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John Landis e o desastre que mudou a forma como os filmes são feitos

Negligência no set de Twilight Zone acabou com 3 atores mortos

29/07/2024

Acidentes em sets de filmagem infelizmente são mais comuns do que deveriam — vide a tragédia que se abateu sobre Brandon Lee, que morreu durante as gravações de O Corvo (1994) ou a morte involuntariamente causada por Alec Baldwin nos bastidores de Rust, em 2021. Mas um em específico marcou Hollywood, embora seja bem pouco falado, e um dos responsáveis foi John Landis, de Clube dos Cafajestes (1978) e Os Irmãos Cara de Pau (1980).

LEIA TAMBÉM: O Corvo no cinema: 7 curiosidades sinistras sobre o filme

Era 23 de julho de 1982 e o cineasta dirigia “Time Out”, um dos segmentos do filme de Twilight Zone comandado por Steven Spielberg. Aquela diária acabaria com três atores mortos — sendo duas crianças — de forma brutalmente trágica.

A gravação acontecia nas Indian Dunes, próximas a Los Angeles, e o diretor resolveu adicionar uma cena para humanizar o protagonista, Bill Connor, interpretado por Vic Morrow. O ator, de 53 anos, tinha vasta experiência na TV e no cinema e era pai da também atriz Jennifer Jason Leigh.  No segmento, Connor fica indignado quando um colega de trabalho judeu consegue uma promoção que acredita merecer. Viagens no tempo então o levam à Alemanha ocupada pelos nazistas e ao Alabama dos anos 1950, aterrorizado pela Ku Klux Klan. Estas viagens levam o personagem a avaliar e a exterminar suas crenças absolutamente racistas.

time out

Para a cena final do segmento de Landis, um dos produtores sugeriu uma cena alternativa, de acordo com El Pais. Em outra viagem no tempo, Connor resgata dois órfãos vietnamitas cujo povoado estava sendo bombardeado por helicópteros norte-americanos. A cena seria uma desculpa para John Landis capturar imensas explosões em película. A ideia do diretor era criar um épico contemporâneo digno de Apocalypse Now.

Tudo errado ao mesmo tempo

O que se deu a partir daí foi uma série de decisões equivocadas que acabou em tragédia. A produção contratou dois atores infantis, Myca Dinh Le, de 7 anos, e Renee Shin-Yi Chen, de 6. E isso violava diretamente a lei da Califórnia, que proibia o emprego de crianças à noite. Além disso, a contratação de menores de idade sempre exigia uma autorização especial, que não foi obtida. 

Tudo foi resolvido com um “acordo verbal” com Peter Wei-Te Chen, tio de Renee, que atuou como representante das famílias e aceitou o pagamento em dinheiro em seu nome, sem qualquer contrato formal ou seguro. O produtor associado George Folsey Jr. fechou a participação das crianças sem informar a equipe de elenco ou os bombeiros no set: Landis estava ansioso para eliminar a burocracia e filmar a cena rapidamente — para ele, as crianças apareceriam rapidamente e não havia necessidade de maiores formalizações.

Para criar o bombardeio da vila, foi utilizado um helicóptero militar Bell UH-1 Iroquois pilotado por Dorcey Wingo, um veterano da Força Aérea dos EUA com experiência em combate no Vietnã. Wingo, que era novo no cinema, participou de um teste antes de filmar a cena e percebeu que o helicóptero tremia “anormalmente” durante as explosões. No entanto, um colega do departamento de efeitos especiais alertou-o para não dizer nada porque Landis tinha uma postura ditatorial e provocaria sua demissão na mesma hora. Wingo decidiu ficar quieto.

acidente twilight zone

Como Stephen Farber e Marc Green escrevem em Outrageous Conduct, livro que detalha o acidente, assim que as câmeras rodaram, bolas de fogo pirotécnicas engoliram o helicóptero. Wingo sofreu um ataque de pânico. O cinegrafista do helicóptero, Randall Robinson, disse ter recebido instruções conflitantes. O assistente de produção disse-lhes para saírem da área o mais rápido possível, mas Landis continuou ordenando que descessem um pouco mais em direção ao tal rio que era cruzado por Morrow com uma criança debaixo de cada braço. De acordo com o depoimento de outro cinegrafista, Landis teria dito, sem um pingo de sensibilidade: “A cena está ficando ótima, mas vamos perder o helicóptero”.

Dito e feito. As explosões levaram à queda do helicóptero. Observada por cerca de cem pessoas da produção, Renee foi esmagada por parte da aeronave, que tombou e cuja hélice decapitou Morrow e Myca. De acordo com o livro de Farber e Green, houve um silêncio sepulcral até que a mãe de Renee começou a gritar ao se ajoelhar sobre o corpo sem vida da filha. Morrow nunca conseguiu entregar a fala do personagem: “Vou mantê-los seguros, crianças. Eu prometo. Nada vai te machucar, eu juro por Deus.”

Investigações e julgamento

As investigações do acidente foram concluídas em outubro de 1984, quando o filme, lançado em 1983, já havia sido lançado e alcançado significativo sucesso. Os especialistas determinaram que a tragédia resultou tanto de explosões excessivas quanto do voo rasante do helicóptero: ou seja, por erros humanos, de planejamento.

Landis, Folsey, Wingo, um gerente de produção e um especialista em explosivos enfrentaram acusações de homicídio culposo. No entanto, eles foram absolvidos após um julgamento que ocorreu de abril de 1986 a fevereiro de 1987. Landis se tornou o principal alvo dos tabloides que criticaram sua arrogância insensível, e da promotora distrital de Los Angeles, Lea D’Agostino, que o chamou de “assassino de colarinho branco”. Durante o julgamento, Landis, talvez por recomendação de seus advogados, pareceu não ter se afetado por todo sofrimento que causou.

twilight zone acidente

Folsey, inicialmente retratado pela mídia como vítima do mau julgamento de Landis, mais tarde enfrentou críticas generalizadas por fazer declarações controversas. “Morrow poderia ter evitado a tragédia se tivesse seguido minhas instruções”, disse Folsey. “Enfatizei repetidamente a importância de nunca perder de vista o helicóptero.” As famílias das vítimas iniciaram uma ação civil contra os produtores do filme por conduta imprudente e violação das leis trabalhistas, e receberam um acordo substancial, cujas cifras ficaram em sigilo.

O que Hollywood aprendeu com isso

A única consequência positiva do desastre — se é que houve — é que ele mudou a forma como os filmes são feitos: o Sindicato de Diretores adotou medidas mais rigorosas para violações de segurança como as cometidas no set de Jonh Landis, enquanto o Sindicato dos Atores incluiu novas cláusulas nos contratos que permitiam aos atores se afastarem dos filmes caso não se sentissem seguros no set.

Numa entrevista de 1996 ao The Financial Times, Landis finalmente pareceu expressar algum tipo de remorso: “Não há nada remotamente positivo em toda esta história. Foi uma enorme tragédia na qual não parei de pensar um só dia. Isso continua a me assombrar e teve um impacto profundo em minha carreira, do qual talvez nunca me recupere”.

Anos mais tarde, Steven Spielberg disse ao seu biógrafo, Joseph McBride: “Não vale a pena morrer por nenhum filme”. Ele disse que o acidente foi a pior experiência de sua carreira e o motivo pelo qual sua amizade com Landis acabou. 

LEIA TAMBÉM: O que é a maldição de Poltergeist?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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