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Lifeforce: Vampiros-alienígenas, Tobe Hooper e Cannon Films

Uma mistura insana digna dos anos 1980

25/08/2023

O horror dos anos 1980 nos presenteou com um sem número de misturas estranhas. Garras afiadas mixadas com pesadelos, máscaras de hockey com assassinatos de adolescentes, tarados de gargantas abertas e cabeças recheadas de pregos com um alto senso moral e estético. Mas poucos, leiam essas palavras, pouquíssimos filmes possuem tantos elementos misturados como Lifeforce (por aqui aclamado como Força Sinistra). E notem que a premissa do longa promete ser bem simples, com vampiros alienígenas drenando nossa força vital, literalmente, nossas almas.

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Já começamos o filme pensando seriamente em Star Wars, e até aí tudo bem, afinal de contas, todos pensavam nisso — e em como lucrar com isso — na década de 1980. Então somos subordinados a toda essa ambiência espacial, com naves e corpos celestes e créditos e apresentações surgindo em perspectiva. Dito isso, precisamos voltar para algumas explicações prévias.

Lifeforce foi baseado no romance The Space Vampires, de Cogarotalin Wilson, e chegou ao mundo em 1985, pelas lentes e mente de ninguém menos que nosso herói do horror, Tobe Hooper. Para refrescar sua memória, Hooper dirigiu entre outros petardos inesquecíveis The Texas Chainsaw Massacre, The Funhouse e Poltergeist. Até esse ponto tudo parece extremamente promissor, mas também precisamos falar da produtora por trás do milagre: Cannon Films. A Cannon era uma especialista em filmes de baixo e médio orçamento, dona de dúzias de películas infestadas de militares e metralhadoras e músculos e explosões… e peitos. Sim, você leu certo. Peitos. Femininos. Gratuitos. Eu recomendo inclusive que vocês deem uma olhadinha no catálogo da Cannon, vai de Braddock: O Super Comando a Desejo de Matar, praticamente um cardápio da TV aberta do Brasil nos anos 1980. Pois bem, levando em conta que é um filme da década de oitenta produzido pela Cannon Films, precisamos encarar algumas escolhas duvidosas nos diálogos e motivações dos personagens, além de uma dificuldade com os efeitos especiais para apresentar naves espaciais e o “espaço profundo” — sem mencionar (novamente) um exagero de armas e explosões e… peitos. Em contrapartida, esse filme foi dirigido por Tobe Hooper, ou seja: quando a mão pesada do terror aparece, ela chega com tudo.

lifeforce

Quando os créditos de abertura e a música orquestrada exagerada nos deixam em paz, estamos a bordo da espaçonave HMS Churchill, com seus astronautas americanos e ingleses (sem novidade até aí… nada de brasileiros, argentinos e russos). A motivação/missão da expedição logo é declarada: interceptar e estudar o cometa Halley. Talvez os mais jovens não se lembrem da passagem desse cometa pela Terra, visível a olho nu, mas causou um verdadeiro frisson, com mães fazendo oração e pais comprando lunetas e binóculos na última hora.

No filme, todos na Churchill podem chegar muito perto do cometa, graças a um “certo” motor especial, o Nerva, capaz basicamente de “criar gravidade” devido a sua aceleração constante. E então, o inesperado e inexplicável: existe algo escondido na nuvem de detritos que circunda o núcleo do cometa. É um discreto objeto de… 240 km de extensão! Uma possível nave que viaja escondida pelo cometa, a equipe de astronautas logo conclui. A impossibilidade de voltar a abordar o cometa (que só dá as caras no sistema solar a cada 76 anos) impulsiona os marinheiros estelares a darem uma espiada no tal objeto. Eles então simplesmente deixam a nave e vão flutuando até o cometa (aceitem mais essa, por gentileza). A coisa-nave-em-forma-de-agulha-de-240-quilômetros parece velha, desgastada, como se estivesse presa ao cometa há muito tempo.

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O interior da nave parasita é muito interessante, estranhamente orgânico. Nesse ponto do filme, sentimos claramente que estamos transitando de Star Wars para algo mais próximo do filme Alien. No interior da nave, existem esses seres parecidos com morcegos, morcegos gigantes, mortos e ressecados — ou estariam adormecidos?

Enquanto do lado de fora da Nave Churchill uma espécie de monstro Lovecraftiano se abre em forma de guarda-chuva, dentro da nave parasita, uma estanha e sedutora luz emerge ao final de um túnel. E o que ela esconde? Oh sim, vocês precisam ver isso, e não se deixem seduzir apenas pelos três corpos perfeitos e nus em animação suspensa.

