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A história da luta das mulheres por melhores condições de trabalho

Conheça movimentos ao longo da história que mudaram leis no mundo inteiro

07/03/2025

Em 1917, a U.S. Radium Corporation, companhia envolvida na extração e purificação de rádio, inaugurou sua primeira fábrica em Nova Jersey destinada à fabricação de relógios com mostradores semiluminosos. No início da década de 20, vieram outras fábricas: uma em Illinois e outra em Connecticut. Nessa expansão, foram contratadas centenas de trabalhadoras cuja tarefa era pintar manualmente os mostradores dos relógios iluminados por uma tinta feita de rádio.

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Naquela época ainda eram desconhecidos os efeitos colaterais causados pela substância brilhante recentemente descoberta por Marie e Pierre Curie. Vendido à exaustão e encarado como revolucionário, o rádio era a última moda e estava em farmácias, clínicas, mercearias, fábricas e até mesmo residências. Estava na composição de comprimidos, manteiga, cremes dentais, tônicos e até mesmo nos ponteiros dos relógios. Contudo, ninguém imaginava que o elemento milagroso era capaz de destruir o tecido humano e arruinar tantas vidas

Quando as trabalhadoras da U.S. Radium Corporation foram contratadas para pintar à mão os mostradores dos relógios, elas foram informadas de que a tinta era inofensiva, sendo instruídas então a lamber seus pincéis para pintar traços mais finos e otimizar seu tempo de trabalho. Os problemas surgiram quando essas mesmas mulheres adoeceram subitamente, desenvolvendo problemas como anemia, perda de dentes e cabelo, ossos quebrados, erosão espinhal e até mesmo necrose da mandíbula.

radium girls

Em 1924, cerca de 50 trabalhadoras estavam doentes e uma dúzia havia falecido. Quando seus empregadores ignoraram o que estava acontecendo, um grupo de jovens corajosas iniciou uma luta por justiça que mudou para sempre os direitos trabalhistas e a segurança no trabalho — salvando milhares de vidas pelo caminho.

Esse caso surpreendente é retratado em Radioativas: As Mulheres que Lutaram contra o Tempo. Recém-chegado na DarkSide® Books, o livro narra um dos maiores escândalos da história estadunidense do século XX, e que se tornou uma cativante batalha por justiça. No entanto, essas mulheres não foram as únicas a lutar por melhores condições de trabalho. Pelo contrário. Ao longo da história, diversas trabalhadoras se uniram para reivindicar seus direitos e lutar por um futuro melhor. Conheça um pouco mais sobre a história da luta das mulheres por melhores condições de trabalho.

radioativas

A entrada no mercado de trabalho

Desde muito cedo, as mulheres desempenham papéis importantes na luta por melhores condições de trabalho. Embora sejam frequentemente deixadas de lado por narrativas oficiais, as trabalhadoras atuaram de forma surpreendente para se organizar, sindicalizar, documentar e inspirar outras mulheres e homens a lutarem por seus direitos. Suas reivindicações variavam imensamente. Enquanto algumas defendiam melhores condições no local de trabalho, outras questionavam as jornadas diárias e exigiam igualdade salarial.

Algumas se uniam aos sindicatos, pedindo por salários melhores e maior segurança, saindo às ruas em greves e boicotes. Por outro lado, havia aquelas que lutavam em tribunais e salas de reunião, reivindicando mudanças nas leis. Frequentemente, todas essas lutas se conectavam à questões ainda maiores, relacionadas a racismo, sexismo e classicismo

Um dos marcos da entrada das mulheres no mercado de trabalho foi a Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII. Foi a partir desse momento que muitas trabalhadoras trocaram o trabalho doméstico e artesanal pelo ofício das fábricas. Mas nem tudo eram flores. Suas condições de trabalho eram precárias e seus salários eram significativamente menores do que os de seus companheiros homens. Um dos agravantes dessa situação era a falta de acesso ao ensino superior, o que excluía as mulheres das profissões de alta remuneração e status. No Brasil, por exemplo, as mulheres conquistaram o direito de ingressar em faculdades apenas em 1879.

greves revolução industrial

No século XX, elas passaram a ocupar ainda mais o mercado de trabalho, especialmente após as duas Guerras Mundiais, que fizeram com que substituíssem os lugares deixados pelos homens nas fábricas e outros recintos. No Brasil, a presença feminina se intensificou na década de 1930, principalmente após a Constituição de 34, que introduziu leis específicas para proteger e facilitar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho.

