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LançamentoMedo Clássico

Como O Médico e o Monstro está presente na cultura há mais de 130 anos

Clássico de Robert Louis Stevenson representa mais do que uma batalha interna entre o bem e o mal

03/10/2019

Este texto contém spoilers da obra. Uma narrativa sobre dois homens completamente diferentes que no final se mostram ser a mesma pessoa tem aterrorizado e intrigado as pessoas há mais de um século: O Médico e o Monstro influencia a cultura e o imaginário popular até os dias de hoje. O conto sobre Dr. Jekyll e Hyde, do escocês Robert Louis Stevenson, será publicado no lançamento O Médico e o Monstro e Outros Experimentos, que faz parte da coleção Medo Clássico da DarkSide® Books

Desde sua primeira publicação em 1886 a história se tornou um clássico instantâneo, vendendo 40 mil cópias apenas nos primeiros seis meses (vale lembrar que isso era no final do século 19 e muitas pessoas nem sabiam ler) e, em um ano, O Médico e o Monstro já tinha virado uma peça de teatro.

LEIA TAMBÉM: O MÉDICO E O MONSTRO & OUTROS EXPERIMENTOS FINALMENTE ESTÁ EM CASA

O mais interessante sobre a repercussão da obra é que as pessoas não apenas liam o conto, elas o discutiam. O fato de duas personalidades tão distintas pertencerem à mesma pessoa intrigou os leitores, que logo começaram a pipocar teorias. A mais comum é de que a história era uma metáfora à sexualidade reprimida de Dr. Jekyll. Mas logo o próprio Stevenson negou que a motivação de Hyde fosse sexual. Claro que a sociedade Vitoriana da época não concordou muito.

Aliás, a dupla personalidade chegou a ser considerada uma crítica social à própria sociedade Vitoriana e seus valores. Por um lado as pessoas se mostravam comportadas e respeitosas, mas não deixavam de praticar suas perversões longe dos olhos do público.

O médico, o monstro e o Drácula

Um outro clássico lançado apenas um ano após O Médico e o Monstro pode trazer uma luz sobre o que movia as ideias e Stevenson na criação do seu personagem. Drácula, de Bram Stoker – também publicado pela DarkSide® Books nas edições First Edition e Dark Edition – foi escrito de uma forma muito semelhante, em alguns momentos por meio de cartas e documentos. Outro ponto em comum é o fato do personagem abrir mão de sua humanidade, seja por meio de uma substância ou de uma infecção no sangue.

Os dois livros refletem um pensamento que estava em ascensão na época e que as pessoas ainda não sabiam muito bem como interpretar. Há poucas décadas Charles Darwin havia publicado seu estudo sobre a evolução das espécies, trazendo uma abordagem diferente das noções religiosas do que distinguia o ser humano dos animais. Segundo este ponto de vista, podemos interpretar o Sr. Hyde, o “monstro”, como o lado mais primitivo do ser humano, questionando o quanto desta bagagem selvagem ainda temos dentro de nós.

Jekyll e Hyde no divã

Anos depois o psiquiatra e psicanalista, Carl Jung, se aprofundou no que provavelmente o autor quis retratar na dualidade do personagem. Não se trata apenas de mostrar que existem o bem e o mal no homem, mas sobre separar o que é socialmente aceitável (bom) do que não é bem visto pela sociedade (mau). Ou seja, os nossos conceitos de bom ou mau têm relação direta com o que os outros esperam de nós.

Nos arquétipos trabalhados por Jung, Hyde seria uma sombra, ou seja, o lado mais tenebroso do “eu” inconsciente. Seriam os aspectos inferiores e menos agradáveis da nossa personalidade, que desejamos reprimir na frente dos outros. Esta “sombra” sempre contradiz os valores morais sustentados pela nossa personalidade social. É quase como se Hyde fosse o escape que Jekyll precisava para liberar o que ele tanto reprimia. O elixir era apenas uma desculpa para isso.

O Médico e o Monstro chega a Hollywood

Não demorou muito para que o conto de Robert Louis Stevenson chegasse às telonas, ainda nos primórdios de Hollywood. Lógico que para o grande público a análise mais profunda de Jung ficou de lado e o que se trabalhou mesmo foram os conceitos de bem e mal. 

Ainda na era do cinema mudo, o longa O Médico e Monstro (1920) estrelado por John Barrymore foi o primeiro sucesso da história nas telonas. Onze anos depois a Paramount trouxe a narrativa de volta aos cinemas, dessa vez na versão falada, que chegou a receber um Oscar de Melhor Ator para Fredric March. Desde então foram inúmeras releituras e adaptações, além de spin-offs que focaram até em possíveis filhos de Jekyll.

O Médico e o Monstro de 1920

O personagem também fez algumas outras pontas em histórias que não eram necessariamente sobre ele, mas que davam sentido a sua presença. Um exemplo é a Graphic Novel de Alan Moore A Liga Extraordinária, posteriormente adaptada para os cinemas, que reúne personagens de histórias clássicas, como o Homem Invisível e Capitão Nemo. Dr. Jekyll e Hyde também aparecem no filme Van Helsing (2004), sobre o caçador de monstros que também encara outros personagens como Drácula e Frankenstein.

