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O que é o Folie à Deux no estudo de criminosos?

Conheça casos reais deste raro fenômeno psiquiátrico

12/09/2024

Nos últimos tempos o termo folie à deux ganhou popularidade entre os cinéfilos e fãs da cultura pop por ser o subtítulo do novo filme do Coringa, consagrado arquivilão do universo do Batman, estrelado por Joaquin Phoenix. Na nova produção ele estará acompanhado da vilã Arlequina, interpretada por Lady Gaga, uma parceria que incorpora o termo à trama.

LEIA TAMBÉM: De Pogo a Coringa

Mas você sabia que o termo francês, que pode ser traduzido livremente como “loucura a dois”, é uma expressão utilizada no estudo de criminosos? Ela é citada por Harold Schechter no livro Serial Killers: Anatomia do Mal, best-seller absoluto do selo Crime Scene® e livro obrigatório para todo entusiasta dos estudos de caso sobre o tema.

O que é Folie à Deux

Criado em 1877 pelos psicólogos franceses Lasèque e Fabret, naquela época folie à deux se referia a um raro fenômeno psicológico em que duas ou mais pessoas intimamente relacionadas compartilham o mesmo distúrbio psicótico. Normalmente ele ocorre entre membros da mesma família, mas isso não é uma regra.

serial killers anatomia do mal

Hoje em dia a expressão é utilizada para escrever algo ligeiramente diferente: em vez de uma fantasia paranoide compartilhada, o folie à deux é um vínculo maligno entre duas pessoas que, juntas, afloram o pior em cada uma, incentivando-se mutuamente a engajar em atos criminosos que nenhum dos dois cometeria por conta própria — aqui temos um possível furo de conceito no novo Coringa, já que no primeiro filme ele não precisou de uma parceira para cometer atos violentos.

Na maioria dos casos de folie à deux, há uma personalidade dominante que toma a iniciativa de fomentar e planejar os crimes, enquanto o subordinado atua como cúmplice entusiasta. O psicólogo Horace B. English até já brincou que o termo mais apropriado seria “matança a dois”, e não loucura a dois. Há ainda casos raros envolvendo trios ou até quartetos. 

3 Exemplos de folie à deux reais

É importante destacar que nem todas as duplas que engajam no folie à deux são de assassinos em série. Da mesma forma, nem todos os psicopatas que se unem para cometer assassinatos em série são exemplos de folie à deux. O termo só se aplica a duas ou mais pessoas que, embora propensas ao crime, nunca mergulhariam no assassinato se não tivessem sido encorajadas por um parceiro entusiasmado.

Confira alguns casos conhecidos que se enquadram na classificação:

1. Os assassinos do Massacre de Columbine

Um dos maiores mitos que existem até hoje sobre o Massacre de Columbine é de que ele teria sido motivado por uma situação de bullying e vingança. Só que o trágico episódio não se encaixa nos moldes habituais de tiroteios em massa, que costumam ser mais impulsivos e aleatórios. Conforme aprendemos com Dave Cullen no livro Columbine, Eric Harris e Dylan Klebold passaram mais de um ano planejando o atentado, com a intenção de que fosse algo grandioso, atacando não apenas as pessoas da escola, mas uma verdadeira instituição do estilo de vida norte-americano.

columbine

Especialistas que trabalharam no caso, como o psiquiatra Frank Ochberg e o agente do FBI que liderou a investigação e psicólogo Dwayne Fuselier, apontam que Eric Harris e Dylan Klebold eram indivíduos radicalmente diferentes, ambos com motivações e condições mentais distintas. Klebold era cabeça-quente, e ao mesmo tempo depressivo e suicida, enquanto Harris era mais frio, calculista e também homicida. “Klebold sofria internamente, enquanto Harris queria causar sofrimento em outras pessoas”, disse Fuselier. O segundo, na visão de psiquiatras, era muito mais do que um garoto perturbado, ele era um verdadeiro psicopata.

O diagnóstico transformou a maneira como a parceria era vista: Klebold e Harris não eram parceiros igualitários, Harris era a força dominante, configurando a dinâmica do folie à deux. Ochberg teoriza que os dois assassinos se complementavam: o frio e calculista Harris acalmava Klebold quando ele se irritava. Ao mesmo tempo, os ímpetos agressivos de Klebold davam o estímulo que Harris precisava.

2. Pauline Parker e Juliet Hulme

As adolescentes da Nova Zelândia chocaram o mundo em 1954, quando as duas assassinaram a mãe de uma delas. Pauline Parker e Juliet Hulme eram amigas inseparáveis que criavam histórias e praticamente todo um universo só das duas — elaborando até sua própria religião. Só que tamanha união passou a não ser vista com bons olhos pela mãe de Pauline, Honorah, que se preocupava com a possibilidade das suas estarem em uma relação homossexual.

Pouco depois da separação dos pais de Juliet (em meio a outras crises familiares), eles decidiram que ela deveria morar na África do Sul com parentes, pelo bem da saúde da garota. As duas queriam que Pauline fosse junto — ou até mesmo que as duas se mudassem para os Estados Unidos —, algo que a mãe dela jamais permitiria. A solução vislumbrada pelas duas foi a de assassinar Honorah a pauladas e tentar fazer parecer um acidente — o caso real é analisado no livro Almas Gêmeas, de Peter Graham, publicado pelo selo Crime Scene®.

almas gêmeas

Psiquiatras consultados no julgamento das duas apontaram que elas estavam sofrendo de paranoia exaltada na configuração de folie à deux, alimentando estranhos delírios, como opiniões infladas de modo fantasioso quanto à genialidade, singularidade, talento e sensação de grandeza. Nesse caso específico, o folie à deux era do tipo simultanée, com cada garota desenvolvendo psicoses simultâneas e “ecoando” os delírios uma da outra entre idas e vindas

3. Mary Bell e Norma Bell

Mary Bell é uma assassina que ficou conhecida pelas mortes de duas crianças: Martin Brown, de 4 anos; e Brian Howe, de 3 anos de idade. Para tornar o caso ainda mais incomum, Bell tinha apenas 10 e 11 anos quando cometeu os crimes (o primeiro foi cometido na véspera do seu 11º aniversário), mas sua infância também contemplou outros atos de violência contra crianças e o caso é estudado no livro Anjos Cruéis, que investiga a maldade infantil.

anjos cruéis

O motivo para ela estar relacionada ao folie à deux é porque a jovem tinha uma amiga próxima, que acabou sendo sua cúmplice em algumas ocasiões, Norma Bell, que, apesar do sobrenome, não era parente de Mary. As duas chegaram a ser julgadas pelos homicídios, que chegaram a Mary com a ajuda da confissão de Norma, que foi cúmplice até certo ponto, mas que também foi apontada como homicida pela amiga, que tentou lhe transferir toda a culpa.

As mentiras e postura de Mary diante do caso foram decisivas para que o promotor a apontasse como a semente do mal, que influenciou negativamente a amiga. O relacionamento das duas se assemelha ao folie à deux pois Mary influenciava Norma, apontada como de inteligência inferior e sugestionável, em suas atividades criminosas. Na visão da promotoria, Norma engajou em alguns dos atos violentos de Mary e se tornou sua cúmplice simplesmente por estar no lugar errado e na hora errada. Ao fim do julgamento, Mary foi condenada pelos crimes, enquanto Norma foi absolvida.

LEIA TAMBÉM: O que os filmes Psicopata Americano e Coringa têm em comum?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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