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Podemos dizer que O Pinguim é a união de Batman com Família Soprano?

Série sobre o vilão surpreende fãs e crítica

21/11/2024

De um lado temos o Cavaleiro das Trevas, o Morcegão que conquistou os quadrinhos e os cinemas com diferentes franquias de filmes do Batman. Do outro, temos Tony Soprano, o personagem que revolucionou a história da TV e as narrativas em torno da máfia, entregando um capo absolutamente humano e falível. Em que mundo esses dois universos coexistiriam e se complementariam de alguma maneira? A resposta está na série O Pinguim, um dos maiores sucessos da HBO em 2024.

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Se você acompanha as histórias do Batman somente nos cinemas é mais difícil entender como esses universos se encontram, até porque a sua lembrança do Pinguim deve ser a do caricato Oswald Cobblepot de Danny DeVito em Batman: O Retorno

Já os fãs mais familiarizados com o universo dos quadrinhos do Batman entendem muito bem o que o difere dos super-heróis de collants coloridos e por que ele é apelidado de Detetive. Muito além dos vilões confinados no Asilo Arkham, a cidade de Gotham conta com uma complexa teia de crime organizado, com famílias mafiosas rivais, corrupção policial e muitos elementos que aproximam essas HQs de histórias policiais. 

o pinguim máfia

E é esse lado que recebe os holofotes em O Pinguim, um spin-off do último filme Batman, de Matt Reeves e estrelado por Robert Pattinson, que nos apresentou a um irreconhecível Colin Farrel no papel de Oz, o próprio Pinguim em uma caracterização que tem muito menos de Danny DeVito e muito mais de James Gandolfini.

Gângsters da costa leste

Se você já assistiu a Família Soprano e agora assistiu a O Pinguim é bem provável que tenha sentido algo bem familiar rolando. O sotaque, o timbre da voz e até alguns trejeitos de Oz lembram bastante o patriarca Soprano. Mas segundo o próprio Colin Farrell não foi algo intencional: embora sua pesquisa tenha se concentrado nos gângsters da costa leste, ele evitou reassistir a Família Soprano: “Isso teria me estragado”, garantiu.

Mas a comparação é absolutamente justificável, uma vez que Oz compartilha com Tony Soprano o sotaque, o estilo de vida mafioso, uma ética um tanto peculiar da qual ele não consegue escapar, uma relação complicada com a mãe e a tal nostalgia pelos “bons tempos”, de quando o crime era “bom e honesto” na cidade.

família soprano

Não é apenas da Caveira que esses paralelos chamaram a atenção. A GQ escreveu um artigo a respeito e a Digital Spy até chamou O Pinguim de “a sequência espiritual de Família Soprano que não sabíamos que precisávamos”. Veículos como Evening Standard, The Independent e The Hollywood Reporter também fizeram comparações. 

O quanto O Pinguim tem de Família Soprano?

A julgar somente pela ambientação, já temos um paralelo bem válido. Por mais que Gotham seja uma cidade do universo do Batman e a sequência no Asilo Arkham pareça saída dos quadrinhos (no melhor sentido possível), O Pinguim tem uma história que poderia facilmente se passar na Nova York dos dias de hoje — a cidade, inclusive, segue sendo a principal inspiração para Gotham — ou até mesmo New Jersey.

A produção tem toda aquela aura de realismo mafioso que Família Soprano cultivou tão bem, com sobrenomes italianos e xingamentos no mesmo idioma, personagens de cabelos besuntados em pomada, as intrincadas conexões familiares, reuniões em casas noturnas e outros aonde você não levaria a sua avó.

o pinguim

Apesar da fama de maus, Oz e Tony Soprano compartilham um lado mais sensível. Em Família Soprano isso fica evidente nas sessões de Tony com a psicóloga. Já em O Pinguim, percebemos isso nas visitas de Oz à sua mãe. Ambos, aliás, mantêm relações complicadas com as mães que, apesar de tudo, eles ainda amam, cuidam e se preocupam — ênfase no “apesar de tudo” para Tony Soprano.

É claro que não podemos estender as comparações quanto à qualidade, até porque não seria uma batalha justa. Família Soprano surgiu em um contexto muito diferente de televisão, no final dos anos 1990, e ditou muitas regras para personagens e narrativas que observamos até hoje. É justo dizer que sem Família Soprano não existiria O Pinguim — e o legado da série de David Chase pode ser melhor compreendido graças ao livro Família Soprano: Menu de Episódios.

Mas isso não diminui em nada a qualidade que O Pinguim entrega: a história tem um enredo muito bom, que mescla a ambientação e a complexidade do crime organizado em Gotham com estudos de personagens, e ao mesmo tempo não deixa a peteca cair quanto ao ritmo da história: todo episódio tem um acontecimento importante, alguma reviravolta ou marco que leva a narrativa adiante. Não existe episódio dispensável aqui.

o pinguim

O Pinguim possui um cuidado com ambientação e construção de personagens, conferindo camadas à história de uma maneira que as produções de super-heróis não conseguem. Neste sentido, O Pinguim se aproxima muito mais de Família Soprano do que de um filme da Liga da Justiça ou dos Vingadores.

As nuances pessoais e morais de Oz são o principal motivo pelo qual a série funciona tão bem. Como todo bom anti-herói, ele é um daqueles personagens que a gente não sabe se ama ou odeia. Sim, ele é um criminoso, o que o colocaria na categoria dos vilões, porém, tal qual Tony Soprano, ele não se encaixa tão bem nesse estereótipo, de ser mau o tempo inteiro. 

Com uma série encomendada para ter apenas uma temporada, é incerto se veremos Oz aprofundando seus dilemas no mundo do crime como Tony Soprano fez ao longo de seis temporadas. Mesmo que a história se encerre aqui, O Pinguim sem dúvida traz para os fãs certa nostalgia e preenche um pouco a lacuna deixada por Família Soprano.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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