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As muitas faces de Alice no País das Maravilhas

Venha com a Caveira nessa aventura através do tempo

15/05/2025

Publicado originalmente em 1865, Alice no País das Maravilhas é um clássico da literatura que há décadas vem despertando a imaginação de crianças e adultos. Escrita por Lewis Carroll, a história de Alice, uma menina curiosa que cai em uma toca de coelho e entra em um mundo de fantasia povoado por criaturas antropomórficas, conquistou leitores de todas as idades com seus personagens memoráveis, sua narrativa única e seu constante desafio à lógica. 

LEIA TAMBÉM: 6 Curiosidades macabras sobre Alice no País das Maravilhas

Considerada uma das obras mais famosas da literatura vitoriana, Alice no País das Maravilhas influenciou não apenas o gênero de fantasia ao longo dos anos, como também deixou uma marca duradoura na cultura pop. Traduzido para mais de 174 idiomas, o livro marca uma mudança na literatura infantil, encerrando uma era de didatismo e inaugurando outra em que as histórias possuíam o objetivo de divertir e deleitar. 

Um dos motivos que tornaram Alice no País das Maravilhas uma história tão popular é justamente sua capacidade de mudança, o que fez com que conseguisse ao longo dos anos dialogar com diferentes gerações e temporalidades. Muito disso vem da natureza fantástica da história, que permite uma certa liberdade para adaptações, reimaginações e homenagens. Embora tenha sido escrita na Inglaterra vitoriana, não existem indicadores específicos de temporalidade na narrativa, o que faz com que ela possa ser facilmente transportada para os séculos XX e XXI, fazendo com que um novo público se relacione continuamente com Alice e suas aventuras. 

alice no país das maravilhas

Essa atemporalidade permitiu que fosse criado uma espécie de Aliceverso, marcado por diferentes representações no cinema, na literatura e na cultura pop. Ficou interessado nesse multiverso? Então passe pela toca do coelho e venha com a Caveira nessa aventura que desafia a lógica e o tempo. 

O início do Aliceverso

A primeira edição de Alice no País das Maravilhas veio acompanhada por 42 ilustrações feitas pelo artista Sir John Tenniel. Aqui, Alice é imaginada em um vestido, avental e meias típicas da era Vitoriana. A representação feita por Tenniel se tornou o padrão durante o restante do século XIX, influenciando a primeira adaptação teatral da obra, a qual estreou no Teatro Prince of Wales em Londres no dia 23 de dezembro de 1886. Para o DarkSider que não abre mão de um clássico, as ilustrações de Tenniel aparecem na Edição Clássica publicada pela Caveira, a qual integra a marca Fábulas Dark.

alice

Com a virada do século, outros ilustradores reimaginaram a história e sua protagonista. Em 1907, a artista americana Bessie Gutmann criou uma nova versão para a personagem, que aparece usando um vestido branco com gola alta e um cabelo castanho adornado com uma flor. A Alice de Gutmann é uma criança vivendo em um mundo infantil e os personagens do livro são ilustrados majoritariamente de forma realista, sendo amigáveis e inofensivos. 

Um pouco antes disso, em 1903, Alice no País das Maravilhas teve sua primeira adaptação cinematográfica, dirigida por Cecil M. Hepworth e Percy Stow. O curta-metragem mudo possuía originalmente 12 minutos e se tornou memorável pelo uso de efeitos especiais, especialmente pelo encolhimento de Alice na Sala das Muitas Portas. Apesar disso, apenas uma cópia do filme original sobreviveu ao tempo, com algumas partes sendo perdidas para sempre. Em 2010, o British Film Institute restaurou o curta, o qual foi disponibilizado com 9 minutos e 35 segundos de duração. 

