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Jardins mortais: Conheça os poison gardens

Localizados na Inglaterra e na Irlanda, esses espaços abrigam as plantas mais letais existentes no mundo

11/11/2024

Esqueça tudo o que você sabe sobre caminhar tranquilamente na natureza, admirando a paisagem e se conectando com a vitalidade e energia que as plantas podem oferecer. Imagine-se dando passos cuidadosos em um jardim que esconde segredos mortais por trás da beleza das flores e folhas. Onde cada planta pode conter um veneno letal e até mesmo respirar muito próximo a elas pode causar o pior dos efeitos, intoxicando ou levando à morte.

Esse não é um conto de fadas, mas a realidade intrigante dos poison gardens: os jardins venenosos. A linha tênue entre o universo das plantas que curam e as plantas que matam estão presentes nesses jardins que escondem segredos fascinantes do universo botânico. Inspirados pelo universo assombroso de Natureza Macabra: Plantas, vamos caminhar cuidadosamente e explorar alguns desses enigmáticos jardins, onde a natureza revela o lado mais perigoso e sombrio do reino vegetal.

Jardim de Alnwick

O mais famoso deles é o Jardim de Alnwick, localizado em Northumberland, na Inglaterra. O local abriga mais de 100 plantas tóxicas, alucinógenas e medicinais e é aberto para visitação ao público. Logo na entrada, um portão preto com uma caveira indica que as plantas naquele jardim podem matar.

Considerado o jardim mais mortal do mundo, o local foi estabelecido em 2005 por Jane Percy, Duquesa de Northumberland. Para entrar, os visitantes precisam passar por orientações de segurança e não podem encostar, tocar ou cheirar nenhuma das plantas no jardim. Há relatos de pessoas que chegaram a desmaiar por inalar as toxinas presentes nas plantas.

O objetivo de Jane Percy com o jardim seria educar as pessoas, principalmente as crianças, sobre as plantas que podem ser mortíferas e com elas podem matar rapidamente. Entre as espécies cultivadas no poison garden de Alnwick está a mamona, que é considerada uma das mais perigosas do jardim e do mundo, de acordo com o Guinness World Records.

poison garden anlwick — Imagem: Phil Wilkinson / The Alnwick Garden

Muitas pessoas nem sequer imaginam, mas diversas plantas consideradas venenosas e perigosas que se encontram no local podem estar inclusive no jardim de casa, ou dos vizinhos, já que são plantas fáceis de cultivar no Reino Unido. Uma das mais populares é a rododendro, que se consumida pode atacar o sistema nervoso.

Outro exemplo é a árvore laburno, considerada a segunda mais venenosa do Reino Unido, cultivada nas casas pela atraente cor amarelada das folhas e flores. Essa planta possui um veneno chamado citisina. O veneno da árvore pode durar meses, mesmo após um galho ter caído no chão.

É importante saber que plantas venenosas não são prejudiciais apenas ao ser humano e animais. Elas podem matar outras plantas ou impedi-las de crescerem, intoxicando o solo ao seu redor. Outras não precisam nem ser ingeridas para intoxicar, só de terem suas folhas aparadas, como é o caso do Prunus laurocerasus (conhecida também como louro cereja ou louro inglês), podem produzir gás cianeto, que inibe o sistema nervoso central de produzir oxigênio.

De acordo com uma das responsáveis pelo jardim, Amy Thorp, não é preciso temer as plantas, só precisamos aprender a respeitá-las e entender que provavelmente elas chegaram naquele espaço antes mesmo do ser humano. Muitas delas podem servir um propósito até mesmo medicinal se utilizadas de forma correta. Um exemplo é o teixo, utilizado no tratamento contra o câncer de mama.

O jardim também faz parte do programa de educação contra as drogas, através do cultivo de papoulas de ópio, cannabis e catha edulis, conhecida como ‘khat’, uma droga estimulante similar à anfetamina. Essas plantas estão protegidas dentro do jardim, sendo utilizadas para mostrar e educar os jovens a respeito, e possuem regulamentação do governo para serem cultivadas, devendo ser destruídas ao final de cada ciclo.

