Associada frequentemente a demônios e feitiçaria, Dulle Griet (ou Mad Meg) provavelmente não tinha qualquer associação com a bruxaria. A mulher é uma figura do folclore flamengo que inspirou o ator e escritor Jim Broadbent a escrever a graphic novel A Bruxa Margaret, publicada pela DarkSide® Books.
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A representação mais famosa de Magriet foi imortalizada em uma pintura a óleo do artista belga Pieter Bruegel, o Velho, em 1563. A obra de arte se encontra no Museu Mayer van der Bergh, na Antuérpia. Acredita-se que ela tenha sido criada para uma série de trabalhos. No Brasil, o título é traduzido como “Mulher Louca”.
No quadro há muito acontecendo, mas uma mulher se destaca: Griet se dirigindo à porta do inferno com uma armadura, carregando itens que parecem ter sido saqueados e carregando uma faca e uma espada, o que faz uma possível referência à expressão “ele poderia ir ao inferno com uma espada na mão”.
Enquanto Magriet (também chamada apenas de Griet) se destina à boca do inferno, suas seguidoras estão saqueando uma casa. Um livro de provérbios publicado na Antuérpia traz um ditado que captura a essência da obra de Bruegel: “Uma mulher faz barulho, duas mulheres dão muito trabalho, três um mercado anual, quatro uma briga, cinco um exército, e contra seis o próprio Diabo não tem arma”.
Griet era um nome depreciativo, direcionado a qualquer mulher rabugenta. A missão da personagem diz respeito ao provérbio flamengo “Ela poderia saquear em frente ao inferno e voltar sem um arranhão”.
A pintura de Pieter Bruegel pode até ter sido a inspiração para A Bruxa Margaret, mas ela não é uma personagem exclusiva do artista. Estamos falando da figura do folclore flamengo de uma camponesa que lidera um exército de mulheres ao inferno. Ela possivelmente possui alguma ligação a Gret Sauermal, uma mulher que brigou com o marido e teve a habilidade de entrar no inferno e voltar ilesa, graças a sua natureza desagradável.
Graças as suas representações no mundo das artes, Dulle Griet é frequentemente rotulada como bruxa e é bem possível que Bruegel tenha feito uma referência às caças às bruxas, tão frequentes na Europa do século 16. A representação de uma mulher às portas do inferno certamente parece algo digno de bruxaria, no entanto, especialistas sugerem que o artista estivesse justamente zombando a cultura da época de acreditar em magia.
Outra interpretação da obra defende que o pintor estivesse observando o comportamento das mulheres no século 16. Isso porque nesta época havia diversas monarcas poderosas em diversos reinos na Europa, em conflito com um certo desconforto do patriarcado da igreja. Muitos diziam que as mulheres estavam ocupando lugares que não pertenciam a elas, e Magriet seria a representação disso.
Nesta linha de raciocínio, o quadro do artista retrata uma mulher em uma posição dominante, rendendo o próprio diabo com bravura. A armadura usada pela personagem chamava a atenção justamente por ser um acessório utilizado quase que com exclusividade por homens. As mulheres, no caso, estariam usurpando este papel mais bélico para elas.
Miranda Nesler traz uma interpretação um pouco mais positiva ao papel de Magriet e das mulheres na pintura: elas não estão simplesmente saqueando o inferno, mas sim recuperando os os tesouros que foram roubados da humanidade. Elas estão derrotando demônios que mantiveram tais tesouros escondidos.
O próprio nome de Magriet, e suas variações Margaret ou Meg, tem um significado próprio. Trata-se de um nome bem presente na história e em lendas, geralmente com uma conotação negativa. Margot la Folle, ou “a louca”, é a versão francesa de Griet. Na Dinamarca, havia rumores de que a rainha Margaret devia suas vitórias militares ao próprio Diabo. A condessa alemã Rantzau, outra Margaret, foi supostamente trancada em seu caixão, de tanto medo que as pessoas tinham de que ela retornasse dos mortos. Margaret também é um nome comum para grandes armas na Escócia, Irlanda e em Ghent.
Talvez nunca possamos compreender completamente o significado da missão de Magriet ao inferno e se ela foi bem-sucedida. O que sabemos é que Griet é um retrato de mulheres lutando para conquistarem espaços que sempre deveriam ter sido seus por direito. Seja pela raiva ou pela loucura, esta personagem mostra que não falta bravura às mulheres e que, juntas, elas são sim capazes de ir até o inferno e saírem ilesas.
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2 Comentários
Quelen
4 de novembro de 2020 às 21:45
Quelen
4 de novembro de 2020 às 21:45
Uuuaaauuuuuu! Ameeeii!!! Quero ler o livro agora ♥️
DarkSide
5 de novembro de 2020 às 10:55
DarkSide
5 de novembro de 2020 às 10:55
Incrível, não é mesmo? Uma história poderosa!