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DarksideEntrevista

Thomas Olde Heuvelt: “Adoro pegar os arquétipos do horror e transformá-los em algo original”

Entrevista exclusiva com o autor de O Berço Vazio e HEX

15/01/2024

Temas clássicos do terror ganham abordagens inusitadas nas obras de Thomas Olde Heuvelt. Após apresentar aos DarkSiders uma história de bruxa com muita tecnologia em HEX, o autor holandês está de volta com O Berço Vazio, que inicialmente era uma abordagem moderna a uma história de zumbi.

LEIA TAMBÉM: THOMAS OLDE HEUVELT, UM ADORADOR DE TUDO O QUE É SINISTRO E MACABRO

Com um senso de humor peculiar que anda lado a lado com o horror e uma relação muito especial com o público brasileiro, Thomas entrega histórias repletas de originalidade e aquela boa dose de terror que todo DarkSider conhece tão bem. Ele conversou com o DarkBlog sobre O Berço Vazio, sua relação com o nosso país e trabalhos futuros. 

DarkBlog: Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a você por essa conversa e lhe dar as boas-vindas novamente na DarkSide®. Desde o lançamento de HEX os leitores brasileiros estão ansiosos por conhecer novas histórias suas. O que eles podem esperar de O Berço Vazio?

Thomas Olde Heuvelt: O Berço Vazio sou eu por completo, então se você gostou de HEX, com certeza vai amar esse aqui. Ele é horrendo, sombrio e divertido ao mesmo tempo. É uma história sobre luto, obsessão e loucura, sobre uma mãe que lamenta a perda do seu bebê e quer fazer de tudo para ter sua amada Dolores de volta. Charlotte é a típica narradora não confiável, contando sua história da maneira mais inocente possível, usando palavras fofinhas e até rimas, mas o que realmente acontece entre as palavras é sinistramente horrível. Essa história é a minha homenagem a “O Papel de Parede Amarelo” de Charlotte Perkins Gilman, uma das primeiras obras de feminismo americano na literatura, mas ao mesmo tempo uma história fantasmagórica sobre uma mulher que enlouquece. É uma história genial, e O Berço Vazio lhe presta homenagem de diferentes maneiras — não apenas nos nomes dos personagens.

o berço vazio

D: O Berço Vazio é uma história que é muito difícil de definir uma sinopse sem correr o risco de cair em algum spoiler, então vamos tentar não estragar a surpresa dos leitores. Diferentemente de HEX, que se aprofunda no terreno do terror sobrenatural, O Berço Vazio tem um enredo bem realista, que poderia muito bem acontecer fora da ficção — se é que já não aconteceu. Que tipo de terror você considera mais perturbador: mais realista ou com elementos fantásticos?

TOH: Engraçado você dizer isso, porque acho que isso significa que fiz o meu trabalho muito bem. Eu queria escrever algo que fosse ambíguo, que pudesse ser interpretado tanto como uma história sobrenatural ou mais realista. O fato é que O Berço Vazio começou como uma abordagem atual para uma história de zumbis. Eu adoro pegar os arquétipos do horror e transformá-los em algo original, assim como eu fiz com a história de bruxa em HEX. A verdade é que eu não necessariamente gosto de histórias de zumbis, porque a maioria é basicamente a mesma coisa. Isso vale para qualquer trope, é claro. Até que você faça algo completamente novo com aquilo. O que acontece com O Berço Vazio é que você não sabe realmente se o que está acontecendo é de verdade ou se está apenas acontecendo na cabeça da mãe. Mas, sim, há um bebê. E sim, ele meio que parece bem vivo… uma vez que está fedendo e apodrecendo ao mesmo tempo. Então ele estava realmente vivo? Estava morto? Estava morto-vivo? Os leitores podem decidir por conta própria: essa é a beleza das histórias. Elas precisam da sua imaginação para se tornarem reais.

D: Você disse que se divertiu com a pesquisa que fez para O Berço Vazio. O que mais lhe surpreendeu nesse processo?