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Influência na literatura, cinema e TV

A inspiração na personalidade dupla rendeu muitos outros personagens no mundo da literatura, cinema e TV. Alguns dos heróis e vilões mais queridos pelos fãs dos quadrinhos foram abertamente inspirados no médico e o monstro que ocupam o mesmo corpo. A seguir listamos os principais:

Hulk: Stan Lee não esconde que a inspiração para o personagem veio de Jekyll e Hyde. O Hulk surge quando o cientista nuclear Bruce Banner está fazendo experimentos com uma Bomba Gama e um acidente faz com que ele se transforme no monstrão verde. O Incrível Hulk fez sua primeira aparição nos quadrinhos em 1962 e compõe o pelotão de frente da Marvel Comics, tendo sido adaptado para a TV e para o cinema.

Hulk teve influência de O Médico e o Monstro

Fera: como se um cientista de proporções monstruosas não fosse o suficiente, Stan Lee criou o Fera um ano após a primeira aparição do Hulk. Neste caso o cientista Hank McCoy possuía uma mutação genética possivelmente ligada ao fato de seu pai ter trabalhado em uma usina nuclear e ter sido exposto à contaminação radioativa em um acidente. O Fera faz parte do universo dos X-Men e também já foi retratado nos filmes da franquia.

Duas-Caras: Jekyll e Hyde não servem apenas para inspirar personagens que jogam no time dos heróis. No universo do Batman eles inspiraram Bob Kane a criar um dos vilões mais emblemáticos de Gotham. O promotor Harvey Dent era um dos melhores advogados da cidade, mas virou a casaca depois que o chefe da máfia Sal Maroni jogou ácido no seu rosto durante um julgamento, deformando metade dele. Diferentemente da personalidade mutável de Jekyll e Hyde, Dent virou vilão em tempo integral depois deste episódio. No filme O Cavaleiro das Trevas sua origem é justificada em uma emboscada armada pelo Coringa, mas a consequência é a mesma.

Duas-Caras teve influência de O Médico e o Monstro

Na literatura moderna, a dualidade do personagem recebe uma bela homenagem em Clube da Luta, de Chuck Palahniuk – o autor está na antologia Seres Mágicos & Histórias Sombrias publicada pela DarkSide® Books. Assim como no conto de Stevenson, o leitor é apresentado a dois personagens de personalidades distintas, mas que na verdade são duas faces da mesma moeda. O livro recebeu uma famosa adaptação para o cinema, com direito a Edward Norton e Brad Pitt nos papéis principais e direção de David Fincher.

Clube da Luta teve influência de O Médico e o Monstro

Uma versão bem caricata até foi parar na comédia: O Professor Aloprado conta a história do Prof. Julius Kelp, que não tem muito jeito com as mulheres. Para resolver o problema, ele formula uma poção que o transforma em Buddy Love, um Don Juan que atinge os objetivos de Kelp, mas que se mostra mais incontrolável do que o cientista gostaria. A história foi estrelada por Jerry Lewis em 1963 e contou com um remake em 1996 com Eddie Murphy no papel principal.

Fragmentado, de M. Night Shyamalan, é um dos exemplos mais recentes a trabalhar a diferença de “médico e monstro” no mesmo personagem. Mas aqui o assunto é tratado como um distúrbio de múltiplas personalidades (não apenas duas). A homenagem a Stevenson está em uma das personalidades do personagem de James McAvoy, chamado apenas de “Fera”: assim como Hyde, ele é capaz de mudar de tamanho quando assume o personagem.

Fragmentado teve influência de O Médico e o Monstro

Apesar da expressão “Jekyll e Hyde” frequentemente se referir apenas a uma pessoa com um lado bom e outro ruim, as interpretações de O Médico e o Monstro se mostram muito mais profundas e é isso o que torna esta obra tão atemporal.


Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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7 Comentários

  • Antonio Felipe

    25 de novembro de 2019 às 14:24

    Muito interessante o artigo. Estou lendo “O Médico e O Monstro” e me pareceu familiar. Agora esclarecido pelo artigo. Uma outra impressão que me veio pode ser que até em obras fora deste contexto da dupla ou múltipla personalidade (pelo menos de modo nítido) podem ter obtido inspiração deste clássico. Por exemplo, “50 Tons de Cinza” tem o personagem Jack Hyde, que é um vilão na história. O sobrenome Hyde me lembrou o Mr. Edward Hyde, do clássico que é tema deste artigo. Me veio o questionamento sobre o nome completo do personagem. Jack? Jack? Qual era mesmo o sobrenome do médico? Ah, Jekyll. Jack equivaleria a Jekyll? Então, se a hipótese estivesse correta, Jack Hyde sera a representação deste ser dual, na forma de vilão?

  • Antonio Felipe

    25 de novembro de 2019 às 15:24

    Ah, outras obras que estou curioso para saber se têm ou não alguma relação com “O Médico e O Monstro”: Venom e O Máscara (filme de 1994 – interpretado por Jim Carrey, mas que teve origem nos quadrinhos como um personagem muito violento). Obrigado pelo excelente trabalho de vocês!

  • Amine Gedeon

    4 de outubro de 2021 às 21:31

    Nossa estou impressionada com sua teoria, em como a elaborou e como a pensou, eu jamais teria pensado/elaborado uma teoria dessas. Você me abriu os olhos para muitas outras obras que podem ter tido sua inspiração em “O médico e o monstro”.

  • Anderson

    8 de fevereiro de 2023 às 23:12

    Acabei de ler e adorei, o visual da Londres gótica com névoa só melhorou os cenários descritos.

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