Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


Crânio

Novo livro de cabeceira? Não. Inferior é o Caralho é o novo livro de bolsa

Percebemos, ao ler a obra de Angela Saini, que devemos sempre estar atentos para não reproduzirmos o que é dito como natural e tomarmos como verdade o que não faz parte da gente

11/03/2019

Por Crib Tanaka, colaboradora do site Hysteria

“Homem tem instinto sexual enorme, é diferente de mulher. Não adianta! Mulher não tem desejo que nem homem.” — foi o que ouvi semana passada, da boca de um cara. Nem haviam passado 5 minutos desde que tínhamos sido apresentados

Peguei minha bolsa para levantar, quando um amigo, rebatendo o que ele disse, me olhou, pedindo para ficar. A conversa foi machucando, ao longo da noite. E, ao mesmo tempo, foi necessária. Refutamos, aterrorizados (essa é a palavra), todos os argumentos dele, mostrando como eram baseados, claramente, em uma cultura machista  —  onde todos nós vivemos e pela qual todos nós somos afetados  — , e não, de maneira rasa, em desculpas biológicas. Na hora, minha vontade foi ir até minha casa e pegar o Inferior é o Caralho  —  leitura que tem sido meu objeto de estudo e reflexão do ano  —  e colocar na mesa. Aberto em qualquer capítulo. Todos eram ali necessários.

Escrito por Angela Saini, publicado pela DarkSide Books e com prefácio da Heloisa Buarque de Hollanda, ele pontua, de uma maneira muito clara, como a recente presença feminina em papéis importantes dentro da academia científica e a falta de pesquisas feitas com e pensando nelas influencia, até hoje, nosso olhar sobre o nosso corpo, nosso comportamento e nossas relações.

São 8 capítulos que giram em torno do tema que tem sido um dos mais polêmicos no campo da pesquisa científica e que parece também servir de argumento para qualquer mesa de bar: a diferença entre os sexos. Para você ter noção, só neste milênio, segundo o New York Times, em 2013, já tinham sido publicados cerca de 30 mil artigos sobre as diferenças, abordando campo de linguagem, relacionamentos, maneiras de raciocinar, criação dos filhos, habilidades físicas e mentais. As pesquisas reforçam as diferenças e, por isso, Angela Saini investigou os estudos e as pessoas por trás deles, trazendo contexto para cada capítulo e a reflexão de que, sim, a biologia conta, mas a sociedade também desempenha um papel fortíssimo em nosso modo de viver e ver os outros.

LEIA TAMBÉM: 5 GRANDES FEITOS DE MULHERES QUE MUDARAM A CIÊNCIA

O livro traz abordagens jornalísticas apuradas, diversas e fáceis de entender, nem sempre agradáveis, trazendo tanto fatores comportamentais, como os biológicos. Tem ali a carta que Caroline Kennard enviou em 1881 questionando Darwin sobre a inferioridade feminina, em A Descendência do Homem, terminando com a observação que vale até hoje: “Deixe que o ambiente das mulheres seja semelhante ao dos homens, antes que elas sejam julgadas  —  de maneira honesta  —  e consideradas intelectualmente inferiores a eles, por favor”. Tem também os estudos em saúde infantil, como o de Joy Lawn, que mostram que, apesar dos homens serem, em média, mais altos e terem duas vezes mais força na parte superior do corpo, quando o assunto é sobrevivência, o corpo das mulheres tende a ser mais bem equipado (então, o que é ser forte?). Tem também os fatos pesquisados por Steven Austad, especialista em envelhecimento, que corrobora o que Joy fala, dizendo que mulheres parecem ter melhores perspectivas de sobrevivências em qualquer idade.

Um dos tópicos abordados que mais chamou a minha atenção foi o fato de que testes de novas drogas são feitos sempre em homens. Em meio a tantas discussões sobre anticoncepcionais, por exemplo (o que acontece desde que a pílula foi criada, como a gente pode ver aqui), por conta dos males que causam ao corpo da mulher, parei para pensar o quanto é perigoso tomarmos o que nos é receitado.

“É muito mais barato estudar um único sexo”

Contraditoriamente, ao se questionar porquê os testes são feitos só com eles, o argumento, além do custo, é de que se acredita que o corpo feminino seja semelhante ao masculino. Ainda contraditoriamente, mulheres em idade reprodutiva são excluídas de experimentos. Por quê? Porque seus hormônios influenciam no modo como ela responde a uma droga. Se influenciam no teste, influenciam na vida real… certo?

“Em 2001, Marius Rademaker, dermatologista, estimou que as mulheres são uma vez e meia mais propensas que os homens a apresentar reações adversas a uma droga. E em 2000, o Government Accountability Office dos Estados Unidos analisou dez medicamentos controlados retirados do mercado desde 1997 pela Us Food and Drug Administration (FDA). Estudando os efeitos adversos, a agência descobriu que oito deles ofereciam maiores riscos a mulheres. Essa lista incluía dois supressores de apetite, dois anti-histamínicos e um medicamento para diabetes. Quatro eram dados a muito mais mulheres do que homens. Isso se tornou preocupação para as ativistas da saúde da mulher.”

Estão lá outros temas como identidade de gênero e a influência de hormônios; as semelhanças de gostos entre meninos e meninas; os famosos 142 gramas que “faltam” no cérebro feminino (pelos estudos, chega-se à conclusão de que biologicamente não temos maior capacidade de memória verbal, habilidade social ou expressar emoções); o mito da vontade nata feminina de querer ser “do lar”; a propensão delas a serem mais seletivas, e não castas; e as avós como força dinâmica de transformação, fundamental para conquistas e avanços que fizemos na vida (se você leu A Ciranda das Mulheres Sábias, de Clarissa Pinkola Estés, vai curtir muito essa parte).

Inferior é o Caralho me deixa como missão ficar alerta: a nós mesmas e ao entorno. Para não reproduzirmos o que é dito como natural e tomarmos como verdade o que não faz parte da gente. E fica a esperança compartilhada, nesta fala de Angela Saini:

“Para mim, essa batalha representa a fronteira final para o feminismo. Ele tem o potencial de derrubar a maior barreira que ainda se ergue entre as mulheres e a plena igualdade  —  a barreira em nossa mente.”

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

A Vida não me assusta
R$ 54,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
O Diário de Myriam
R$ 44,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
Inferior é o Car*lhø
R$ 69,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
CuriosidadesNovidades

Tradições de Natal com desfechos violentos

Essa semana o que era para ser um singelo desfile de Natal em Salvador quase acabou em...

Por Liv Brandão
CuriosidadesMedo Clássico

Quem são as noivas de Drácula?

Seja no Drácula clássico, escrito pelo próprio Bram Stoker, ou em releituras de...

Por DarkSide
ArtigoE.L.A.S

Por que livros de mistério são tão satisfatórios

Por Tana French, autora de Árvore de Ossos Eu tinha apenas 6 anos quando me apaixonei...

Por DarkSide
CuriosidadesE.L.A.S

A inspiração de Megan Miranda para escrever Sobreviventes

Quando Megan Miranda estava passando suas férias em Porto Rico com a família, jamais...

Por DarkSide
Conto ExclusivoMúsica

A mixtape perfeita para ouvir lendo os Contos de Natal Dark

Então é Natal e ninguém mais aguenta essa música. Ainda bem que os autores dos...

Por DarkSide