O sentimento de ser o deslocado do grupo de colegas do colégio foi o gatilho que levou Bruno Ribeiro a escrever. Nascido em 1989 em Minas Gerais, mas Radicado na Paraíba, o escritor que também tem experiência com tradução e roteiro é o vencedor do 1º Prêmio Machado Darkside na categoria Romance/Conto. Ele é mestre em Escrita Criativa pela Universidad Nacional de Tres de Febrero e editor da Revista Sexus.
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A obra vencedora de Ribeiro é Porco de Raça, uma distopia humana, sombria, visceral, potente, violenta e repleta de horror, do jeito que os fãs da Caveira gostam. A narrativa acompanha um professor negro, falido, preso a uma cadeia de acontecimentos inescapáveis que o levam a uma jornada rumo à própria degradação física. Em sua obra, o escritor funde e distorce gêneros que vão da ficção pulp ao revisionismo histórico, orquestrando um enredo que une entretenimento a uma dura crítica social.
Em entrevista ao DarkBlog, Bruno Ribeiro compartilha um pouco de sua trajetória e a escolha de sua obra para o Prêmio Machado. O escritor ainda conta um pouco do que os leitores podem esperar de Porco de Raça.
DarkSide: Como o sonho de ser escritor começou para você?
Bruno Ribeiro: Sempre tive um interesse genuíno pelo mundo das artes e comecei a escrever cedo, lá pelos meus 16 anos. Iniciei fazendo quadrinhos, mas logo percebi que não curtia desenhar e sim escrever. Gosto de falar que coloquei as primeiras palavras na página em branco depois de não ter sido convidado para uma festa dos meus colegas do colégio! Brincadeiras à parte, me sentia deslocado na adolescência e passei por vários problemas nesse período, incluindo casos de bullying. Então, isso de me sentir um corpo estranho nos lugares foi o que serviu de gatilho para eu mergulhar no sonho de ser escritor e buscar transformar esse desejo em algo concreto, que atravessasse a minha vida adulta.
D: De onde surgiu a inspiração para escrever a obra Porco de Raça?
BR: Sempre tive que correr atrás da tal inspiração e as ideias para os meus livros nunca surgem de uma vez só, elas chegam em fragmentos. Geralmente, através de imagens, pois sou muito visual. Em Porco de Raça, a primeira imagem que veio foi a de um homem ferido com uma máscara de porco, depois o visualizei em um ringue e me perguntei: “O que esse cara está fazendo neste ringue?”. A partir disso fui construindo esse personagem kafkiano, sua vida, família, amores, motivações, conflitos, traumas, e quando me dei conta a ideia do romance foi se solidificando. O ponto final para fechar o tema do livro foi quando me dei conta de que esse homem ferido com uma máscara de porco poderia ser eu ou pessoas próximas de mim.
D: Como foi o processo de criação da obra? Ela já estava pronta ou foi algo que surgiu aos poucos com o prêmio?
BR: O romance se chamava Porco Sucio e eu o terminei em 2014. Passei para amigos de confiança lerem, eles acharam ruim e fizeram várias críticas. Deixei o livro descansando e retornei a ele em 2017, quando reescrevi tudo, mudei o título (foi de Lute, Porco a Porco mergulhado em amônio) e o transformei basicamente em outro livro. Desde então, mexi pouco nele, mudando uma coisa ou outra e fazendo anotações, pois o meu processo criativo envolve anotar ideias em cadernos. Foi agora, em 2020, que eu decidi retomá-lo a sério. O anúncio do prêmio me incentivou também a concluí-lo de vez: reescrevi mais coisas, incluí um capítulo e finalmente cheguei ao título Porco de Raça.
D: Em Porco de Raça você funde e distorce vários gêneros e subgêneros — da ficção pulp ao revisionismo histórico. O que os leitores da DarkSide® podem esperar dessa obra?
BR: Sim, adoro fundir e brincar com os gêneros, eles são pontos de partida para eu experimentar com as diversas regras e possibilidades geradas. Em Porco de Raça, os leitores da DarkSide® podem esperar uma obra provocadora na linguagem e na trama, que lida com temas urgentes, como o preconceito racial e a desigualdade, de forma surreal, aterrorizante e transgressora, sem amaciar para ninguém, pelo contrário. O livro também fala de mim e dos meus, dos atos racistas que sofremos e dos traumas que insistem em permanecer. Fora isso, os livros que eu admiro são aqueles corajosos, ambíguos, que colocam o dedo na ferida e permitem uma pluralidade de leituras e entendimentos. Então, pra finalizar, o pessoal pode esperar um romance que irá gerar mais perguntas do que respostas.
D: Quais autores inspiraram vocês no processo de escrita da obra e como eles continuam te inspirando?
BR: O livro Esaú e Jacó, do Machado de Assis, foi uma baita inspiração. No meu romance, eu conto a história de dois irmãos que dialogam bastante com os gêmeos Pedro e Paulo do Machado. Irmãos com ideologias diferentes e visões de mundo contrárias, vivendo em um país em transe. Porco de Raça é um Esaú e Jacó da deep web. Fora essa obra, me inspirei bastante no Franz Kafka, Toni Morrison, Colson Whitehead, Lima Barreto, Cruz e Souza, Mary Shelley, Clive Barker, Ana Paula Maia, o blues do Robert Johnson, o rap do Sabotage e dos Racionais MCs e o cinema do David Lynch. Esses artistas continuam me inspirando pela verdade e inventividade das suas produções. O Machado de Assis mesmo é um escritor que está sempre na minha cabeceira.
D: Como foi receber a notícia que tinha vencido o Prêmio Machado?
