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Pin: Um Trauma feito de loucura e plástico

Doentio na medida certa

14/06/2024

Alguns filmes sempre foram raros no Brasil, outros acabaram sendo subestimados e desapareceram, mas alguns clássicos viscerais só podem ser resgatados depois de um garimpo profundo nas pilhas de revendas de VHS. Esse é o caso do filme de hoje.

pin

Baseado no obscuro romance homônimo de Andrew Neiderman, Pin foi gerado em 1988, dirigido por Sandor Stern, e no Brasil foi renomeado de Pin – Uma Jornada Além da Loucura (não vamos demorar muito para explicar que se trata de loucura mesmo, e da melhor qualidade).

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Começamos com um grupo de crianças curiosas se interessando por um morador dos arredores. O homem fica parado à janela, não se move, parece paralisado, ou até mesmo algo inumano, um boneco. Ele está apenas parado à janela do segundo andar, olhando para o mesmo ponto, desafiando que alguma daquelas crianças ouse descobrir quem ou o que ele realmente é. O que sabemos nesse ponto, é que a coisa está viva, de alguma forma está viva. E somos convidados a descobrir mais respostas voltando 15 anos no passado.

Agora estamos com a família do doutor Frank Linden (interpretado pelo sensacional Terry O’Quinn), e experimentamos seus métodos educacionais nada ortodoxos e um pouco rígidos demais com seus dois filhos, Leon e Úrsula.

PIN

A fim de ser o mais didático (e esquisito) possível, doutor Linden possui um boneco anatômico de plástico translúcido — Pin — como um companheiro de ensino. Por meio de ventriloquismo, doutor Linden conversa com Pin e entretém as crianças consultadas e seus próprios filhos enquanto ele trabalha e ensina. Tudo já seria bem estranho se Pin fosse um boneco comum, mas para alegria de todos ele é esse boneco anatômico, no qual toda sua musculatura e alguns órgão externos estão visíveis através do plástico (sendo bem sincero, Pin se parece ligeiramente com o tio Frank de Hellraiser sendo reconstruído no sótão).

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Infelizmente os problemas das crianças, principalmente de Leon, não se resumem às excentricidades do pai, mas também ao perfeccionismo e vício de organização e limpeza da mãe, que obviamente não aprova as amizades do filho e pretende mantê-lo o máximo possível em casa, longe de tudo e de todos que não sejam ela e sua personalidade narcisista. Naturalmente o menino se isola, e tenta encontrar em Pin o que gostaria de encontrar nas pessoas reais. As duas crianças já estão entrando na pré-adolescência, então o filme também aborda essa questão, e como a sexualidade mal apresentada pode disparar problemas que já se encontram incubados, mesmo em pessoas tão jovens.

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Desse ponto em diante saltamos de volta ao futuro, onde as crianças Leon e Ursula já são adolescentes, bem perto de se tornarem adultos. Aos 15, Ursula aparenta ser uma garota normal, um pouco precoce com toda força da sexualidade despertando e sendo aceita, o oposto do que ocorre com seu irmão, que se tornou superprotetor, solitário e violento com os pretendentes de sua irmã. E para piorar muito o estado de tensão entre eles, Ursula confidencia ao seu irmão, como um pedido de ajuda, que ela pode estar grávida, aos 15 anos!

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Sem opções, os irmãos decidem recorrer a Pin, mesmo que Ursula não acredite que o boneco anatômico possa falar. Mas não é assim que Leon pensa, mesmo depois de tantos anos, ele acredita cegamente que o boneco seja capaz de se manifestar. O que acontece logo depois é algo ainda mais estranho, e digamos que Pin encontra uma maneira de falar com os dois.

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A situação da gestação acaba sendo resolvida pelo pai dos irmãos, mas agora o doutor Frank Linden descobre que seu filho está se comunicando com Pin, e de uma forma que pode ser bastante perigosa. Assustando, Frank decide doar Pin para uma associação de médicos e se livrar dele para sempre. E quem se livra na verdade é Pin, já que o médico sofre um acidente com o carro e falece, juntamente com sua esposa, deixando Leon e Ursula órfãos.

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Não é tão ruim quanto parece, afinal, os irmãos estão livres do excesso de autoridade imposto pela mãe e pelo pai. Leon está mais leve, mais feliz, Ursula também parece compartilhar dos mesmos sentimentos.

Algo que também é muito, muito estranho nesse filme, é que mesmo sabendo (ou pensando que sabemos) que Pin é um boneco “dublado” pelos homens da família Linden, é impossível ter certeza absoluta. Um dos méritos da direção (além de uma ótima escolha de atores) é conseguir nos confundir, mesmo com toda a verdade exposta durante as cenas. E logo Pin está de volta, único sobrevivente do acidente, e considerado um membro da família por Leon Linden.

A fim de ser tutora dos irmãos menores de idade, Dorothy, irmã da falecida mãe, se muda para a mesma casa, mas Leon e Pin não gostam nada disso, porque tia Dorothy parece ter o mesmo DNA organizacional exagerado da sua falecida irmã. Com uma forcinha de Pin, a estadia de Dorothy não dura muito, e ela se muda direto para o cemitério depois de ter uma parada cardíaca.

Com seu caminho livre novamente, Leon decide dar alguma dignidade a Pin e inseri-lo de vez na família. Leon lhe proporciona pele, cabelos, roupas e sapatos. Com tudo isso acontecendo, Ursula, já bastante desconfiada que seu irmão é esquizofrênico, precisa fingir aceitar tudo o que Leon promove, a fim de não o irritar e se tornar mais uma vítima de Pin. Mas tudo tem um limite, e Ursula explode e expõe o absurdo daquela situação ao seu irmão. Eles entram em uma espécie de acordo depois, mas não está tão bom assim para o velho Pin.

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Deixando tudo ainda mais delicado, “A Vontade” finalmente desperta em Leon, e isso o coloca em confronto consigo mesmo e com seu único bom amigo, Pin, e acho que é hora de não dizer mais nada, exceto que esse filme vale sua locação.

Doentio na medida certa e abordando a humanização de um boneco a fim de compensar a ausência de carinho humano, Pin nos coloca em confronto com nossa própria solidão e isolamento, e até onde estamos dispostos a chegar para nos livrarmos desses sentimentos. Se pareceu um certo exagero, eu posso compreender, mas pelo menos assista a esse filme: Pin pode fazer você mudar de ideia bem rápido.

Se vamos deixar o trailer?

Claro que sim!         

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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