil está contribuindo com esse crescimento.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: DICIONÁRIO DOS DEMÔNIOS DE M. BELANGER

A prática de expulsar demônios do corpo de alguém está intimamente ligada aos estudos da Demonologia, que pesquisa os tipos, histórias e classificação de demônios. Curiosos e entusiastas do ramo têm em Dicionário dos Demônios a mais completa publicação do assunto, reunindo mais de 1.700 verbetes, ensaios e artigos que revelam um panorama amplo sobre as crenças, práticas e eventos da Europa Ocidental que tiveram um impacto direto sobre a religião.

A Demonologia é uma área de conhecimento essencial para qualquer aspirante a exorcista e faz parte do currículo de cursos do Vaticano para os padres que quiserem praticar exorcismos. Ser um demonologista não significa necessariamente ser um exorcista, principalmente na Igreja Católica, que limita a prática aos clérigos. Porém, para poder expulsar demônios dos corpos de pessoas é necessário ter um amplo conhecimento em Demonologia — afinal, você precisa conhecer muito bem o inimigo que irá enfrentar.

O exorcismo além da Igreja Católica

Mas os católicos não são os detentores exclusivos de práticas exorcistas. Até mesmo porque elas existem muito antes da religião ter sido fundada, remontando a períodos pré-cristãos e sendo observada em culturas ao redor do mundo, antes mesmo de terem tido contato com colonizadores cristãos.

O crescimento da prática foi alavancado justamente fora da Igreja Católica nas últimas décadas. Segundo o Ph.D em estudos religiosos, R. Andrew Chesnut, um dos fatores mais importantes por trás da explosão de exorcismos são as igrejas neopentecostais, principalmente as que se propagam no hemisfério sul.

O estudioso aponta que esse movimento tem ganhado força desde os anos 1970 e atualmente o Brasil é o país com a maior população pentecostal no planeta. “Com ênfase nos espíritos, tanto o Espírito Santo como os demônios, o pentecostalismo é a ramificação do protestantismo que empurrou o exorcismo para o centro de sua prática nos anos 1970”, define.

Créditos: Gerald Farinas, Wikimedia Commons

O caso do Brasil merece ser estudado à parte, pois o país se tornou um dos maiores centros exorcistas do mundo. Isso porque muitos dos cultos neopentecostais acabam sendo televisionados, atingindo um número crescente de pessoas. 

LEIA TAMBÉM: O QUE É DEMONOLOGIA?

A Igreja Católica contra-ataca

Para poder competir com a dinâmica neopentecostal, principalmente na África e na América Latina, a Igreja Católica precisou reforçar sua munição contra o capiroto, preparando um verdadeiro exército de padres exorcistas. O papa Francisco reconhece e apoia a prática dentro do catolicismo, e em 2018 o Vaticano ministrou um workshop sobre exorcismo para 250 padres de todo o mundo.

Segundo religiosos, o reforço do exorcismo dentro da Igreja Católica é uma resposta aos anseios dos fiéis, que solicitam a assistência de exorcistas com mais frequência. O movimento ganhou força em 1999, quando o padre Gabriele Amorth, conhecido como principal exorcista do Vaticano, fundou a Associação Internacional dos Exorcistas, a mesma que organiza o curso oferecido atualmente pelo Vaticano.

Amorth tinha ligação com um movimento conhecido como Renovação Carismática, uma corrente do catolicismo que defende manifestações mais efusivas do que a missa tradicional, transformando a celebração em uma espécie de espetáculo mais animado, com músicas e coreografias. Segundo o historiador Philippe Delfino Sartin, o movimento foi uma resposta ao avanço das igrejas pentecostais, que popularizaram seus rituais de libertação, que se assemelham aos exorcismos católicos.

Nos Estados Unidos houve um significativo aumento no número de padres exorcistas. Segundo o reverendo Vincent Lampert, quando ele foi nomeado exorcista em 2005 havia aproximadamente uma dúzia de exorcistas em todo o país. Em 2019 esse número já havia aumentado para 175 e continua em crescimento.

A prática parece se tornar cada vez menos secreta também. Em 2020, dois arcebispos dos Estados Unidos, um em Portland e outro em São Francisco, realizaram exorcismos coletivos. Com procissões que atraíram um total de 800 pessoas, a ação pretendia exorcizar a comunidade, que nos últimos meses participava de intensos movimentos por igualdade racial — a maioria deles pacíficos, mas com alguns que culminaram em atos violentos.

Créditos: Jessica Christian/San Francisco Chronicle via AP

Exorcismo moderno: Não é para todo mundo

Enquanto os exorcismos neopentecostais costumam ser frequentes e performados diante de todos os fiéis — até mesmo para aqueles assistindo à TV —, a prática católica continua mais restrita. A profissionalização dos exorcistas passou por atualizações adequadas ao mundo moderno e até mesmo aos avanços científicos.

Um dos principais desafios dos exorcistas modernos é determinar se uma pessoa potencialmente possuída pelo diabo não estaria simplesmente sofrendo de problemas de saúde ou psicológicos que poderiam ser investigados por profissionais da saúde, como médicos e psicólogos. Essas avaliações frequentemente contam com a ajuda destes profissionais e de outros padres.

O protocolo do Vaticano determina que a Igreja oriente as pessoas a buscarem atendimento médico ou psicológico quando necessário. Porém, se a pessoa manifestar sinais entendidos pelos católicos como marcas do diabo, como força sobre-humana ou falar línguas desconhecidas pelo possuído, a batalha espiritual começa.

The Exorcist (1973)

Algumas características do exorcismo moderno são:

Existem dois tipos de exorcismos: o maior e o menor. O menor é feito como rotina, durante batizados. Já o maior envolve a expulsão de demônios e deve ser performado somente por um bispo ou padre, desde que tenha a permissão do bispo.

– Uma pessoa só será considerada apta a receber um exorcismo após passar por um extenso processo de investigação, incluindo testes médicos, psicológicos e psiquiátricos.

– Somente em certas circunstâncias um padre católico poderá performar um exorcismo em um cristão que não seja católico.

– Nos casos que envolverem a possessão demoníaca de um indivíduo, a identidade do exorcista deve ser mantida em segredo, ou no máximo restrita aos outros padres daquela diocese, para não expô-lo ao assédio da mídia e das pessoas.

– Quando a pessoa a ser exorcizada for uma mulher, deve haver pelo menos outra mulher presente durante o ato “pelo bem da correção e da discrição”.

– Dependendo do contexto, exorcismos podem ser realizados remotamente com o auxílio do telefone celular.

Mesmo com o crescimento da prática, o reverendo Vincent Lampert acredita que essa crença renovada de que demônios existem é positiva, só espera que isso não desvie o foco dos fiéis: “Os exorcistas têm esperança de que as pessoas foquem menos nos demônios e mais em Deus”.

LEIA TAMBÉM: “CRISTO FOI O PRIMEIRO EXORCISTA”, DIZ PADRE ESPECIALISTA EM EXORCISMOS

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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3 Comentários

  • Wanderson William

    20 de março de 2023 às 15:12

    Quero ser um exorcista!

  • Jacira Ferreira da Silva

    4 de setembro de 2023 às 12:28

    Quero ser uma exorcista

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