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Perdemos o contato com a Churchill quando nossos intrépidos e geniais astronautas decidem resgatar esses corpos (e um morcegão). A base da missão fica nessa mesma situação de silêncio por trinta dias, então, a fim de descobrir o que aconteceu com a Churchill, uma segunda nave, a Columbia, é enviada. A nave resgate encontra uma Churchill vazia, que parece ter sido vítima de um incêndio. Todos mortos, exceto… os três seres aparentemente humanos em seus invólucros cristalinos de preservação.

Esse começo do filme é bem rápido, tudo é apresentado em menos de quinze minutos, dispensando muito das tradicionais enrolações de Hollywood.

No retorno da Columbia para a Terra, dilemas éticos se apresentam na base da missão: como se declara a morte de um ET? Estão realmente mortos? Por que eles são tão humanos e preservados? Bem, o caso é que enquanto essa questão não é respondida um dos guardas não resiste em dar uma espiada na garota-ET resgatada — a estupenda Mathilda May, não o culpem.

O guarda também não resiste a um toque físico que não entendemos claramente se tratar de abuso ou sedução promovida mentalmente pelo ser alienígena. E é aí que a coisa começa a acontecer pra valer.

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Lifeforce é um show de nudez feminina, afinal de contas, esse é um filme da Cannon. Mas mesmo com essa exploração, fica muito interessante a exposição da plena incapacidade masculina e ridícula em lidar com uma mulher nua (um grande ardil alienígena que funcionaria muito bem hoje em dia, dadas as devidas preferências). Segundo relatos de todos os homens e mulheres que se aproximaram, a fêmea alienígena é sexualmente irresistível. E não nos esqueçamos que ainda temos dois exemplares masculinos para colocar nessa bagunça. Obviamente a reação dos militares aos espécimes peladões masculinos é um pouco diferente, e em vez de dizerem “venham conosco por gentileza” eles distribuem uma chuva de balas e granadas. Sem dúvida um ótimo recurso para evitar que a audiência ficasse olhando homens pelados em plenos anos 1980 (estou rindo, mas essa é a pura verdade da época). De certa forma, existe um humor cortante em Lifeforce, e ele chega inclusive ao nome dos personagens. Um dos agentes se chama Bucovski (escreva diferente, mas a gente sabe que é o Bukowsky). Misture isso com o nome da nave “Churchill” e esse é só o começo da conversa. Buk e Winston Churchill, uma união que você nunca imaginou, confesse.

Os efeitos práticos de maquiagem são muito bons, um exemplo é o primeiro guarda que tem sua energia vital drenada. O momento de sua quase-morte e revitalização é icônico e pode ter sido inclusive um grande responsável pela reverberação do filme ao longo dos anos.

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Todos os efeitos “vampíricos-alienígenas” são bastante impactantes; e em todos eles notamos a mão pesada de Hooper, que transforma uma salada de intenções em um filme de terror lendário. Também descende de Hooper uma certa “irreverência civil” que acompanha muitos diálogos do filme, sobretudo os que trazem alguma autoridade militar ou governamental passando vergonha.

A intenção sexual também permeia todo o filme, oscilando entre o pertinente e o exagerado, mas sempre bastante digerível, e um pouco mais saboroso se levarmos em consideração as entrelinhas dessa super exploração e como realmente a humanidade permanece refém de seu impulso mais ancestral, o sexo. Agora, some a isso o fato de que sexo e vampiros não podem ser separados sem o derramamento de muito sangue.

lifeforce

O elenco é bastante competente, e além da entidade perfeita Mathilda May Lifeforce conta inclusive com um Patrick Stewart pré-Charles Xavier, interpretando Armstrong, diretor de uma casa para criminosos portadores de doenças mentais.

patrick stewart lifeforce

Em alguns momentos o filme escorrega bonito, quase se perde, e abusa de recursos como a hipnose, além da mistureba de sci-fi, ciência, religião e mitos vampíricos tradicionais. Existe essa sobrecarga de descobertas e deduções “científicas” que jamais são explicadas e o filme ainda tem a ousadia (super divertida inclusive) de sugerir que os vampiros tradicionais podem ser distorções dessas criaturas alienígenas.

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Por essas e outras intenções, existem essas frases que os personagens disparam durante o filme todo, como verdadeiros oráculos:

“Eu sei que é difícil acreditar.”

“Essa é mais do que uma crença, é a verdade.”

E a melhor de todas:

“Agora essa loucura pode acabar?”

Mas nudezes, almas vampirizadas e elos psíquicos à parte, esse é um daqueles filmes que vocês, tarados do horror, precisam conhecer. Então dedique algumas horinhas a apertar o play e apreciar esse filme. E não esqueça de fechar a porta se tiver crianças em casa. Afinal de contas, esse é um filme da Cannon…

Trailer você confere aqui:

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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