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Nightbeast: Quando o inesperado se torna cult

Um divertido achado que mistura sci-fi e horror

10/11/2023

Vamos começar pelo começo. Nightbeast não tem um início avassalador. Nada de grandes efeitos, grandes atores, nem pensar em um grande e irresistível gancho. Em contraponto existe um senso de amadorismo, honestidade e credibilidade, o que de certa forma acaba por dispensar todo o resto e nos faz mergulhar nesse filme.

Dirigido por Don Doohler em 1982 (batizado por aqui de Criatura da Noite), Nightbeast é uma daquelas produções que fatalmente cairiam no esquecimento não fosse a legião de fanáticos de horror e sci-fi que com frequência o trazem de volta — obviamente, esse é o caso da Firestar e de seu host, DarkBlog. E vamos complementar dizendo que Don Doohler é uma espécie de padrinho do cult-sci-fi-horror de baixo orçamento, e produziu vários filmes interessantes (e econômicos) que jamais chegariam a esse planeta sem a sua visão e energia.

Tudo começa com três homens acordando em um acampamento de caça e pesca, despertados por um ruído no céu. O estrondo foi causado pela passagem de uma espaçonave, que se acidenta no espaço e acaba por aterrizar na superfície terrestre. Não existe mistério na apresentação da nave ou da besta noturna, que simplesmente abre a porta e, como um viajante entediado, salta para a terra — sorte dele, porque a nave tem um pequeno probleminha a seguir. Despertados do sono alcoólico, os rapazes do acampamento decidem apanhar espingardas e “dar uma olhada”, enquanto a polícia se articula na pequena cidade de Perry Hall, Maryland.

Impetuosos e assustados, os homens armados do acampamento são surpreendidos por uma arma laser master-blaster-desintegradora da criatura, o que desenha que o filme será um teste de sobrevivência para as autoridades e moradores de Perry Hall (aparentemente a criatura, que lembra um macaco com sérios problemas ortodônticos vestindo um colã prateado, não ficou nada feliz em cair em nosso planeta e ser ameaçada pelo pessoal da espingarda).

A criatura segue pela mata fazendo novas vítimas e escapando das emboscadas. É interessante como, mesmo com poucos recursos, a direção consegue criar momentos de tensão verdadeiros e um gore bem pancadão e eficiente (temos inclusive uma cabeça decapitada e a remoção de intestinos sem anestesia ao longo do filme). A besta espacial mata como bem quer e decide, então às vezes ela usa sua arma laser, e em outras prefere as próprias mãos e dentes.

Com o estrago na zona rural da cidade, a polícia não demora a chegar, mas, mesmo com o reforço de alguns moradores, fica óbvio que a criatura anabolizada e sua arma laser master-blaster-desintegradora são um exército por si só, o que exige algumas soluções mais inventivas e eficientes da força policial local (os principais agentes em cena são o Xerife Jack Cinder e a oficial Lisa Kent).

Oh, sim! Existe um detalhe importante que você pode estar questionando.

Então uma nave alienígena invadiu o espaço terrestre, uma criatura anda desmaterializando gente por aí e o exército não se envolveu? Ou pelo menos a cidade vizinha? Claro que não, afinal de contas existe uma festa para o governador na agenda da prefeitura e de forma alguma um pequeno incidente intergaláctico poderia atrapalhar a celebração. “Era só o que faltava… Época de eleições, bajulações.”

Como se o xerife e seus colaboradores (o maior deles um civil, e também protagonista do filme, Jamie Lambert) já não tivessem problemas suficientes, aparece em cena Drago (interprestado por Don Leifert), um maloqueiro pré-assassino viciado em Budweiser que não pretende parar de praticar seus crimes mesmo com o ataque da coisa alienígena. E eis que temos todas as peças desse estranho xadrez.

No meio da desgraceira que aflige a cidadezinha, Nightbeast também traz bons momentos de humor e um deles é o cancelamento da festinha organizada para o governador — e a maneira como a interrupção é obtida. Aliás, os filmes da década de 1980 eram muito bons em ridicularizar as autoridades corruptas locais, talvez devêssemos reavivar essa chama e provocar um pequeno novo incêndio cultural (só uma dica, não me chamem de piromaníaco anarquista — de novo). Falando em fogo, as cenas mais “hot” do filme também são outro toque de humor, porque não fazem sentido algum para a trama, mas vocês conhecem a regra do horror dos anos 1980: sem nudez, sem filme! (mas não se animem muito).

Com todos os seus pequenos pecados, Nightbeast consegue nos vincular emocionalmente a alguns personagens, e entretém a audiência por incríveis 120 minutos, então nossa dica é que você assista esse filme com um senso de curiosidade otimista (sobre como era possível se fazer um filme interessante com pouquíssimo investimento), e humor, dessa forma será uma ótima visita!

Aliás, a título de curiosidade, quem fez a trilha sonora desse filme com apenas 16 anos foi J. J. Abrams, que décadas mais tarde dirigiria Mission: Impossible III, Star Trek (2009), Super 8 e os Star Wars: The Force Awakens e The Rise of Skywalker. Oh, e entre outros títulos, J. J. Abrams produziria os três Cloverfields (2008, 2016 e 2018).

Animou agora?

Então segura esse trailer intergaláctico!