Entrevista • Medo Clássico

Lula Palomanes fala sobre caricaturizar mestres da literatura brasileira em Medo Imortal

Conhecidos pelas fotos clássicas impressas em livros didáticos e em suas próprias obras, os imortais da Academia Brasileira de Letras foram recriados no traço característico do ilustrador

19/09/2019

Lula Palomanes é desenhista autodidata e, com o passar dos anos, se firmou como ilustrador e cartunista nos principais veículos de imprensa do país. Suas ilustrações estão presentes no jornal O Globo, do extinto Jornal do Brasil, tem publicações na Playboy e em revistas internacionais. Atualmente trabalhando no Valor Econômico, Palomanes emprestou seu traço para a antologia Medo Imortal, com caricaturas dos principais escritores da literatura brasileira. Convidado pela DarkSide Books, o desenhista retratou figuras como Machado de Assis, Julia Lopes de Almeida, Álvares de Azevedo e todos os outros autores que revelaram e exploraram o lado gótico e sombrio da literatura brasileira.

Em entrevista ao DarkBlog, Palomanes falou sobre sua experiência de ilustrar Medo Imortal, suas referências e o atual cenário de sua profissão:

Como funciona a criação de uma caricatura? E como foi a sua pesquisa para compor autores tão distintos? Algum foi mais desafiador, em especial?

Alguns eu já havia desenhado, como o Machado de Assis, o Afonso Arinos e o João do Rio, esses foram mais fáceis. Talvez o Inglês de Sousa tenha sido o que deu mais trabalho. Eu parto sempre de uma ou mais fotos que eu tenha à minha disposição, pego quase sempre na internet; quando o personagem é muito conhecido por uma determinada imagem eu a uso como referência para o desenho, depois vou fazendo pequenos estudos em formato não muito grande até achar que compreendi a estrutura da forma e da personalidade do caricaturado, amplio aquele pequeno esboço e começo o trabalho de finalização do desenho, mas depois de finalizado se eu percebo alguma coisa que poderia ficar melhor refaço novamente o desenho.

Você tem trabalhos nos principais veículos do país e também na DarkSide. Como e quando você a sua paixão por arte e pelo desenho começou? E quais são as suas maiores influências?

Eu gosto de desenho desde sempre, muito pequeno eu já havia sentido essa paixão de maneira muito forte, sempre fui o desenhista da família e da turma em todos os colégios em que estudei quando garoto. A minha maior influência no desenho foi o Loredano, na caricatura principalmente, mas ela só se deu quando eu já tinha vinte anos de idade. Mas teve também o Lan, que foi a primeira influência, o J. Carlos, o Nássara, o Ralph Steadman e o Trimano. Quando menino eu colecionava revistas de arte ocidental clássica, barroca e religiosa que o meu pai comprava. Os mestres Velázquez, Rembrandt, Ingres, Picasso e Bacon são, na pintura, os meus preferidos.

Qual o seu autor favorito da literatura brasileira?

Nelson Rodrigues. Eu li tudo.

Em termos de crítica social e ironia, como você vê o cenário atual para o desenhista que publica seu trabalho em grandes jornais e revistas? Há liberdade para “se desenhar o que pensa”?

Liberdade tem, o que está diminuindo é o mercado. Os jornais estão fechando. Aumentou muito a possibilidade de se publicar, mas diminuiu a oportunidade de se ganhar dinheiro com isso, diminuiu os postos de trabalho e isso nos afeta, claro.