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EntrevistaPrêmio Machado

Bruno Ribeiro: “Porco de Raça é um Esaú e Jacó da deep web”

Conheça melhor o vencedor do Prêmio Machado na categoria Romance/Conto e saiba o que esperar de Porco de Raça.

23/11/2020

O sentimento de ser o deslocado do grupo de colegas do colégio foi o gatilho que levou Bruno Ribeiro a escrever. Nascido em 1989 em Minas Gerais, mas Radicado na Paraíba, o escritor que também tem experiência com tradução e roteiro é o vencedor do 1º Prêmio Machado Darkside na categoria Romance/Conto. Ele é mestre em Escrita Criativa pela Universidad Nacional de Tres de Febrero e editor da Revista Sexus.

LEIA TAMBÉM: PRIMEIRA EDIÇÃO DO PRÊMIO MACHADO DARKSIDE ANUNCIA SEUS GANHADORES

A obra vencedora de Ribeiro é Porco de Raça, uma distopia humana, sombria, visceral, potente, violenta e repleta de horror, do jeito que os fãs da Caveira gostam. A narrativa acompanha um professor negro, falido, preso a uma cadeia de acontecimentos inescapáveis que o levam a uma jornada rumo à própria degradação física. Em sua obra, o escritor funde e distorce gêneros que vão da ficção pulp ao revisionismo histórico, orquestrando um enredo que une entretenimento a uma dura crítica social. 

Em entrevista ao DarkBlog, Bruno Ribeiro compartilha um pouco de sua trajetória e a escolha de sua obra para o Prêmio Machado. O escritor ainda conta um pouco do que os leitores podem esperar de Porco de Raça.

DarkSide: Como o sonho de ser escritor começou para você?

Bruno Ribeiro: Sempre tive um interesse genuíno pelo mundo das artes e comecei a escrever cedo, lá pelos meus 16 anos. Iniciei fazendo quadrinhos, mas logo percebi que não curtia desenhar e sim escrever. Gosto de falar que coloquei as primeiras palavras na página em branco depois de não ter sido convidado para uma festa dos meus colegas do colégio! Brincadeiras à parte, me sentia deslocado na adolescência e passei por vários problemas nesse período, incluindo casos de bullying. Então, isso de me sentir um corpo estranho nos lugares foi o que serviu de gatilho para eu mergulhar no sonho de ser escritor e buscar transformar esse desejo em algo concreto, que atravessasse a minha vida adulta.

D: De onde surgiu a inspiração para escrever a obra Porco de Raça?

BR: Sempre tive que correr atrás da tal inspiração e as ideias para os meus livros nunca surgem de uma vez só, elas chegam em fragmentos. Geralmente, através de imagens, pois sou muito visual. Em Porco de Raça, a primeira imagem que veio foi a de um homem ferido com uma máscara de porco, depois o visualizei em um ringue e me perguntei: “O que esse cara está fazendo neste ringue?”. A partir disso fui construindo esse personagem kafkiano, sua vida, família, amores, motivações, conflitos, traumas, e quando me dei conta a ideia do romance foi se solidificando. O ponto final para fechar o tema do livro foi quando me dei conta de que esse homem ferido com uma máscara de porco poderia ser eu ou pessoas próximas de mim.

D: Como foi o processo de criação da obra? Ela já estava pronta ou foi algo que surgiu aos poucos com o prêmio?

BR: O romance se chamava Porco Sucio e eu o terminei em 2014. Passei para amigos de confiança lerem, eles acharam ruim e fizeram várias críticas. Deixei o livro descansando e retornei a ele em 2017, quando reescrevi tudo, mudei o título (foi de Lute, Porco a Porco mergulhado em amônio) e o transformei basicamente em outro livro. Desde então, mexi pouco nele, mudando uma coisa ou outra e fazendo anotações, pois o meu processo criativo envolve anotar ideias em cadernos. Foi agora, em 2020, que eu decidi retomá-lo a sério. O anúncio do prêmio me incentivou também a concluí-lo de vez: reescrevi mais coisas, incluí um capítulo e finalmente cheguei ao título Porco de Raça.

D: Em Porco de Raça você funde e distorce vários gêneros e subgêneros — da ficção pulp ao revisionismo histórico. O que os leitores da DarkSide® podem esperar dessa obra?

BR: Sim, adoro fundir e brincar com os gêneros, eles são pontos de partida para eu experimentar com as diversas regras e possibilidades geradas. Em Porco de Raça, os leitores da DarkSide® podem esperar uma obra provocadora na linguagem e na trama, que lida com temas urgentes, como o preconceito racial e a desigualdade, de forma surreal, aterrorizante e transgressora, sem amaciar para ninguém, pelo contrário. O livro também fala de mim e dos meus, dos atos racistas que sofremos e dos traumas que insistem em permanecer. Fora isso, os livros que eu admiro são aqueles corajosos, ambíguos, que colocam o dedo na ferida e permitem uma pluralidade de leituras e entendimentos. Então, pra finalizar, o pessoal pode esperar um romance que irá gerar mais perguntas do que respostas.

D: Quais autores inspiraram vocês no processo de escrita da obra e como eles continuam te inspirando?

