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Dengue: Uma história macabra da medicina

Da descoberta à preocupação global com a doença

20/03/2024

“Febre quebra-ossos”. Esse é um dos nomes populares atribuídos à dengue, independentemente da sua variação viral. Quem já enfrentou a doença e passou por dores excruciantes nos ossos e articulações entende muito bem o apelido. Mas mais do que um mal-estar generalizado, a dengue é uma doença que pode se tornar letal e que se torna cada vez mais preocupante no mundo.

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Parente próxima da febre amarela, a dengue é causada por um arbovírus e é disseminada em humanos através da picada de um mosquito, já bem conhecido dos brasileiros: Aedes aegypti. A doença é apresentada em detalhes no livro Medicina Macabra 3, dedicado a dissecar os pequenos microrganismos capazes de dizimar populações e alterar o curso da história humana.

medicina macabra

Um mosquito incomoda — e mata — muita gente

Mais do que insetos indesejáveis que tiram o nosso sono e causam coceiras irritantes, os mosquitos da espécie Aedes aegypti são perigosos. Além de serem vetores da dengue, eles também são capazes de transmitir a febre amarela. Se pararmos para pensar que o ebola, um dos vírus mais mortais em circulação, foi disseminado com tanta rapidez por causa de agulhas hipodérmicas reaproveitadas, os mosquitos podem ser considerados um dos mais eficientes transmissores de doenças.

Pense que o mosquito fêmea — o que se alimenta de sangue, e, portanto, pica — é como uma agulha hipodérmica voadora. A agulha em questão é uma espécie de tromba longa do inseto, usada por ele para se alimentar de sangue. 

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Só que antes de furar a vítima, o mosquito prepara um pedaço de pele desejado e cospe nele antes (sim, cada coceirinha é resultado de baba de mosquito). A saliva do animal contém um anticoagulante que mantém o fluxo sanguíneo e pode também estar carregada de partículas virais, como acontece no caso da dengue. 

Depois de literalmente cuspir no prato onde vai comer, a mosquita se empanturra com o nosso sangue, chegando a poder aumentar em quatro vezes o seu peso original. Se esse sangue estiver infectado pelo vírus da dengue, ele irá se replicar nas glândulas salivares do animal e poderá infectar uma próxima vítima.

aeedes aegypti

Agora imagine dezenas de milhões de senhoras Aedes aegypti voando por aí, bebendo sangue e infectando pessoas em diversas partes do mundo. Felizmente, a maioria dos casos, por mais debilitantes e preocupantes que sejam, não resulta em morte. Porém, ser infectado uma segunda vez pode ser ainda mais preocupante.

Atualmente são identificadas quatro variações do vírus da dengue. Porém, diferentemente de outros vírus, aqueles das doenças “que só se pegam uma vez”, uma reinfecção pela dengue não virá acompanhado de sintomas mais brandos, muito pelo contrário. O paciente reinfectado frequentemente tem suas defesas debilitadas e se tornará mais sensível aos efeitos da doença.

Um problema de saúde que dura séculos

Assim como muitos animais — nós humanos inclusos — o Aedes aegypti surgiu na África, provavelmente na região nordeste, e de lá se espalhou para outros continentes de condições climáticas favoráveis, como Ásia e Américas, por meio das navegações.

aedes aegypti

O mosquito chegou ao Brasil no século XVIII e desde 1916 há referências de epidemias de dengue, em cidades como São Paulo, e em 1923 em Niterói. Em 1955 uma grande campanha da Organização Pan-Americana de Saúde conseguiu erradicar o inseto no Brasil e em outros países americanos. Porém, algumas regiões não conseguiram exterminá-lo, e logo ele voltou a se espalhar. Na década de 1960, a dengue voltou a se tornar um problema no nosso país.

A partir da década de 1980 foram notificadas epidemias de dengue em diversos países, sendo que a primeira que foi documentada clínica e laboratorialmente ocorreu nos anos de 1981 e 1982 no estado de Roraima. Desde 1986, a introdução de novos sorotipos no Rio de Janeiro é associada ao registro de epidemias em diversos estados, chegando a alcançar 24 deles entre 2001 e 2003.

Uma ameaça global

Apesar de ser considerada endêmica em grande parte da Ásia, África e América Latina, a dengue é uma ameaça à saúde global. Em 1985, um navio do Japão viajou até um porto do Texas, carregando centenas de milhares de pneus usados — e se você conhece todos os alertas para erradicar a proliferação do mosquito, já sabe onde isso vai dar. 

pneu velho água parada

Os pneus, claro, estavam molhados, e muitos deles acumulando água parada, onde as larvas do mosquito-tigre-asiático, uma espécie nova na fauna norte-americana, se desenvolviam. Toda picada desse inseto pode ser mortal, pois o mosquito-tigre carrega a dengue e uma dezena de outros vírus perigosos. 

Mostrando-se extremamente resistente, o mosquito se estabeleceu em dezessete estados dos EUA em poucos anos. Em 1994, mais de dois mil casos suspeitos de dengue foram confirmados no país. 

Atualmente, a doença continua a se expandir e não mostra o mínimo sinal de desaceleração. No Brasil, por exemplo, estados que há alguns anos registravam poucos casos da doença, hoje vivem verdadeiras epidemias. Capaz de resistir a invernos frios, o mosquito continua sua expansão, fomentada pelo aquecimento global e fenômenos associados a períodos de muita umidade e temperaturas elevadas, como é o caso do El Niño.

Uma luz no fim da agulha

Assim como a dengue se espalha por meio de uma espécie de agulha — a tromba da mosquita —, o combate à doença ganha esperança em outra agulha: a da vacina contra a dengue. Razoavelmente recente, a primeira vacina contra a doença foi aprovada no país em 2015. A segunda, em 2023, e que foi incorporada ao SUS em fevereiro de 2024.

Douglas Magno/AFP — Reprodução

Desenvolvida no Japão, a vacina QDenga® é destinada a pessoas de 4 a 60 anos de idade, pois nesse grupo foi comprovada a sua segurança e eficácia. Apesar de ter entrado para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e também poder ser oferecida na rede particular, a baixa oferta do imunizante ainda torna o combate à doença mais lento do que a disseminação da dengue no país.

A vacina gera uma resposta imunológica aos quatro sorotipos do vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4) ao colocar o organismo em contato com o vírus atenuado e incapaz de desencadear a doença. Isso ajuda o sistema imunológico a se proteger contra a dengue, atenuando seus sintomas e a gravidade da infecção. A imunização é feita por meio de duas doses, com intervalo de 90 dias entre elas.

Além da vacina, o combate à dengue é feito principalmente ao evitar a proliferação do seu vetor Aedes aegypti. Isso envolve evitar acúmulo de água parada em objetos e reservatórios, bem como a higienização correta de tais objetos para matar eventuais larvas que possam ter se instalado no local. Assim como em outras epidemias, o combate envolve o esforço coordenado entre poder público e cidadãos.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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