Lutas históricas

Desde os séculos XIX e XX as mulheres têm se articulado em movimentos sociais e feministas em busca por melhores condições de trabalho e direitos iguais, exigindo dignidade, respeito e espaço dentro de sindicatos e outras organizações. Era comum trabalhadoras serem deixadas de lados nesses ambientes, já que a maioria das lideranças masculinas sentia que mulheres deveriam estar em casa cuidando de suas famílias e não trabalhando.

Em 1900, foi fundado o International Ladies Garment Workers’ Union, o ILGWU, um dos maiores sindicatos de trabalhadoras dos Estados Unidos. O grupo representava centenas de milhares de mulheres que trabalhavam na indústria do vestuário, lutando por novas leis e realizando duas greves bem-sucedidas em 1909 e 1910.

ilgwu

Em 1909, por exemplo, 20 mil mulheres marcharam nas ruas pedindo por melhores condições, que incluíam jornadas de até 16h por dia. Apelidada como a Revolta das 20 mil, a greve é até hoje uma das maiores movimentações de mulheres da história dos Estados Unidos, transformando o sindicato da indústria do vestuário em um dos mais bem organizados do país.

Em 1903, ainda nos Estados Unidos, foi criada a Liga Nacional das Mulheres Sindicalizadas, que defendia melhores salários e condições de trabalho. A NWTUL, como ficou conhecida, desafiou a liderança masculina dos sindicatos e organizou várias greves bem-sucedidas, expondo os ambientes insalubres e o tratamento desumano dado às trabalhadoras, em sua maioria imigrantes, que eram submetidas a tarefas perigosas, difíceis e mal remuneradas. 

Em 1910, na cidade de Copenhague, na Dinamarca, ocorreu o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, onde Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão, propôs que fossem realizadas manifestações anuais pela igualdade de direitos. Zetkin era uma, entre várias outras mulheres, engajada com os direitos trabalhistas, sendo conhecida por reivindicar que o movimento operário prestasse mais atenção às mulheres trabalhadoras. Ela também ficou conhecida por ser uma das idealizadoras do Dia Internacional da Mulher.

clara zetkin

Entre tantas reivindicações, as condições insalubres de trabalho foram motivos frequentes de protestos por parte das trabalhadoras. Em setembro de 1910, dezesseis jovens mulheres saíram da fábrica de vestuário masculino Hart, Schaffner & Marx e iniciaram uma das maiores greves da história da cidade de Chicago. A greve se estendeu até fevereiro de 1911 e mobilizou cerca de 40 mil trabalhadores imigrantes, que reivindicavam discussões acerca dos baixos salários, inconstâncias no trabalho, altas cotas de produção e condições inseguras. Inicialmente, os sindicatos e outros trabalhadores ficaram relutantes em apoiar uma mobilização liderada por mulheres. Contudo, após cinco meses de negociações, os líderes conseguiram um acordo com os donos das fábricas e a greve se encerrou de forma bem-sucedida

Outro evento importante na luta das mulheres por melhores condições aconteceu na cidade de Nova York em 1911, quando um incêndio na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company vitimizou 125 mulheres e 21 homens. As causas foram justamente as péssimas condições do local, que incluía instalações elétricas sem manutenção, materiais inflamáveis, falta de extintores e falta de saídas de emergência de fácil acesso.

Aliado a isso, somou-se o fato de que muitas portas estavam trancadas a fim de evitar que as operárias roubassem materiais, fizessem pausas ou se organizassem em motins durante o expediente. O trágico acontecimento fortaleceu ainda mais o movimento operário, principalmente a reivindicação de direitos trabalhistas para as mulheres, assim como fez com que as trabalhadoras ganhassem um pouco mais de apoio de seus companheiros sindicalistas.

tirangle shirtwaist factory

Do outro lado do mundo, em 8 março de 1917 na Rússia, um grupo de operárias do setor de tecelagem saiu às ruas para protestar por melhores condições de trabalho e de vida. Essas trabalhadoras paralisaram suas funções e iniciaram uma greve histórica, reivindicando a ajuda dos operários metalúrgicos e de outros trabalhadores. Os eventos que se seguiram se tornaram um grande feito das mulheres operárias e são considerados como precursores da Revolução Bolchevique. Desta forma, tanto o incêndio na Triangle Shirtwaist Company quanto a greve das operárias russas foram associados simbolicamente ao que hoje comemoramos como o Dia Internacional da Mulher.  

