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De livros infantis a histórias sombrias: Conheça a trajetória de David Small

Premiado escritor e ilustrador assina a HQ Escuridão

09/11/2021

Após quase uma década de hiato desde a publicação de uma graphic novel autobiográfica, David Small apresenta Escuridão, uma obra de ficção que chega ao Brasil pela DarkSide® Books. A HQ evoca clássicos como O Senhor das Moscas e O Apanhador no Campo de Centeio em uma atmosfera digna dos filmes de Alfred Hitchcock, Roman Polanski e Ingmar Bergman.

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Ambientada na década de 1950, Escuridão tem como protagonista um garoto de 13 anos que enfrenta problemas ainda bem comuns nos tempos atuais, como masculinidade tóxica, bullying, homofobia, alcoolismo, imigração e a nossa relação com o próximo. Mas o trabalho de David Small nem sempre assumiu contornos tão macabros.

A criança que desenhava bem

Nascido e criado em Detroit, David Small começou a desenhar com dois anos de idade. Por causa de problemas de saúde, ele precisou passar muito tempo em casa quando era criança, o que lhe permitiu praticar seus rabiscos com liberdade. Na escola, ficou conhecido como “a criança que desenhava bem”.

Apesar do talento, ele nunca havia cogitado seguir uma carreira nas artes por julgar que seria muito fácil para ele. Então, dedicou-se à escrita, principalmente de peças de teatro. Mas as artes plásticas o chamaram de volta quando tinha apenas 21 anos, após alguns anos escrevendo suas peças.

Aliás, o chamado mais se parecia com um ultimato. Um amigo disse a David que os rabiscos que ele tinha feito na caderneta que ficava ao lado do telefone eram melhores do que qualquer coisa que ele já havia escrito. Este foi o sinal que ele precisava para mudar sua graduação na faculdade.

David Small concluiu a graduação de belas-artes na Wayne State University e depois obteve seu mestrado na universidade de Yale. Ele lecionou por alguns anos na faculdade, além de conduzir uma série filmada e fazer cartoons satíricos para o jornal da universidade. Em 1981 publicou seu primeiro livro: Eulalie and the Hopping Head.

Uma carreira de livros infantis e ilustrações na imprensa

A primeira publicação de David Small seguiu um caminho bem parecido com o de muitos autores desconhecidos: ele levou sua obra para Nova York e foi rejeitado por muitas editoras até conseguir a publicação. Com as portas finalmente abertas, expandiu seu acervo de livros infantis.

Paralelamente, Small teve suas ilustrações impressas em publicações como a revista New Yorker, o New York Times, Washington Post, Esquire e Playboy. Em plena atividade, o artista construiu o seu nome no ramo.

Aperfeiçoando sua técnica a cada novo trabalho, David teve suas obras traduzidas para diversos idiomas, adaptadas para filmes e musicais e lhe renderam várias premiações do ramo. Em 1997 ele recebeu a Caldecott Honor e a Christopher Medal por The Gardener. O reconhecimento foi uma conquista dupla para a família, já que sua esposa Sarah Stewart escreveu a história.

Em 2001 foi premiado novamente com a Caldecott Medal, desta vez pelo livro So you want to be President?. A ocasião rendeu um episódio curioso, que o ilustrador conta em seu site: “Encarando aquele mar de rostos sorridentes – de bibliotecários, amigos do mercado editorial, minha família e outras pessoas queridas – eu fiquei tão emocionado que perdi minha voz e coaxei ao longo do meu discurso. Depois de ter sido transformado de um sapo para um príncipe pela American Library Association, na frente deles naquela noite, eu virei novamente um sapo.”

Caminhos mais autorais e sinistros

Créditos: Mark Bugnaski | The Kalamazoo Gazette

Conhecido pelos livros infantis, David Small surpreendeu o público em 2009 com o lançamento de Cicatrizes, uma obra autobiográfica em que narra os desafios de sua infância enquanto paciente de câncer e de sua adolescência problemática. A HQ conquistou o primeiro lugar na lista de best sellers do New York Times.

Para sua obra seguinte, Escuridão, David Small levou anos para escrever e reescrever a história. Insatisfeito com o visual, chegou a redesenhar à mão as mais de 400 páginas até que elas ficassem do jeito que ele imaginava. O resultado é uma obra melancólica e inusitada que ficou entre os vencedores do Alex Awards e foi indicado pelo Boston Globe como um dos melhores livros de 2018.

Escuridão desafia o tom nostálgico utilizado para se referir aos anos 1950 com originalidade em uma abordagem densa sobre a vida de seu protagonista. Uma jornada poderosa que os leitores da Caveira poderão conferir.

5 Curiosidades rápidas sobre David Small

1. Ele é obcecado por insetos e os compra montados no eBay. Um inseto gigante de madeira decora uma parede de seu estúdio. Small ama o formato, a anatomia e as cores destes animais.

2. Segundo sua esposa, ele não tem muitas habilidades domésticas, como pendurar um quadro, entender de peças de carro ou acertar um prego com um martelo.

3. Ele ama filmes antigos, principalmente de Ingmar Bergman e Roman Polanski – duas fortes referências em Escuridão. O ilustrador também defende que todo mundo assista ao filme 8 ½, de Federico Fellini.

4. Muito da sua arte é descartada por ele, que queima seus trabalhos em um latão no fundo de casa. Apesar de saber que sua obra é muito cobiçada por universidades ou colecionadores, seu perfeccionismo impera e ele queima tudo o que não considera finalizado ou de acordo com suas expectativas.

5. Ele não se importa com dinheiro e sequer sabe quanto tem na sua carteira.