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EntrevistaGraphic Novel

Erik Svetoft: “As coisas podem ser sem sentido e significativas ao mesmo tempo”

Confira a entrevista exclusiva do autor de Spa

07/07/2023

Estranho, um tanto engraçado e por vezes mórbido. É com estas palavras que Erik Svetoft tenta resumir o seu trabalho em Spa para os DarkSiders que ainda não conferiram o seu lançamento pelo selo Graphic Novel. Se é que é possível resumir tudo o que acontece naquele lugar.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: SPA, POR ERIK SVETOFT

O quadrinista sueco é um verdadeiro narrador do estranho e prefere contar suas histórias por meio do humor e da ambientação em vez de roteiros guiados pela lógica. Ler Spa é uma provocação aos sentidos, principalmente através da atmosfera caótica criada por um artista que detesta deixar espaços em branco nos seus desenhos.

Erik Svetoft conversou com o DarkBlog e compartilhou com a gente seu processo criativo, o caos do mundo, seus objetivos por meio da arte e as principais influências que trouxe para o seu próprio estilo de contar histórias. Tente relaxar neste spa caótico:

DarkBlog: Tem muita coisa acontecendo em Spa. Muita mesmo! Teve alguma das histórias da graphic novel que deu início a tudo ou a ideia original sempre esteve no ambiente em si?

Erik Svetoft: O ponto de partida foi muito do próprio ambiente, eu tinha essa ideia de ambientar toda a história dentro de um prédio muito grande que acabou se tornando um spa resort nesse caso. Os personagens se desenvolveram a partir dali. Eu imaginava que alguém precisaria estar no comando do negócio, que acabou se tornando o diretor. Provavelmente existiriam funcionários e hóspedes lá, habitando o local e sua infraestrutura. A história em si foi basicamente desenvolvida a partir destes personagens interagindo com o ambiente e uns com os outros. Eu apenas explorei e adicionei elementos até que começou a tomar forma. Gosto de trabalhar dessa maneira, combinando diferentes ideias e vendo o que acontece. Sempre é um tanto surpreendente.

spa

D: Dentre as várias histórias que se passam no spa, tem alguma que é a sua preferida ou que tem um significado mais especial para você?

ES: Os dois técnicos provavelmente são os meus favoritos. Sou um grande fã de comédia pastelão e aquela parte foi rápida e fácil de escrever por este motivo. Também se destaca de um jeito positivo das histórias mais macabras. Acho que é o que faz o tom da história dar um estalo naquela altura, o absurdismo.

D: Sabemos que Spa carrega uma mensagem muito mais ampla do que a dos ambientes de spas, hotéis e resorts. Por que você escolheu este cenário específico para ambientar a história? Teve alguma experiência em algum desses locais que possa ter servido de inspiração?

ES: Visitei alguns spas resorts aqui na Suécia ao longo dos anos e acredito que a inspiração venha de lá. Pode ser uma experiência um tanto surreal enquanto hóspede, de estar neste espaço fabricado para ser calmo, um ambiente projetado onde você sai da sua vida real e entra em um lugar e estado de espírito diferentes, que meio que se propõe a estar fora do tempo e do espaço, muito transcendental.

A distinção entre aqueles que estão sendo servidos e aqueles que estão servindo também é bem evidente neste tipo de lugar, as pessoas desempenham diferentes papéis e a hierarquia neste tipo de serviço impera. E há muitas coisas ritualísticas com água e de se limpar, corpo e mente. Tudo isso é carregado de história e de muito simbolismo, de casas de banho e resorts que curam doenças com a água e todas essas coisas. Eu peguei todas estas conexões e senti que havia algo neste tipo de ambiente que valia a pena ser explorado, e tentei amplificar todos estes elementos e acrescentar coisas que conflitassem com com esta experiência e ambiente pacíficos, apenas contrastes bem pesados, ordem e caos conflitando um contra o outro. E coloquei tudo isso num formato meio que de novela.

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D: A apatia parece ser um dos principais pontos em comum entre os personagens, tanto os hóspedes como os funcionários, o que facilmente podemos trazer para a sociedade como um todo. Você acredita que as pessoas realmente se tornaram insensíveis ou elas ativamente decidem fazer vista grossa para as várias “águas escuras” que nos cercam?

ES: Isso fazia parte do conceito inicial, de basicamente fazer uma história de terror na qual ninguém ali se assusta ou se alarma por qualquer coisa. Ninguém grita quando vê o monstro porque já o viram muitas outras vezes. É criado um pouco de tensão no fato de que ninguém demonstra suas emoções ao longo da história, mantendo as aparências e não mostrando sua verdadeira face. Todo mundo está se esforçando pela normalidade, mesmo quando isso deveria ser impossível. Pensei nisso como se a própria história seguisse um roteiro (o que ela é) e todos estão tentando se ater àquele roteiro, mas as coisas dão errado durante a performance e as pessoas se esquecem de suas falas, e fica estranho.

