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Caveira Viu: MaXXXine

Descubra o que achamos do aguardado lançamento de Ti West

16/07/2024

Cada vez mais o horror vem sendo povoado por sobreviventes improváveis. Personagens que vivem para contar suas histórias e emergem radiantes como as garotas finais de seus filmes, quebrando todas as expectativas e subvertendo a fórmula consolidada anos atrás por sobreviventes como Laurie Strode em Halloween. Entre tantos nomes, um tem particularmente se destacado nos últimos tempos: Maxine Minx.

LEIA TAMBÉM: MAXXXINE: TI WEST E LILY COLLINS CHOCAM FÃS COM SESSÃO SURPRESA DO FILME

Após ser a única sobrevivente do massacre de X – A Marca da Morte, a protagonista vivida por Mia Goth retornou aos cinemas em MaXXXine para contar o que acontece com as garotas finais depois que os créditos finais sobem nas telonas. Escrito e dirigido por Ti West, com produção da própria Goth, MaXXXine é ambientado na Los Angeles de 1985 e acompanha a personagem principal em sua busca pelo tão desejado estrelato.

Após ter consolidado seu nome na indústria do entretenimento adulto, Maxine agora procura a fama em Hollywood, conquistando o papel principal na sequência de um popular filme de terror. Como já era esperado, ser uma estrela não é nenhum desafio para a jovem (que já enfrentou coisa bem pior). No entanto, sua jornada é ameaçada por uma série de assassinatos de natureza satânica e pelo ressurgimento de segredos do passado. 

maxxxine night stalker

Um dos filmes de terror mais aguardados do ano, MaXXXine chegou aos cinemas brasileiros no dia 11 de julho. Como boa fã da neta da atriz brasileira Maria Gladys, a Caveira foi correndo conferir o desfecho dessa trilogia. 

Hollywood pode ser mortal

Canalizando a era das videolocadoras e dos chamados “video nasties”, dos thrillers violentos e eróticos dos anos 1980 e dos gialli italianos, MaXXXine se destaca logo de cara por seu comprometimento em recriar a Los Angeles da década de 1980. Do icônico letreiro de Hollywood, passando pela Sunset Strip e por pronunciamentos televisionados do então presidente Ronald Reagan, até chegar em um set de filmagens, o filme acerta em cheio na ambientação de sua história

Essa contextualização histórica é provavelmente o maior acerto do longa, que utiliza a personagem principal como um fio condutor para abordar questões como o conservadorismo reacionário dos anos 1980, o sistema da indústria cinematográfica, o pânico moral voltado para o cinema e televisão e o auge do Pânico Satânico, muito bem representado pelo caso do Perseguidor Noturno. Nesse sentido, MaXXXine adere brilhantemente ao espírito de excesso dos anos 1980, tanto pela trilha sonora, figurinos e cenários, quanto pelas temáticas costuradas em seu roteiro, que acerta em cheio na crítica a um falso moralismo e conservadorismo que desembocam na violência.

maxxxine

Enquanto X – A Marca da Morte recriou brilhantemente filmes dos anos 1970 como O Massacre da Serra Elétrica, e Pearl emulou o brilho da Hollywood de O Mágico de Oz, MaXXXine recria com maestria a vibrante e escandalosa década de 1980. Mais uma vez, Ti West mostra seu talento para homenagear outras produções e estilos cinematográficos, não disfarçando seu grande amor pela sétima arte.

Ao longo da trama, o espectador se depara com a aparição de filmes clássicos de terror, como Psicose, e outras obras emblemáticas da época, como O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas. Isso sem contar a forma pela qual West emula a estética de diretores como Brian De Palma e Dario Argento, e insere referências a grandes estrelas como Betty Davis.

maxxxine

Contudo, o maior acerto do filme também ocasiona seu maior problema: a falta de profundidade dos personagens e da história em si. West parece tão comprometido com a estética oitentista que deixa de lado a construção do arco dos personagens e o próprio enredo. Diferentemente dos dois filmes anteriores, MaXXXine peca justamente pelo ritmo apressado, o que rende cenas supérfluas e um clímax insatisfatório. São tantos personagens, espaços e homenagens comprimidos em menos de duas horas de filme que o longa deixa de lado sua verdadeira estrela: a história de Maxine Minx. 

Não entenda mal, Maxine é o fio condutor de todo o enredo, sendo muitíssimo bem interpretada por Mia Goth. O filme acerta na caracterização de uma garota final ambiciosa e impiedosa, que rompe com os estereótipos do terror e é atormentada pelos traumas do passado. É impossível negar a satisfação que sentimos ao ver que a protagonista sabe muito bem cuidar e salvar a si mesma. Afinal, é ela quem nos guia pela decadente Los Angeles dos anos 1980 e também quem transita pelos espaços habitados por todos os outros personagens da trama. No entanto, mesmo entre todos esses acertos, a movimentação frenética da protagonista por esses ambientes rende um enredo apressado e sem foco

O ofuscamento de Maxine reverbera nos outros personagens da trama que, apesar de serem vividos por grandes talentos, parecem não ganhar a atenção e o desenvolvimento que mereciam. Nomes como Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Bobby Cannavale, Michelle Monaghan e Moses Sumney dão vida a personagens interessantes, mas que no fim são pouco aproveitados pelo roteiro e mais parecem espalhados na trama. 

maxxxine

O que talvez possa realmente decepcionar os fãs é a falta de terror que MaXXXine traz quando comparado com X – A Marca da Morte. O longa decididamente acerta nas cenas violentas, que trazem efeitos práticos e gore muito bem executados, os quais emulam a estética de filmes de terror oitentistas, mas não oferecem uma grande contagem de corpos como era esperado. Novamente, o que parece atrapalhar é o ritmo frenético, que parece não conseguir dar destaque para as perseguições e cenas de assassinatos. O próprio assassino misterioso de luvas pretas que segue Maxine é muito bem concebido como uma homenagem aos gialli e thrillers da época, dando um toque de terror muito bem-vindo ao filme. No entanto, sua identidade é tão previsível que diminui consideravelmente seu impacto na história. 

Deixando de lado os problemas, MaXXXine ainda é um filme satisfatório, estiloso e divertido, que fecha coerentemente a trilogia proposta por Ti West. Enquanto uma sequência direta de X, o longa consegue dar continuidade a temas elaborados pelo primeiro filme, abordando o conservadorismo reacionário, a repressão e uma sociedade moralista e intransigente. Enquanto X tece sua crítica pelas lentes do sexo, a partir do microcosmo de um casal de fazendeiros idosos, MaXXXine o faz pelas lentes da indústria cinematográfica e da sociedade enquanto um grande coletivo.

O filme também equilibra bem seus pontos positivos e negativos, entregando um visual oitentista deslumbrante, músicas impecáveis e uma belíssima carta de amor ao cinema. Como se isso não bastasse, MaXXXine ainda mostra que sua personagem principal é, sim, uma estrela, e que Mia Goth definitivamente é uma das novas rainhas do terror mundial.

LEIA TAMBÉM: MAXXXINE: CONHEÇA O CASO DO PERSEGUIDOR NOTURNO 

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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