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De femme fatale a anti-heroínas: Mulheres na literatura noir

Damas Noir traz histórias poderosas para um universo tradicionalmente dominado por homens

05/05/2022

Histórias noir têm algumas características bem marcantes: o homem solitário e perturbado, uma grande conspiração, femme fatales e mulheres em apuros. Esse subgênero de ficção policial é repleto de personagens dúbios, nem bons, nem maus, e o tom sombrio que dá nome ao estilo.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: DAMAS NOIR, DE JOYCE CAROL OATES (ORG.)

Historicamente, o noir é fortemente abordado de uma perspectiva masculina. O protagonista é sempre um detetive ou homem comum, solitário, arrasado por algo do seu passado e que se vê em meio a um mistério ou conspiração. As mulheres dificilmente escapam do arquétipo da femme fatale ou da vítima — ou das duas ao mesmo tempo.

Mas para algumas escritoras, o patriarcado não precisa deter qualquer tipo de exclusividade sobre o subgênero. Ao contarem suas histórias e darem sua própria visão de como o noir funciona com o protagonismo feminino, elas entregam narrativas criativas e que desafiam a hegemonia masculina nesses enredos.

Para celebrar o ímpeto dessas autoras, Joyce Carol Oates organizou um livro dedicado a essas histórias. Damas Noir é uma coletânea de narrativas viscerais contadas por quinze vozes diferentes, incluindo contos, poemas e uma história ilustrada. Todas essas escritoras provam que é possível pensar em um noir que fuja daquela fórmula batida do início do século XX.

Literatura Noir: Onde as mulheres não tinham vez

As histórias policiais e noir dos anos 1920, 1930 e 1940 costumavam estrelar um tipo muito específico de protagonista: nas sombras, abalado por algum evento passado, não virtuoso o suficiente para ser o mocinho, mas que ainda está do lado certo da razão. Ele já sabe dos perigos do mundo e por isso quer combatê-los — ou melhor, não quer, mas abre uma exceção para salvar alguém, geralmente uma mulher. O cara não é um herói, mas precisa assumir o fardo.

A ideia dessa espécie de anti-herói é um reflexo da situação política e econômica da época. O personagem já tinha vivenciado a Primeira Guerra, a Grande Depressão e agora a Segunda Guerra Mundial. Esse homem está traumatizado pelos conflitos bélicos, pela situação econômica e, de alguma maneira, se vê impotente diante de tudo isso, carregando consigo uma visão pessimista em relação ao mundo.

Na visão desse personagem nada mais faz sentido. As instituições que deveriam ser confiáveis, como igreja, governo, polícia e até mesmo a própria família, agora são vistas como corruptas. As mulheres (finalmente mencionadas) deixaram sua posição não ameaçadora para se tornarem víboras, trapaceiras, traidoras e usurpando (?) o seu controle. A tal da femme fatale.

Créditos: Columbia Pictures

Mas a literatura noir não se restringe a essas décadas, voltando em novos ciclos quando o contexto político e socioeconômico são propícios. Na década de 1970, por exemplo, o subgênero voltou a ser relevante, principalmente no cinema, graças à Guerra no Vietnã e ao caso Watergate. Embora não carreguem 100% as características da primeira metade do século, essas histórias são dramas criminais sinistros e doentios, novamente com pouco espaço para intervenções femininas.

Pode-se perceber que as mulheres foram pouco citadas nesses períodos. Isso acontece porque elas não tinham muito espaço na cena noir, nem como contadoras de histórias e nem como protagonistas. Suas personagens se resumiam à traiçoeira femme fatale e à vítima da história, que precisava ser salva pelo nosso anti-herói. Às vezes os dois papéis se mesclavam, com uma mulher fatal que precisava ser tirada do mundo do crime.

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A vez das narrativas femininas na literatura noir

Se os homens eram psicologicamente perturbados no início do século, o que dizer das mulheres? E nem estamos restringindo a um período específico, mas sim a um histórico de subjugação e desrespeito generalizado. Com uma luta por direitos que se estende por séculos, as mulheres conquistam cada vez mais espaços — incluindo a literatura noir.

Toda uma geração de escritoras de suspense está deixando para trás os papéis de vítimas ou das femme fatales caricatas e conferindo muito mais nuances às suas personagens. Elas dão vozes a essas mulheres que viviam na periferia do noir, colocando prostitutas, membros de gangues, estrelas pornô, ou aquelas com uma rotina muito parecida com a sua, para deixarem a posição de vítima e tornarem-se as próprias heroínas (ou anti-heroínas) de suas tramas.

Créditos: © 2014 Twentieth Century Fox and Regency Enterprises

Justamente na ideia de anti-heroína, essas autoras não têm medo de mostrar o pior do comportamento feminino. A própria Joyce Carol Oates, em entrevista ao site The Millions, comenta essa natureza dúbia das novas personagens noir: “Algumas mulheres em algumas dessas histórias abraçam suas naturezas malvadas e pecadoras com surpreendente entusiasmo”. Para a autora, é como se elas proclamassem “chega de ser a vítima!”.

Oates acredita que esse movimento de personagens mais densas e dúbias não significa qualquer tipo de bandeira sobre como as mulheres deveriam ser ou se comportar, apenas refletem a riqueza da construção de personagens. “A ficção séria apresenta personagens únicos, individuais. Eles não são ‘bons’ nem ‘maus’ — a vida não é assim simples, e a arte reflete a vida nos seus mistérios mais essenciais”.

Créditos: Masterclass

Em defesa da originalidade do noir feminino, Joyce Carol Oates reuniu um grupo de histórias com personagens complexas, que o leitor é capaz de amar e odiar ao mesmo tempo. Fugindo dos estereótipos que tanto marcaram o subgênero, essas autoras celebram uma nova era de literatura noir, honrando a força dessas mulheres de conduzirem as próprias histórias e serem as próprias heroínas, como já ocorre no mundo real. Nem que precisem deixar algum estrago pelo caminho.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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