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O que foi a partição entre Índia e Paquistão

Conflito devastou vidas e causou traumas em pessoas das duas nações

26/09/2024

O ano era 1947. Após anos de domínio britânico, a Índia finalmente alcançava sua tão sonhada independência. Um ano antes, em 1946, o último vice-rei havia, enfim, marcado a data para a transição de poder: 15 de agosto de 1947. A partir desse dia, a colônia seria então dividida em dois estados soberanos: a União Indiana (posteriormente República da Índia) e o Domínio do Paquistão (mais tarde República Islâmica do Paquistão). 

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No entanto, o que era para ser uma celebração, em questão de horas se tornou um sangrento pesadelo quando tensões seculares e rivalidades religiosas, incentivadas pelo domínio colonial, deixaram um rastro de violência. Milhões de pessoas foram desalojadas e milhares de outras acabaram sem vida. Era o início de uma longa e violenta inimizade entre os dois Estados

A chamada partição da Índia e do Paquistão deixou para trás um banho de sangue e traumas nas duas nações. Esse evento trágico é abordado em O Diário de Nisha, da autora Veera Hiranandani, e Menina Deusa, de Nikita Gill. Ambas as obras, lançadas pela DarkSide® Books, mostram a dura realidade da Partição pelo ponto de vista de duas garotas encantadoras em busca de suas identidades e seus lugares no mundo, sempre esperançosas por um futuro melhor. 

menina deusa

Mas afinal de contas, o que causou tanto conflito? Por que a partição aconteceu? 

Séculos de dominação e tensões 

De 1858 a 1947, a Índia esteve sob controle colonial da Grã-Bretanha, a qual tirava riquezas e recursos naturais do território. O Raj Britânico, como ficou conhecido, foi dividido em “estados principescos”, os quais eram supervisionados por governantes locais sob supremacia britânica, e outras províncias locais, administradas diretamente pela Coroa.

Para manter o domínio e desencorajar possíveis rebeliões, os britânicos passaram a utilizar a religião para dividir a população em categorias, enfatizando diferenças religiosas, étnicas e segregando as pessoas pelas crenças e cor de pele. Vale lembrar que na época a população da Índia era majoritariamente hindu, com cerca de 25% de muçulmanos. Ainda havia adeptos de outras religiões, como o sikhs, os budistas e os cristãos. 

o diário de nisha

Quando os indianos finalmente conquistaram uma limitada atuação política, os administradores britânicos continuaram reforçando essa separação. Nas eleições locais, por exemplo, foram criadas listas segregadas de eleitores muçulmanos e hindus, assim como havia cadeiras reservadas para políticos muçulmanos e outras para políticos hindus. A busca para alcançar posições na política colocava hindus e muçulmanos uns contra os outros, sendo a religião um fator-chave nesse processo. 

As tensões aumentaram ainda mais em 1905, quando o vice-rei britânico dividiu Bengala, a maior província da Índia, em duas partes: uma de maioria muçulmana e outra de maioria hindu. Por mais que a divisão tenha durado pouco tempo, acabando em 1911, foi o suficiente para fortalecer rivalidades e incentivar um crescente movimento de independência, que se fortaleceu no século XX liderado pelos ativistas Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru no Congresso Nacional Indiano. Além disso, a divisão também fortaleceu a formação da Liga Muçulmana, a qual lutava pelos direitos muçulmanos no território. 

Contudo, quando a independência começou a parecer algo real, muitos indianos muçulmanos passaram a ficar preocupados, achando que seriam oprimidos pela maioria hindu. Isso fez com que apoiassem líderes da oposição que clamavam por um estado muçulmano separado. Desta forma, foram acentuadas as discordâncias entre o Congresso Nacional Indiano, encabeçado por Gandhi e Nehru, os quais acreditavam que a Índia deveria ser um Estado unificado, e a Liga Muçulmana, liderada por Muhammad Ali Jinnah, o qual exigia a autonomia por meio da criação de uma nova nação chamada Paquistão.

jinnah e gandhi

Em 1946, Jinnah convocou uma série de protestos, afirmando que a Índia ou seria dividida ou então destruída. Isso resultou em diversos tumultos e conflitos entre os dois grupos em Calcutá, na capital da província de Bengala. Estima-se que 4 mil pessoas foram mortas, 10 mil ficaram feridas e 100 mil acabaram desabrigadas. Para piorar, intensificou-se a desconfiança e rivalidade entre as comunidades.

