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Considerações de Ilana Casoy sobre o caso do bolo envenenado

Crime chocou o país no começo do ano

19/02/2025

Boa parte dos casos de true crime que acompanhamos em documentários, podcasts e nos livros Crime Scene da Caveira parecem histórias distantes, muitas vezes ocorridas há muito tempo ou em outros países. Mas um crime cometido no final de 2024 nos lembraria que essas atrocidades podem estar mais perto do que imaginamos: o do envenenamento de uma família perto do Natal.

Vamos relembrar rapidamente o caso: Deise Moura dos Anjos foi detida preventivamente em 5 de janeiro por triplo homicídio qualificado e tripla tentativa de homicídio. O motivo? Ela foi acusada de ter contaminado com arsênio a farinha utilizada para fazer um bolo, que foi servido à sua família, em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul.

O bolo envenenado foi preparado por Zeli dos Anjos, sogra de Deise e alvo do envenenamento, segundo a Polícia Civil. Três mulheres que consumiram o bolo morreram no intervalo de algumas horas: Tatiana Denize Silva dos Anjos, Maida Berenice Flores da Silva e Neuza Denize Silva dos Anjos. Zeli e uma criança de 10 anos sobreviveram e receberam alta do hospital.

Depois do caso do bolo ser revelado, a polícia passou a investigar se Deise teria envolvimento também na morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro, supostamente por intoxicação alimentar. A polícia exumou o corpo dele, e constatou que o homem também havia ingerido arsênio antes de morrer.

Detida durante as investigações, Deise foi encontrada morta na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba no dia 13 de fevereiro. A principal suspeita é de suicídio.

A análise de Ilana Casoy sobre o crime

Com uma vasta experiência nos estudos de mentes criminosas, Ilana Casoy se tornou uma das principais referências do país quando o assunto envolve crimes reais. Em entrevista ao programa Timeline da Rádio Gaúcha, disponível no YouTube, a autora de Casos de Família, Serial Killers: Louco ou Cruel? e Serial Killers Made in Brazil fez algumas considerações sobre o caso:

Deise era ou não uma psicopata?

Ilana esclarece que é preciso diferenciar a psicopatia do que é um comportamento criminoso, como alguém que comete assassinatos, um serial killer ou um latrocida, por exemplo. Já a psicopatia só pode ser constatada através de um diagnóstico psiquiátrico. Ou seja, nem todo homicida violento é um psicopata, e nem todo psicopata necessariamente irá cometer crimes, pois essa condição envolve diferentes graus. Deise só poderia ser considerada psicopata após uma avaliação deste tipo. “Não é todo mundo que é frio, que não sente remorso, que é psicopata. Isso precisa de exame mesmo”, afirmou Ilana.

Assassina em série ou em massa? Talvez os dois

Dentro da categoria dos assassinos em massa, encontram-se os aniquiladores de família, algo que, pelo que tudo indica, Deise se encaixa. Porém, conforme as investigações do caso avançam, está sendo levantada a hipótese de que ela tenha causado outras mortes individuais no passado, o que também a tornaria uma assassina em série.

Diferenciando assassinos homens de assassinas mulheres

Ilana destaca que ao buscar entender as motivações de um possível assassino em série, é importante distinguir se estamos falando de criminosos homens ou mulheres, relembrando as principais categorias das lady killers, como as viúvas negras, os anjos da morte, criminosas sexuais, as que agem em grupo ou em dupla, e as que agem por motivação de vingança — possivelmente o caso em questão. Além disso, Ilana frisou que de modo geral, homens matam desconhecidos, enquanto as vítimas das mulheres costumam ser pessoas conhecidas. “Quando você pega um serial killer do sexo masculino, ele em geral não conhece a vítima dele. Na maior parte dos casos analisados eles não conhecem ninguém. E nesse caso é a família inteira”, exemplifica a criminóloga.

Cuidado com estatísticas de doenças e transtornos mentais

Ilana foi enfática no cuidado que precisamos ter ao interpretar estatísticas que nem sempre respondem às nossas questões, e principalmente ao não tentar justificar todo e qualquer crime a sangue frio com uma possível “psicopatia”. Ela citou um estudo que apontou que 40% das serial killers mulheres sofriam algum tipo de doença mental, “sendo que psicopatia não é doença mental, é transtorno”, explicou. “Daí a gente pega esse dado e não podemos encaixar ninguém nessa estatística porque no Brasil culturalmente não é feita esta avaliação”. Ilana acrescenta que, no caso dos homens, as estatísticas apontam que menos de 10% possuem doenças mentais. “Eu sei que hoje em dia é muito normal falar em psicopata, mas não é o comportamento criminoso que vai determinar isso. É bem mais complexo que isso.”

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