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Alone in the Dark: Delírio, paranoia e redenção

Até você vai ficar com medo do escuro

13/10/2023

Alguns medos são ancestrais. O receio de ter nossa integridade física violada, o temor ante as piores tempestades, muitas vezes o medo de experimentar lugares desconhecidos. Mas existe sim uma fobia maior, mais comum e praticamente universal: o medo da escuridão. Talvez esse pavor injustificável se origine dos primórdios da evolução humana, ou das coisas rastejantes que ainda hoje nossos pés podem encontrar no escuro; quem sabe a culpa esteja nas ameaças invisíveis e perigosas que incluem até mesmo outros seres humanos. Em comum o fato: nada é pior do que a expectativa quando se está no escuro. E sozinho.

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O filme dessa sexta 13 (que não é o Sexta-Feira 13, mas conta com uma homenagem escondida na película) leva essa premissa a sério, e recebeu como nome de batismo justamente essa conhecida fobia. Alone in the Dark nasceu em 1982, pelas mãos e imaginação hábeis de Jack Sholder, e por aqui sofreu a fragilização do nome para Noite de Pânico. Mas vamos tirar todos do escuro e falar um pouco desse filme um tanto quanto icônico.

Nos primeiros segundos observamos um trailer, uma lanchonete. MOM’S diz o letreiro magenta, que empresta sua coloração ao chão ainda coberto por um espesso tapete de neve. É um começo interessante, onde a composição do ambiente nos leva a uma espécie de passeio onírico, seja pela ambientação interna da lanchonete, seja pelo tom bastante estranho dos diálogos de seus clientes. E obviamente tudo envereda pelas teias da loucura ao lado dos incomparáveis Martin Landau e Donald Pleasence, que simplesmente mapeiam esse ótimo início de filme.

alone in the dark

Da cena inicial somos lançados aos gritos na trama principal do longa, que se passa em um hospital psiquiátrico dirigido pelo Dr. Leo Bain (Donald Pleasence). Dr. Leo utiliza métodos experimentais e controversos para tratar seus pacientes, o que nos coloca em estado de alerta bem rápido. Conhecemos o hospital pelos olhos de nosso anfitrião, um segundo psiquiatra, Dr. Dan Potter, (recém-chegado na instituição para substituir um colega transferido) e será na companhia desses senhores que descobriremos que “talvez você precise ser um pouco louco para ser um bom psiquiatra”.

alone in the dark

Os internos, que, aliás, não recebem esse nome ou o de pacientes, sendo chamados de “viajantes”, são o próximo ponto de interesse, e conhecemos um a um com uma breve explicação de suas qualidades pré-loucura. Ronald “Gordo Molestador” Elster, Byron “Pregador” Sutcliff, Frank “Coronel” Hawkes”, John “Sangrador” Skaggs. Existem outros, como o encarregado da ala do terceiro andar, Ray Curtis, onde esses esquizofrênicos estão confinados, mas nos ateremos aos principais nesse começo.

alone in the dark

A loucura está por todos os lados, nos diálogos, nas expressões, nas reações, e todo devaneio segue sendo encarado pelo psiquiatra no comando (Dr. Leo) com uma boa dose de displicência. O problema maior é que não demora nada para os internos elaborarem uma teoria da conspiração acerca do antigo médico (acusando o novato Dr. Potter de matá-lo) e começarem a planejar a morte de seu substituto. Oh, sim, e essa morte de Dr. Potter precisa ser executada, por motivos jamais compreendidos, do lado de fora do hospital. Parece loucura. E de fato é…

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Algo muito interessante em Alone in The Dark é uma certa aproximação com as pessoas insanas, com suas ideias, com sua maneira de ver o mundo, que pode, sim, parecer razoável e, até mesmo, apresentar alguma lógica. Certas cenas e diálogos nos confundem, e temos com frequência essa falsa ideia de que existe uma sanidade incompreendida na mente dos viajantes, que eles estão em férias prolongadas de seus piores atos e hábitos e não pretendem interrompê-la.

E falando em mais detalhes peculiares, a irmã do Dr. Potter (recuperada de um esgotamento nervoso) vem passar uns dias com a família, e em sua companhia conhecemos a banda de rock The Sick Fucks que canta em um punk rock rasgado homenagens como “fatie, fatie sua mãe!”. É justamente nesse momento, no show, que um blecaute atinge toda a cidade, libertando a turma do controle manicomial e expandindo a loucura a um novo impulso.

alone in the dark

Para deixar tudo ainda mais insano, a cidade toda parece ter cedido aos seus impulsos mais baixos e se rendido a um frenesi violento e delinquente graças à escuridão, depredando comércios, assaltando pessoas, ateando fogo no que encontram pela frente. Sim, o cenário perfeito para nossos quatro cavaleiros insanos do apocalipse. No dia seguinte os tumultos são controlados pelas autoridades, mas o blecaute ainda continua. E adivinhem quem também continua à solta exibindo todo seu portfólio criminoso?

alone in the dark

O filme continua mantendo a tensão lá em cima, principalmente quando estamos na expectativa de algum ataque. Um ótimo trunfo de Alone in The Dark é explorar essa sensação de insegurança e paranoia, a ideia de que ninguém estará à salvo enquanto os quatro assassinos estiverem à solta. Mais do isso, existe a possibilidade de que qualquer um possa ser um fugitivo do hospital, e isso vai além dos quatro personagens principais. Crianças, jovens, adultos, idosos, todos são suspeitos.  Durante o filme, o alvo preferido continua sendo a família Potter, que acaba sendo obrigada a se refugir dentro de casa.

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Pode parecer loucura, mas posso ter falado mais do que devia, afinal, esse é um daqueles filmes que você assiste a fim de ser surpreendido, desafiado, muitas vezes impelido a acreditar em pistas falsas e tirar conclusões precipitadas.

Alone in The Dark é o filme de estreia do diretor Jack Sholder, e se tornou indispensável aos fãs do horror por uma série de motivos, e talvez o maior deles seja o elenco, que empresta atuações honestas e memoráveis a esse panteão de vítimas e lunáticos. O final do longa também deixa uma reflexão interessante, sobre “quem é quem” e por que algumas pessoas perdem — ou reencontram — o juízo.

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Antes que você enlouqueça de vez, aperte depressa esse play. Insano ou não, você vai amar esse filme (e só pra aumentar a ansiedade paranoica: tome trailer!).

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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