Já na década de 1920, Alice ganhou ares de “melindrosa esportiva”. Em 1929, o ilustrador Willy Pogany representou a personagem com um pouco mais de idade do que as ilustrações anteriores, trajando uma saia curta xadrez, gravata no pescoço e ostentando um cabelo curto que ressoava com a moda da Era do Jazz. 

alice

Alice e seus primeiros passos no cinema

Em 1931, Alice ganhou sua primeira versão sonora nos cinemas. Dirigido por Bud Pollard, Alice no País das Maravilhas foi a primeira adaptação a empregar a linguagem icônica escrita por Lewis Carroll, oferecendo aos espectadores a chance de escutar os diálogos originais criados pelo autor. Com cerca de uma hora de duração, o filme foi estrelado por Ruth Gilbert como Alice e Leslie King como o Chapeleiro Maluco.  

Dois anos depois, em 1933, o livro foi adaptado novamente para as telonas, dessa vez como uma grande produção da Paramount Pictures. Dirigido por Norman Z. McLeod, Alice no País das Maravilhas contou com um elenco renomado, composto por W.C. Fields, Richard Arlen, Gary Cooper, Cary Grant, Edna May Oliver e diversos outros nomes famosos. Embora seja voltada para o público infantil, a adaptação é frequentemente listada como uma das versões mais assustadoras da obra, marcada por imagens distorcidas, interpretações catastróficas de alguns eventos e figurinos horripilantes. 

alice 1933

Ao final da década de 1940, em 1949, uma produção francesa dirigida por Dallas Bower trouxe a atriz Carol Marsh, na época com 20 anos, como Alice. Inspirado em filmes como O Mágico de Oz, o filme foi dividido entre cenas na Inglaterra e cenas no País das Maravilhas com vários personagens tendo suas contrapartes no mundo mágico. Apesar disso, a maioria dos personagens presentes no País das Maravilhas foram retratados por marionetes animadas em stop motion, com os respectivos atores fornecendo suas vozes. 

A Alice da Disney

Pulando para os anos 1950, Alice no País das Maravilhas ganhou uma de suas versões mais icônicas pelas mãos da Walt Disney Company. Embora tenha sido lançado em 1951, o filme estava nos planos desde a década de 1930, sendo originalmente concebido como um live-action. Contudo, eventos como o lançamento da versão da Paramount e questões econômicas, levaram ao adiamento do projeto, que começou a se tornar realidade em 1946, transformado em um longa-metragem totalmente animado. 

alice

Na animação, que omite diversas sequências presentes na obra, Alice é representada em um vestido azul, avental branco, sapatos Mary Jane e uma fita preta em seus cabelos loiros. Muito semelhante à ilustração feita por John Tenniel, a Alice da Disney se tornou uma das mais famosas dentro do Aliceverso, influenciando imensamente as representações que vieram depois. Apesar de atualmente ser considerado uma das melhores animações já feitas pela Disney, o filme foi um fracasso nas bilheterias, alcançando fama apenas em seu relançamento na década de 1970.  

Embalos dos anos 1970

Falando em anos 1970, durante esse período, Alice ganhou algumas adições bastante peculiares ao Aliceverso. Em uma nova edição do livro de Carroll, a personagem apareceu mais velha com um minivestido rosa e um penteado bufante à lá Brigitte Bardot. Em outra, ela ganhou um visual setentista hippie com um vestido floral e cabelos longos e lisos. Nos cinemas, As Aventuras da Alice no País das Maravilhas adaptou tanto o clássico de 1865 quanto sua sequência de 1871, Alice Através do Espelho. O musical britânico que trouxe Fiona Fullerton como Alice e Michael Crawford, posteriormente conhecido por originar o papel principal de O Fantasma da Ópera nos palcos musicais, como o Coelho Branco. 

alice

Já em 1977, um filme francês dirigido por Claude Chabrol se inspirou em Alice no País das Maravilhas para contar uma história de fantasia sombria estrelada por Sylvia Kristel. Em Alice ou A Última Fuga, a protagonista (nomeada Alice Carroll) é forçada a passar a noite em uma antiga mansão após seu carro misteriosamente estragar durante a viagem. No entanto, logo ela percebe que se encontra em uma espécie de realidade paralela povoada por personagens estranhos e descobertas bizarras que parecem desafiar a essencialidade da vida. 