BR: O livro Esaú e Jacó, do Machado de Assis, foi uma baita inspiração. No meu romance, eu conto a história de dois irmãos que dialogam bastante com os gêmeos Pedro e Paulo do Machado. Irmãos com ideologias diferentes e visões de mundo contrárias, vivendo em um país em transe. Porco de Raça é um Esaú e Jacó da deep web. Fora essa obra, me inspirei bastante no Franz Kafka, Toni Morrison, Colson Whitehead, Lima Barreto, Cruz e Souza, Mary Shelley, Clive Barker, Ana Paula Maia, o blues do Robert Johnson, o rap do Sabotage e dos Racionais MCs e o cinema do David Lynch. Esses artistas continuam me inspirando pela verdade e inventividade das suas produções. O Machado de Assis mesmo é um escritor que está sempre na minha cabeceira.  

D: Como foi receber a notícia que tinha vencido o Prêmio Machado?

BR: É o tipo de notícia que muda a sua vida. Eu sempre amei a DarkSide® e ter a possibilidade de publicar nesta editora que combina tanto com o que eu produzo, é algo que me deixa com o coração na garganta. Quando eu recebi a notícia, liguei para os meus pais, pois eles sempre me deram apoio para continuar escrevendo. Depois, contei para a minha noiva e alguns amigos. Em seguida, abri uma cerveja, deitei na rede da varanda, e fiquei esperando a ficha cair (até agora ela não caiu, mas uma hora cai).

D: Qual a importância de projetos como o Prêmio Machado para o incentivo à literatura brasileira?

BR: É um projeto importantíssimo para a literatura do país. Sabemos das dificuldades para se produzir arte no Brasil e o Prêmio Machado DarkSide é um incentivo para continuarmos desenvolvendo as nossas ideias. Eu vivo do entorno literário, através de aulas de escrita criativa e traduções, então esse prêmio significa um gás extra para eu continuar tendo tempo para escrever. E tempo é algo valioso para nós escritores.

LEIA TAMBÉM: MACHADO DE ASSIS E A IRONIA DE 2020

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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21 Comentários

  • Ozéias

    24 de novembro de 2020 às 07:25

    Dos vencedores do prêmio, PORCO DE RAÇA, é o que mais aguardo! Estou na torcida para o prêmio se tornar uma tradição da editora.

  • Archidy de Noronha Picado Filho

    24 de novembro de 2020 às 09:27

    Parabéns ao Bruno Ribeiro pelo prêmio, exemplo e incentivo para quem deseja se aventurar pelas possibilidades da Literatura.

  • Maria

    25 de novembro de 2020 às 13:22

    Que entrevista bacana, quero muito ler esse livro.

    • Avatar photo

      DarkSide

      25 de novembro de 2020 às 13:29

      Caveirinha está ansiosa pra que todos leiam!

  • Andre

    3 de dezembro de 2020 às 12:19

    Ansioso demais por isso! Espero que saia o quanto antes <3

  • Marcos

    4 de dezembro de 2020 às 14:57

    MEU DEUS EU AMEEEEEEI JÁ QUERO!!!!!!!

  • Winston Martins

    4 de dezembro de 2020 às 15:09

    Parabéns pela conquista!!! ✊? O livro será lançado pela Darkside?

  • L.F. d"Oliveira

    4 de dezembro de 2020 às 15:18

    Parabéns, Bruno Ribeiro! Muito sucesso com o livro

  • Stephany

    4 de dezembro de 2020 às 15:37

    Aaah, que entrevista mais gostosa de ler! Obrigada por compartilhar mais do seu processo criativo, Bruno. Com certeza as suas palavras e a sua história servem de incentivo pra gente. Mal vejo a hora de ler esse livro. Obrigada, DarkSide, por sempre incentivar autores com tanto carinho! Sou fã da editora certa <3

  • andreia

    4 de dezembro de 2020 às 19:10

    me deixou com mais vontade de ler . e Parabéns

  • Eldes Ferreira

    4 de dezembro de 2020 às 22:31

    Eu também estou ansioso para ler este livro! Parabéns pela bela entrevista e pela premiação merecidíssima. SUCESSO!

  • Romildes

    5 de dezembro de 2020 às 23:15

    Fiquei muito feliz em ler sua entrevista Bruno, parabéns e sucesso!

  • Stela Maris Baldissera

    7 de dezembro de 2020 às 08:58

    Participei pela categoria poemas, e fico feliz pela iniciativa da Darkside, espero este tipo de incentivo continue. Ansiosa pela leitura! Parabéns Bruno Ribeiro, pela obra e pela entrevista!!

    • Avatar photo

      DarkSide

      7 de dezembro de 2020 às 10:34

      Parabéns por ter participado! Em 2021 teremos mais.

  • Yzumi

    9 de dezembro de 2020 às 18:44

    Nossa! Eu adorei. Espero que não que vem tenha mais uma edição desse prêmio. Fico muito feliz pelo ganhador. Estou ansioso pra ler o livro dele

    • Avatar photo

      DarkSide

      10 de dezembro de 2020 às 10:34

      Caveirinha já anunciou que em 2021 teremos mais uma edição do Prêmio Machado sim, só não temos ainda a data confirmada.

  • Renato Almeida

    15 de dezembro de 2020 às 14:25

    Muuuuito ansioso para ler esse livro, a sinopse é FODA! Parabéns, Bruno!

    • Avatar photo

      DarkSide

      16 de dezembro de 2020 às 11:04

      A Caveira está ansiosa para todos vocês lerem!

  • Arlei Nascimento

    12 de janeiro de 2021 às 01:27

    Parabéns e muito sucesso pela frente, Bruno! Ansioso para ler!!!

  • Sah de Souza

    18 de janeiro de 2021 às 17:58

    Adorei, fico feliz que distopias maravilhosas como essas comecem a ter espaço no nosso país, é meu tipo de livro, vou ler com certeza!
    Parabéns

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