Enquanto a Índia beirava a uma guerra civil, a Grã-Bretanha decidiu abrir mão de seu domínio e iniciou sua retirada do local em março de 1947. A divisão era a solução mais rápida e simples para o conflito e o Lord Louis Mountbatten, primo do rei George VI e vice-rei, convenceu os líderes a aceitarem a criação de dois estados: a Índia, com maioria hindu, e o Paquistão, com maioria muçulmana

A Partição

As novas fronteiras foram então traçadas por Cyril Radcliffe, um funcionário britânico que teve apenas cinco semanas para dividir o país e demarcar os territórios. O problema? Radcliffe e sua equipe não possuíam experiência cartográfica e não conheciam a cultura e a política indianas. Para piorar, o britânico nunca havia posto os pés na Índia! Ele traçou uma “linha” de demarcação e dividiu o território em duas províncias com cerca de metade para cada novo estado. A Índia ficou com a parte central e sul, e o Paquistão com duas partes no noroeste e nordeste.

plano de partição índia e paquistão

O segundo problema? Para começo de conversa, os grupos religiosos estavam espalhados por toda a Índia, o que fez com que milhares de hindus e muçulmanos ficassem “presos” na nação “errada”, forçando o deslocamento de milhões de pessoas por centenas de quilômetros. Para piorar, o Paquistão não foi delimitado como uma nação contígua, ou seja, parte de seu território ficava ao noroeste, enquanto outro pedaço, denominado Paquistão Oriental, em Bengala, ficava separado a mais de mil quilômetros a oeste. 

Tudo isso culminou em um dos maiores e mais brutais episódios de migração humana da história. Sem saber direito a qual país pertenciam, mais de 15 milhões de pessoas deixaram suas casas em direção a novas e incertas fronteiras. Em diversos casos, elas nem tiveram escolha e foram violentamente expulsas de suas residências por grupos adversários. 

Quando o status de minoria e maioria mudou da noite para o dia, a antiga rivalidade e rancor entre hindus e muçulmanos eclodiu brutalmente, levando à formação de milícias e grupos paramilitares. Cidades como Punjab e Bengala, por exemplo, foram palco de batalhas sangrentas. Multidões atacaram umas as outras; prédios foram incendiados; casas e estabelecimentos comerciais saqueados; famílias brigaram entre si e milhares de mulheres, tanto hindus quanto muçulmanas, sofreram violência sexual. Estima-se que entre 200 mil e um milhão de pessoas foram assassinadas ou faleceram em campos de refugiados

campo de refugiados

A Grã-Bretanha, por sua vez, não fez nada para conter a violência e em 1948, Mahatma Gandhi foi assassinado por um nacionalista hindu. Na década de 1950, com a diminuição da violência, foi então estimado que mais de 3 milhões de pessoas estavam desaparecidas ou mortas.

As consequências da Partição

Desde a divisão, a Índia e o Paquistão possuem uma relação tensa e nem um pouco amigável entre si. Ambas as nações disputam até hoje o controle da província da Caxemira e já travaram duas guerras pelo território, uma em 1947 e outra em 1965. 

A geografia do Paquistão também impulsionou conflitos internos, que levaram à reivindicação da independência do Paquistão Oriental, hoje conhecido como Bangladesh. Após anos de disputa e insatisfação, Bangladesh declarou sua independência em 1971, sendo auxiliada militarmente pela Índia. O Paquistão tentou conter a revolta e desencadeou uma guerra de oito meses que levou ao genocídio de milhões de civis. 

conflito partição

Setenta e sete anos depois, a Partição continua uma ferida aberta e extremamente dolorosa na vida de hindus e muçulmanos. A Índia e o Paquistão continuam disputando territórios entre si e entrando em conflitos e ataques às fronteiras. A divisão em 1947 também criou e fortaleceu maiorias religiosas e nacionalistas nos dois países, vulnerabilizando os outros grupos tidos como minoritários. Até hoje a Partição é tida como um dos eventos mais sangrentos e brutais da história mundial.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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