Anos 80 e 90: entre animes e fantasias sombrias

Em 1983, Alice ganhou uma versão em anime produzida pelo estúdio de animação japonês Nippon Animation. Exibido entre março de 1983 e outubro de 1984, o anime contou com 52 episódios e é creditado por popularizar a história em outras partes do mundo, sendo bastante conhecido nas Filipinas e em países de língua árabe. Dois anos depois, em 1985, a emissora americana CBS exibiu uma minissérie em duas partes adaptando o clássico de Lewis Carroll. Protagonizada pela pequena Natalie Gregory, a minissérie contou com a participação da lendária Carol Channing como a Rainha Branca e foi produzida por Irwin Allen, conhecido como o “mestre do desastre” por seu envolvimento em filmes-catástrofe como O Destino de Poseidon e Inferno na Torre

alice anime

Em 1988, Alice no País das Maravilhas recebeu sua versão mais surrealista, frequentemente considerada uma das mais reimaginações mais assustadoras da história. Escrito e dirigido pelo cineasta tcheco Jan Svankmajer, A Viagem de Alice combina live-action com animação stop motion para criar um mundo sombrio que de maravilhoso não tem nada. Desapontado com outras adaptações, que interpretavam a história como um conto de fadas, Svankmajer decidiu tornar seu filme um pesadelo amoral. Aqui, Alice é uma garotinha confusa que parece aprisionada em um estado imperceptível de realidade, precisando encontrar uma saída para esse pesadelo rodeado por objetos inanimados, animais empalhados e criaturas bizarras. 

Pulando mais uma década, em 1999, Alice no País das Maravilhas retornou para um ambiente mais infantil com um telefilme produzido pela Hallmark Entertainment e exibido pela emissora americana NBC. Ganhando quatro prêmios Emmy, o filme chamou atenção pela presença de atores famosos no elenco, como Ben Kingsley, Whoopi Goldberg, Christopher Lloyd e Gene Wilder.

alice 1999

A Alice de Tim Burton

Entrando no século XXI, uma das mais recentes adições ao Aliceverso foi feita pela perspectiva do diretor Tim Burton em 2010. Protagonizada por Mia Wasikowska, Alice é uma jovem de 19 anos que tenta escapar de uma proposta de casamento indesejada e do mundo asfixiante da etiqueta social. Durante sua fuga, ela retorna ao mundo dos seus sonhos de infância, reencontrando antigos amigos como o Chapeleiro Louco e descobrindo que está destinada a acabar com o reinado tirânico da Rainha Vermelha. 

Ostentando um elenco de estrelas, Alice no País das Maravilhas combinou elementos live-action, CGI e o estilo macabro e expressionista de Tim Burton para reimaginar a história de Carroll, se passando 13 anos após os eventos originais e marcando o retorno de Alice ao mundo mágico do País das Maravilhas. Com elementos sombrios, o filme chamou a atenção pelo visual perturbador de muitos personagens, como as características exageradas do Chapeleiro Louco e da Rainha Vermelha, e também pela distorção inquietante de seus cenários, que mergulharam os espectadores em um pesadelo maravilhoso. 

alice chapeleiro louco

O filme foi um sucesso tão grande que em 2016, uma continuação adaptando Alice Através do Espelho foi lançada, com grande parte do elenco original retornando. Além disso, a nova versão também inspirou outras produções baseadas na história, como a série Era uma Vez no País das Maravilhas, um spin-off de Era Uma Vez que acompanhou as aventuras de uma garota chamada Alice em um mundo fantástico. 

Já no mundo literário, em 2015, Alice no País das Maravilhas ganhou uma edição comemorativa dos 150 anos de sua primeira publicação. As ilustrações ficaram sob responsabilidade do artista francês Benjamin Lacombe, conhecido como uma das faces da “nova ilustração francesa”. Aqui, a obra de Carroll ganhou contornos de uma fantasia barroca com Lacombe utilizando diferentes técnicas, como guache, óleo e aquarela, para criar uma dimensão surrealista e subversiva da história. 

alice

O lado assustador do Aliceverso

Com o passar dos anos, Alice no País das Maravilhas ganhou algumas versões bastante perturbadoras. Em 2009, por exemplo, Malice in Wonderland trouxe a história de uma estudante universitária que, após ser atropelada por um táxi no centro de Londres, acorda com amnésia em um mundo surreal povoado por indivíduos bizarros e perigosos. 