Blarney Castle

A Irlanda é, por natureza, um país repleto de mistérios e misticismo, e não seria diferente com as suas plantas. Nem todos os segredos da Ilha Esmeralda são facilmente desvendados, mas sua história e encanto podem ser vivenciados e sentidos por qualquer pessoa que visita o país. E é exatamente em um dos locais mais fascinantes que guarda milhares de anos de história que é possível encontrar também as plantas mortais.

O Castelo de Blarney, localizado em Cork, é uma famosa construção medieval com mais de 600 anos e um dos destinos mais populares entre os visitantes do país, considerado um tesouro da Irlanda. É lá que está a pedra da eloquência, que, junto à história milenar do castelo, é um dos principais motivos das visitas que recebe. A lenda mágica diz que quem beijar a pedra, virado de ponta-cabeça, adquire o dom da eloquência, ou da oratória e conversação.

Mas o castelo não abriga apenas a Pedra de Blarney. Vários jardins compõem os arredores deste que é casa para infinitas histórias e lendas. E é lá que está outro poison garden, com plantas que escondem perigo através de cores e beleza.

O jardim do Castelo de Blarney tem por principal objetivo educar as pessoas sobre plantas que podem estar tanto na natureza quanto nos jardins das casas. A abordagem desse jardim está focada nos aspectos positivos e negativos das plantas, observando tanto os usos tradicionais quanto os modernos. Também conhecido como “O Jardim do Boticário”, ele está repleto de plantas e ervas que o curador do castelo costumava usar. E isso inclui muitas das plantas citadas nas poções mágicas utilizadas no universo de Hogwarts e Harry Potter. Algumas das plantas no jardim venenoso são mantidas sob grades de ferro, protegendo-as do contato com os visitantes, como acônito, mandrágora, ricina, ópio e cannabis.

Embora o castelo esteja localizado em um terreno com mais de mil acres, o poison garden de Blarney está em uma parte pequena, e posicionado de forma estratégica, um pouco mais escondido do que os outros jardins. Ali estão as plantas que possuem as toxinas mais letais para o ser humano, que já tiraram muitas vidas em diversos casos.

Outra planta muito conhecida dos brasileiros que está no jardim de Blarney é a arruda. O odor desagradável da planta levou os curandeiros a utilizá-la como ingrediente em repelente de insetos e pulgas domésticas. A eficácia vista por quem a utilizava levou as pessoas a esfregarem seu extrato na pele como forma de repelente aos mosquitos. O problema aparecia ao se expor ao sol, causando queimaduras e erupções cutâneas graves, semelhantes às causadas pela hera venenosa. Hoje a arruda é utilizada em diversos medicamentos e até como antídoto para veneno.

Entre outros exemplos estão o ruibarbo, planta utilizada para fazer doces, compotas e bebidas, e que possui folhas extremamente venenosas; o louro-cereja, que pode ter suas folhas utilizadas mas produz um fruto que libera cianeto; e também o laburno, citado anteriormente no jardim de Alnwick.

Uma das plantas que é mantida atrás das grades é a mandrágora europeia, conectada a aplicações que envolvem superstições, além do uso medicinal. Dizia-se que a raiz da planta era parecida com uma forma humanoide, assemelhando-se a um corpo humano. A composição de suas raízes contém elementos alucinógenos, narcóticos, hipnóticos, analgésicos e venenosos, tudo ao mesmo tempo. Ainda hoje ela aparece em tradições pagãs contemporâneas como Wicca e odinismo.

Os jardins venenosos sempre fascinaram e aterrorizaram a humanidade, dos antigos alquimistas aos modernos naturalistas. Para chegar ao conhecimento atual, muitas civilizações precisaram passar por experimentação, troca de experiências e vivências, considerando os povos indígenas como os primeiros a compreenderem e adquirirem o conhecimento milenar da botânica.

Os poison gardens relembram a humanidade do poder oculto e enigmático do universo botânico, e da importância de respeitar a natureza e o meio ambiente, diante de toda a potência que pode ser revelada — seja ela para o bem ou para o mal.