TOH: Que as pessoas podem ser apaixonadas por literalmente qualquer coisa. E elas amam compartilhar essa paixão se você demonstrar interesse. Para essa história eu precisava saber como preservar um bebê morto… como alguém faria isso. O Google NÃO é seu amigo em assuntos assim. Mas eu consegui encontrar uma mulher que tinha um site sobre o seu trabalho e paixão: embalsamar corpos sem vida. Ela mora em uma cidade no norte dos Países Baixos chamada Assen, que significa — sem brincadeira — como “cinzas”. Então eu liguei pra ela, me apresentei e disse que tipo de história eu estava escrevendo, e ela topou fazer parte. Ela me contou todos os mínimos detalhes sobre como manter um pequeno corpo fresco, do jeito “faça você mesmo”. E também em que farmácia e mercado agrícola você poderia comprar as coisas sem dar a impressão de que você está preparando um kit de serial killer. As informações dela foram fantásticas! Mas admito… um pouco nojentas também.

Horror e humor combinam surpreendentemente bem. Não é à toa que a nossa reação inicial a uma cena assustadora é gritar e logo em seguida rir.

Thomas Olde Heuvelt

D: Tanto em HEX como em O Berço Vazio percebemos um senso de humor bem peculiar, seja cobrindo o rosto do espectro de Katherine com um pano ou colocando olhos de boneca em uma cabeça de cervo. Como essas inserções espirituosas contribuem com a atmosfera que você constrói em suas histórias?

TOH: Holandeses são muito práticos. Não existe muita superstição na nossa cultura. Por causa das minhas origens, o meu trabalho é definido por uma maneira muito prática de lidar com o estranho e o sobrenatural. Isso frequentemente rende situações bem engraçadas. Como quando é Páscoa em HEX e eles escondem a bruxa dentro de um boneco do Coelhinho da Páscoa. Ou como em O Berço Vazio, quando Charlotte lida de maneiras muito práticas com suas dificuldades nos processos de taxidermia e embalsamamento. Eu adoro esse tipo peculiar de humor. Horror e humor combinam surpreendentemente bem. Não é à toa que a nossa reação inicial a uma cena assustadora é gritar e logo em seguida rir. Bons sustos são um descarrego e, por um lado, nos sentimos meio bobos em relação a isso, mas ao mesmo tempo livres para sentir essa liberação.

D: Um dos temas presentes em O Berço Vazio é a obsessão, que ganha contornos bem assustadores. Você possui alguma obsessão? Pelo quê?

TOH: Acho que todo mundo é obcecado por algumas coisas. Quando amamos uma banda, podemos nos tornar obcecados pelas suas músicas. Quando estamos apaixonados, podemos ficar obcecados por uma pessoa. Tudo isso é perfeitamente natural: a obsessão representa o melhor e o pior das emoções humanas. Quando ela vai para o pior é que as coisas se tornam assustadoras. É quando um apaixonado pode se tornar um perseguidor. É quando a pessoa pode fazer coisas horríveis que ela própria não julgava ser capaz. É uma ideia bem assustadora pensar que, sob tais circunstâncias, as nossas próprias obsessões podem se tornar sombrias rapidamente. Às vezes tudo o que elas precisam é de um gatilho, e nós nos tornamos os assassinos. Dito isso, quais são as minhas obsessões? Atualmente, a banda Electric Callboy, comida vietnamita e a nova casa que eu comprei no sul da França. Por sorte, são obsessões boas. Claro que eu não falaria das ruins, falaria? 

thomas olde heuvelt

D: Na introdução à edição brasileira você cita o Brasil dizendo que “a terra parece estar cheia de histórias”. Como você avalia a sua relação com o Brasil? Existe alguma história específica daqui que tenha lhe chamado a atenção?