BR: É o tipo de notícia que muda a sua vida. Eu sempre amei a DarkSide® e ter a possibilidade de publicar nesta editora que combina tanto com o que eu produzo, é algo que me deixa com o coração na garganta. Quando eu recebi a notícia, liguei para os meus pais, pois eles sempre me deram apoio para continuar escrevendo. Depois, contei para a minha noiva e alguns amigos. Em seguida, abri uma cerveja, deitei na rede da varanda, e fiquei esperando a ficha cair (até agora ela não caiu, mas uma hora cai).
D: Qual a importância de projetos como o Prêmio Machado para o incentivo à literatura brasileira?
BR: É um projeto importantíssimo para a literatura do país. Sabemos das dificuldades para se produzir arte no Brasil e o Prêmio Machado DarkSide é um incentivo para continuarmos desenvolvendo as nossas ideias. Eu vivo do entorno literário, através de aulas de escrita criativa e traduções, então esse prêmio significa um gás extra para eu continuar tendo tempo para escrever. E tempo é algo valioso para nós escritores.
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21 Comentários
Ozéias
24 de novembro de 2020 às 07:25
Ozéias
24 de novembro de 2020 às 07:25
Dos vencedores do prêmio, PORCO DE RAÇA, é o que mais aguardo! Estou na torcida para o prêmio se tornar uma tradição da editora.
Archidy de Noronha Picado Filho
24 de novembro de 2020 às 09:27
Archidy de Noronha Picado Filho
24 de novembro de 2020 às 09:27
Parabéns ao Bruno Ribeiro pelo prêmio, exemplo e incentivo para quem deseja se aventurar pelas possibilidades da Literatura.
Maria
25 de novembro de 2020 às 13:22
Maria
25 de novembro de 2020 às 13:22
Que entrevista bacana, quero muito ler esse livro.
DarkSide
25 de novembro de 2020 às 13:29
DarkSide
25 de novembro de 2020 às 13:29
Caveirinha está ansiosa pra que todos leiam!
Andre
3 de dezembro de 2020 às 12:19
Andre
3 de dezembro de 2020 às 12:19
Ansioso demais por isso! Espero que saia o quanto antes <3
Marcos
4 de dezembro de 2020 às 14:57
Marcos
4 de dezembro de 2020 às 14:57
MEU DEUS EU AMEEEEEEI JÁ QUERO!!!!!!!
Winston Martins
4 de dezembro de 2020 às 15:09
Winston Martins
4 de dezembro de 2020 às 15:09
Parabéns pela conquista!!! ✊? O livro será lançado pela Darkside?
L.F. d"Oliveira
4 de dezembro de 2020 às 15:18
L.F. d"Oliveira
4 de dezembro de 2020 às 15:18
Parabéns, Bruno Ribeiro! Muito sucesso com o livro
Stephany
4 de dezembro de 2020 às 15:37
Stephany
4 de dezembro de 2020 às 15:37
Aaah, que entrevista mais gostosa de ler! Obrigada por compartilhar mais do seu processo criativo, Bruno. Com certeza as suas palavras e a sua história servem de incentivo pra gente. Mal vejo a hora de ler esse livro. Obrigada, DarkSide, por sempre incentivar autores com tanto carinho! Sou fã da editora certa <3
andreia
4 de dezembro de 2020 às 19:10
andreia
4 de dezembro de 2020 às 19:10
me deixou com mais vontade de ler . e Parabéns
Eldes Ferreira
4 de dezembro de 2020 às 22:31
Eldes Ferreira
4 de dezembro de 2020 às 22:31
Eu também estou ansioso para ler este livro! Parabéns pela bela entrevista e pela premiação merecidíssima. SUCESSO!
Romildes
5 de dezembro de 2020 às 23:15
Romildes
5 de dezembro de 2020 às 23:15
Fiquei muito feliz em ler sua entrevista Bruno, parabéns e sucesso!
Stela Maris Baldissera
7 de dezembro de 2020 às 08:58
Stela Maris Baldissera
7 de dezembro de 2020 às 08:58
Participei pela categoria poemas, e fico feliz pela iniciativa da Darkside, espero este tipo de incentivo continue. Ansiosa pela leitura! Parabéns Bruno Ribeiro, pela obra e pela entrevista!!
DarkSide
7 de dezembro de 2020 às 10:34
DarkSide
7 de dezembro de 2020 às 10:34
Parabéns por ter participado! Em 2021 teremos mais.
Yzumi
9 de dezembro de 2020 às 18:44
Yzumi
9 de dezembro de 2020 às 18:44
Nossa! Eu adorei. Espero que não que vem tenha mais uma edição desse prêmio. Fico muito feliz pelo ganhador. Estou ansioso pra ler o livro dele
DarkSide
10 de dezembro de 2020 às 10:34
DarkSide
10 de dezembro de 2020 às 10:34
Caveirinha já anunciou que em 2021 teremos mais uma edição do Prêmio Machado sim, só não temos ainda a data confirmada.
Renato Almeida
15 de dezembro de 2020 às 14:25
Renato Almeida
15 de dezembro de 2020 às 14:25
Muuuuito ansioso para ler esse livro, a sinopse é FODA! Parabéns, Bruno!
DarkSide
16 de dezembro de 2020 às 11:04
DarkSide
16 de dezembro de 2020 às 11:04
A Caveira está ansiosa para todos vocês lerem!
Arlei Nascimento
12 de janeiro de 2021 às 01:27
Arlei Nascimento
12 de janeiro de 2021 às 01:27
Parabéns e muito sucesso pela frente, Bruno! Ansioso para ler!!!
Sah de Souza
18 de janeiro de 2021 às 17:58
Sah de Souza
18 de janeiro de 2021 às 17:58
Adorei, fico feliz que distopias maravilhosas como essas comecem a ter espaço no nosso país, é meu tipo de livro, vou ler com certeza!
Parabéns