No mesmo ano, o canal americano Syfy produziu uma minissérie dividida em duas partes intitulada Alice e o Novo País das Maravilhas, a qual reimagina a história clássica e a encena 150 anos mais tarde, mesclando ficção científica e fantasia. Com nomes famosos como Kathy Bates, Harry Dean Stanton, Caterina Scorsone e Tim Curry, a série acompanha Alice, uma instrutora de judô, que segue seu namorado após ele ser sequestrado e levado para o país das maravilhas. Já em 2014, Red Kingdom Rising, um filme independente roteirizado e dirigido por Navin Dev, entregou uma versão arrepiante e bastante particular do livro. No longa, Mary Ann é uma jovem professora traumatizada por memórias reprimidas. Constantemente sonhando com um lugar chamado O Reino Vermelho, ela segue o conselho de sua amiga de infância e decide voltar para a casa onde cresceu, descobrindo a fonte de seus sonhos perturbadores. 

malice

Achou que o Aliceverso se resumia a filmes, séries de televisão e livros? Calma, que ele também se estende ao mundo dos videogames! American McGee’s Alice, por exemplo, é um jogo eletrônico desenvolvido pela Rogue Entertainment e lançado pela Electronic Arts, que apresenta uma versão violenta e bastante cruel da história. Lançado em 2000, o jogo traz Alice como uma jovem traumatizada pela perda de sua família anos antes. Internada em um hospital psiquiátrico, ela retorna para o país das maravilhas, o qual se mostra um local atormentado por sua psique fragilizada. Em 2011, American McGee’s Alice ganhou uma sequência intitulada Alice: Madness Returns, a qual é tão perturbadora quanto seu antecessor. 

alice

Inclusive, foi justamente pensando nesse lado bizarro do clássico de Lewis Carroll, que a Caveira lançou em parceria com a Wish a edição Pesadelo de Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, uma versão única dessas duas obras que traz ilustrações sombrias de Caroline Murta. 

O futuro do Aliceverso

O sucesso contínuo de Alice no País das Maravilhas tem muito relação com sua capacidade de permanecer relevante perante novas gerações. Por não estar enraizada em nenhuma temporalidade em particular, a história consegue mudar seu estilo e transitar entre diferentes gêneros, mostrando que sempre existem novas maneiras de experimentar esse clássico da literatura. 

Mais recentemente, por exemplo, o Japão anunciou a produção do anime Dive in Wonderland, uma nova abordagem da história, a qual será ambientada no mundo moderno e trará os personagens clássicos ao lado de tecnologias recentes, como smartphones e tablets. Já no mundo do terror, os produtores de Ursinho Pooh: Sangue e Mel, conhecidos pelo universo aterrorizante composto por alguns de nossos personagens favoritos da infância, anunciaram Alice the Mad, uma versão alucinante e sangrenta da história de Lewis Carroll. 

Dive in Wonderland

No fim, o Aliceverso reafirma a relevância duradoura de Alice no País das Maravilhas.  Um clássico imortal, a obra conquistou o coração de gerações de fãs e encontrou um lugar cativo na cultura pop, explorando questões como identidade, crescimento e a transição da infância para a vida adulta. Sua narrativa rica em simbolismos e sua profundidade psicológica, ofereceram múltiplas formas de adaptação, interpretação e reimaginação, rendendo um universo povoado pelos mais diferentes tipos de obras, as quais nos mostram que a história original não apenas sobreviveu à passagem do tempo, mas cresceu e se consolidou com ele.

LEIA TAMBÉM: Como Alice no País das Maravilhas influenciou a cultura pop

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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