Já em 1966, nos Estados Unidos, foi fundada a Organização Nacional para as Mulheres. Popularmente conhecida como NOW, o grupo feminista liderado por Betty Friedan e outras ativistas buscava acabar com a discriminação sexual em todos os âmbitos da vida, principalmente dentro de locais de trabalho, por meio de lobbies legislativos, litígios e manifestações públicas. Atualmente, a NOW tem mais de 500 mil membros e continua atuando dentro do sistema político em busca de igualdade constitucional, justiça econômica, direitos reprodutivos e outros tópicos.

Ainda nos Estados Unidos, em 1973 no estado de Massachusetts, um grupo de secretárias e auxiliares administrativas se organizaram para conquistar melhores salários, oportunidades e protestar contra o assédio sexual. Isso deu origem ao 9to5, National Association of Working Women, um movimento que visa melhorar as condições de trabalho de mulheres em diversos setores, garantindo seus direitos e formando sindicatos locais.

9to5

Nos Estados Unidos, por exemplo, a participação das mulheres na força de trabalho subiu de 33,9% em 1950 para 51,5% em 1980. Contudo, ao entrar no mercado de trabalho, a realidade era permeada por grandes desigualdades salariais, discriminação de gênero, discriminação na gravidez (a Lei de Discriminação na Gravidez só foi aprovada em 1978) e assédio sexual. 

Saindo de Boston, o 9to5 se expandiu para várias outras cidades, criando uma rede de apoio para mulheres no movimento trabalhista junto ao movimento de libertação das mulheres da época. Diversas manifestações e piquetes foram realizados em cidades como Chicago, Atlanta, Nova York, Seattle e São Francisco. No geral, as filiais locais da 9to5 organizavam as mulheres em torno de questões coletivas que impactavam seus locais de trabalho e realizavam campanhas direcionadas aos empregadores, visando a questões como promoções, oportunidades de contratação, benefícios de saúde, aumentos salariais e cuidados infantis. 

Dentro de tantos movimentos impactantes, há também o das trabalhadoras do McMaid, empresa que oferece serviços de limpeza e cuidados domiciliares. Em 1984, na cidade de Chicago, quatro mulheres negras, Irma Sherman, Doris Gould, Juanita Hill e Mary Williamson, sindicalizaram com sucesso diversas trabalhadoras do setor de limpeza doméstica e organizaram um dos maiores sindicatos dos Estados Unidos, dando início a uma associação composta predominantemente por mulheres negras da classe trabalhadora. Atualmente, o grupo, conhecido como Local 880, possui mais de 70 mil membros e mudou para sempre as condições das trabalhadoras de limpeza e organização doméstica do país.

mcmaid

Radioativas: a busca por justiça e melhores condições de trabalho 

É praticamente impossível falar da luta das mulheres por melhores condições de trabalho sem mencionar o caso das garotas do rádio presente em Radioativas: As Mulheres que Lutaram Contra o Tempo. A saga dessas jovens ocupa um lugar crucial tanto na história dos direitos trabalhistas quanto na história da segurança no trabalho, além de ter sido crucial para os estudos científicos acerca do poder destrutivo do rádio

Desde 1927, as funcionárias da U.S. Radium Corporation começaram a pedir compensação por suas contas médicas e odontológicas. Após serem ignoradas e verem suas colegas terem seus pedidos recusados pela administração, cinco trabalhadoras recorreram judicialmente, iniciando assim uma longa batalha por justiça que em 1938 decidiu a favor dessas mulheres.

O caso das Radium Girls, como ficaram conhecidas, estabeleceu o direito de trabalhadores individuais processarem corporações por danos causados por condições insalubres de trabalho, influenciando também a criação de leis voltadas para doenças profissionais, ou seja, condições que trabalhadores desenvolvem a partir do exercício de determinada atividade laboral.  Além de tudo isso, o caso também foi responsável por aprimorar os padrões de segurança industrial ao longo das décadas

radium girls

LEIA TAMBÉM: Radium Girls: Conheça o filme sobre a história de Radioativas

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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