Acredito que seja diferente para cada um, mas pelo menos para mim existe um ruído de fundo constante de ansiedade em muitos momentos, e eu tenho dificuldade em realmente relaxar e não pensar no estado das coisas, dentro e fora da minha própria vivência. Então talvez não seria apenas apatia, mas sim querer que as coisas sejam boas e normais, o que não é fácil de se alcançar na vida real. Talvez seja um sentimento ou pensamento generalizado, não sei.

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D: Precisamos falar daquele líquido escuro no hotel, que é um elemento marcante em Spa. Você pensou em alguma metáfora específica para ele ou o seu simbolismo pode ser mais aberto à interpretação de cada leitor?

ES: É bem fluido, então em um nível metafórico eu deixo aberto a interpretações. Tem muita coisa, todas essas implicações e simbolismos atrelados a ele, tal qual a água normal tem. Começou basicamente como um elemento visual bem eficaz ao trabalhar em preto e branco com esses temas contrastantes. Essas linhas de tinta manchando os azulejos limpos meio que resumem tudo. De modo bem básico, significa a perda do controle, a matéria em decomposição, a inevitabilidade, uma força incontrolável. Ela tem viscosidade e textura diferentes em diversas partes do livro. Às vezes é como uma água escura e às vezes como um alcatrão grosso e pegajoso, ou como iodo, ou como água pantanosa cheia de coisas. Varia bastante.

D: Ao olhar para a sua arte, tanto em Spa como em outros trabalhos, percebemos uma riqueza de detalhes e informações. É como se cada milímetro do quadro estivesse preenchido. Que sensações ou impressões você pretende provocar com isso?

ES: Eu simplesmente gosto do ato de desenhar, de começar em algum lugar e ver o que acontece. Então o nível de detalhes vem principalmente disso. Quando eu era mais jovem eu sempre me inspirava por coisas que eram desenhadas de maneira mais intrincada, e queria adicionar o máximo de coisas possíveis a tudo, como preencher cadernos de desenhos completos com rabiscos. E quando comecei a fazer quadrinhos eu tinha esta abordagem, de continuar adicionando elementos até que a página esteja preenchida, e é assim que ela está pronta. Acredito que seja uma abordagem generosa… ou maníaca. Eu apenas tento ter o mínimo possível de espaços vazios quando estou desenhando.

D: Uma das características mais incômodas — e eu digo isso como um elogio — em Spa é justamente a atmosfera do local, que mais se parece com um pesadelo que se apossou do que deveria ser um sonho. Seus sonhos e pesadelos têm algum papel no seu processo criativo?

ES: Mais ou menos. Eu costumava ter muitos pesadelos, então poderia ser uma maneira de processar isso. No passado já anotei sonhos para utilizar como elementos de histórias. Acredito que a minha abordagem para contar histórias acaba produzindo trabalhos que se parecem com sonhos: é menos sobre a estrutura e a lógica, e mais sobre os diferentes humores e ideias que fluem juntos. Pelo menos esse é o objetivo. Você tem que enfrentar bastante o seu cérebro quando se trabalha assim, às vezes a história começa a fazer muito sentido e o mistério meio que se perde.

As melhores partes geralmente são criadas quando eu não preciso pensar muito e tudo meio que flui de acordo com a sua própria lógica. E as melhores ideias geralmente aparecem logo antes de pegar no sono, e se eu tiver sorte dou um jeito de anotá-las. Em todas as outras vezes eu só fico aborrecido no dia seguinte por ter esquecido.

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D: O The Guardian disse que Spa é “como se The White Lotus fosse escrito por Charles Burns”. O seu trabalho também já foi comparado à obra de David Lynch e Junji Ito, por exemplo. Você concorda com tais comparações? São artistas nos quais você se inspira?

ES: As comparações são bem lisonjeiras, esses são todos nomes fortes, de artistas aclamados nos quais eu me inspiro muito! Mas não vejo o meu trabalho minimamente perto deste nível e tento não me comparar muito aos outros. Sou um tanto autocrítico para isso, é muita pressão. Mas sim, especialmente Junji Ito e David Lynch foram duas fortes inspirações nos meus anos de formação e isso provavelmente está óbvio no próprio trabalho, o produto combina com a influência. Inspiração é algo grande.

D: Muitos brasileiros estão começando a conhecer o seu trabalho. O que gostaria de dizer a eles? O que eles podem esperar tanto de Spa como de demais obras suas?

ES: Espero que gostem! Eu tento fazer trabalhos bem variados, então eles podem esperar muitas coisas. É bem estranho e um tanto engraçado e às vezes um tanto mórbido… e nem tudo faz sentido, mas isso está de acordo com a maneira como o mundo é. As coisas podem ser sem sentido e significativas ao mesmo tempo. Saudações da Suécia!

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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