TOH: O Brasil tem um lugar especial no meu coração. Minha irmã Francine estudou na Universidade de São Paulo e escreveu sua tese de PhD sobre o MST. Ela e o namorado tinham um pequeno terreno a duas horas de Cuiabá por um ano e meio, limpavam o próprio peixe e dormiam com um rifle em uma rede, caso algum animal entrasse. Daí ela encontrou uma nova segunda família no litoral, perto de Recife. Ela voltou para casa e me contou histórias incríveis sobre as pessoas e sua cultura. Uma que sempre me marcou era sobre um homem que vivia em uma cidadezinha próxima, que era muito peludo, tinha dedos estranhamente longos e em quem as moscas da mata nunca pousavam. Os locais acreditavam que ele era um lobisomem ou um metamorfo. A minha irmã não necessariamente acredita nessas coisas, mas ela conheceu o homem… e, de fato, nenhuma mosca parava nele enquanto elas voavam em torno de todos os outros.

E daí, quando eu finalmente visitei o Brasil em 2018 durante a turnê de HEX… simplesmente havia algo mágico na experiência como um todo. O jeito como os leitores abraçaram a mim e ao meu trabalho, a incrível recepção calorosa que recebi da DarkSide® e das pessoas de lá. Nunca vou me esquecer, e estou empolgado por continuar e expandir essa jornada com O Berço Vazio.

D: Sabemos que duas grandes influências no seu trabalho são Roald Dahl e Stephen King, que abriram as portas para que você conhecesse o mundo do suspense e terror. O que você está lendo atualmente? Continua preferindo leituras nesses gêneros?

TOH: Ah sim, e eu frequentemente retorno a eles. As histórias que nos moldaram, voltamos a elas, assim como voltamos para casa para visitar a família, certo? Roald Dahl era como um tio malvado que contava histórias incríveis em que os monstros comem mesmo as crianças, e os professores realmente jogam as crianças pela cerca. Eu adorava isso quando era jovem — eu não gostava de coisas suaves. Nunca me pareceram reais o suficiente, porque a vida não era suave. Hoje em dia eu leio uma ampla variedade de livros, mas o horror ainda tem a minha preferência. Eu amo Catriona Ward e Paul Tremblay. Sou jurado no World Fantasy Awards esse ano, então estou lendo muita coisa atual. Existe tanto horror bom, como o de Gabino Iglesias, de No Limiar do Inferno.

D: Já que estamos falando de terror, o que te dá medo de verdade?

TOH: Odeio admitir, mas… tubarões. Conheço todas as estatísticas, seu que eles são muito fofos e que nós os machucamos um milhão de vezes mais do que eles nos machucam… mas olha pra esses cretinos, cara. Como eles são só dentes e velocidade. Eles são o mais próximo a monstros de verdade no nosso mundo, e se você cair no oceano, eles são muito mais fortes do que você, vai por mim.

filmes com tubarão

D: Por fim, que recado gostaria de deixar para os seus leitores brasileiros que estão conhecendo outra faceta do seu trabalho com O Berço Vazio? O que mais eles podem esperar pela frente?

TOH: Quero agradecer por abraçarem o meu trabalho. Quero agradecer por lerem o livro, por compartilharem, por passá-lo aos outros e por falarem tanto dele on-line. Isso não tem preço e eu sou muito grato. Tenho certeza de que mais livros meus vão chegar ao Brasil. Já tenho dois para vocês se empolgarem. Um deles se chama Oracle, um romance bem assustador sobre um navio fantasma à deriva que faz as pessoas desaparecerem, e ninguém menos que o meu herói cult Robert Grim, o personagem de HEX que lidera o centro de operações em Black Spring, retorna com um papel bem importante. O segundo é Darker Days, meu livro mais sombrio até agora. Traz uma abordagem moderna à história da barganha fáustica — de negociar com o Diabo. Um dos papéis principais é de uma brasileira que cresceu em Cuiabá e São Paulo, e muitas das histórias sinistras da minha irmã estão lá. Tenho certeza de que vocês vão amar!

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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