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Precisamos falar sobre câncer

Uma conversa franca sobre o assunto

04/02/2022

Câncer é algo que ainda assusta muita gente. Apenas pensar ou falar sobre o assunto já causa medo, mas é importante compartilhar seus sentimentos com as pessoas próximas para encarar o tratamento de forma leve desde o início. Foi dessa forma que o ilustrador Brian Fies lidou com o câncer que sua mãe desenvolveu: criando uma tirinha de internet que depois foi editada e virou livro publicado pela DarkSide® Books. Para conhecer melhor a história de Brian e como foi ilustrar o tratamento de sua mãe, a Caveira traz uma matéria especial sobre o assunto.

Brian Fies é formado em Física e Inglês (ele mesmo diz que sua 2ª graduação foi “por acaso”). Em suas entrevistas, ele conta que sempre desenhou e sempre fez quadrinhos, chegando até mesmo a enviar amostras para jornais e revistas, apesar de não ter conseguido publicar nada na área até poucos anos atrás. Quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de pulmão, ele criou uma tirinha online para compartilhar tudo o que acontecia e, em pouco tempo, ela se tornou viral, rendendo prêmios e a chance de transformá-la em livro. Em entrevista de 2005, antes mesmo do livro ser publicado, ele contou sobre o início do projeto.

“Quando minha mãe foi diagnosticada com câncer de pulmão, fomos atingidos por coisas para as quais ninguém prepara você, e tive a ideia de comunicar de alguma forma essas observações que gostaria que alguém tivesse compartilhado comigo. Então um dia levei minha mãe para a quimioterapia e, para passar o tempo, fiz um desenho dela cochilando na cadeira. Eu olhei para ele e pensei: ‘Huh. Agora isso é algo.’ Comecei a fazer anotações, esboços e basicamente tentei capturar tudo o que parecia interessante sobre a experiência da minha família. Eu não acho que Mamãe está com Câncer funcionaria como prosa, mas como uma história em quadrinhos tudo se encaixou para mim.”

O que poderia ser uma experiência triste ou traumática se tornou uma bela e profunda história em quadrinhos. Na mesma entrevista, Fies conta como se deu esse processo:

“A primeira coisa que minha esposa disse foi: ‘Bem, pelo menos será uma boa terapia para você’. Isso me deu um certo distanciamento emocional, e sentar e escrever sobre esses eventos ajudou a classificá-los e colocá-los em perspectiva. Eu estava pegando algo ruim e tentando transformá-lo em algo bom. Funcionou para mim.”

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A honestidade e simplicidade com a qual ele relata a luta de sua mãe e da família foram importantes para que o quadrinho se tornasse um sucesso. Durante o período em que estava publicando os quadrinhos, Fies se negou a dar entrevistas, pedindo para que as pessoas pudessem esperar até que ele tivesse terminado o projeto.

“Inicialmente, coloquei Mamãe está com Câncer na Web quando estava quase na metade para solicitar a opinião de alguns fãs de quadrinhos e cartunistas em cujo julgamento eu confiava. Eles me deram um ótimo feedback, mas o que eu não contava era que eles contariam a dois amigos, e eles contariam a dois amigos, e assim por diante… Qualquer atenção que tenha recebido foi quase inteiramente boca a boca.”

Sobre o anonimato, ele explica:

“Além disso, eu não estava muito interessado em divulgar meu nome, porque esse não era realmente o ponto. Não estou sendo dissimulado ou falsamente modesto – quero que o maior número possível de pessoas leiam Mamãe está com Câncer – mas não agregou nenhum valor à história saber que foi escrita por um cara chamado Brian. O anonimato reforçou a noção de que poderia ser sobre qualquer família em qualquer lugar.”

Quando Fies achou a oportunidade perfeita, ele contou para a família sobre os quadrinhos e relembrou o momento durante a entrevista:

“Eles reagiram melhor do que eu esperava… Ou temia. Mamãe adorou. Significou muito para minha mãe descobrir que um grupo da igreja no Texas estava orando por ela e que leitores no Canadá, Austrália, Reino Unido, Espanha, Peru e Israel estavam torcendo por ela.”

O relato sincero foi mais longe do que Fies imaginava que iria e logo ele começou a receber mensagens de pessoas do mundo inteiro, mas ele pontua alguns dos pontos principais:

“Um dos resultados mais gratificantes de fazer Mamãe está com Câncer foram cartas de profissionais médicos dizendo que isso lhes deu uma visão real do ponto de vista do paciente. Um instrutor de enfermagem na Austrália escreveu para pedir permissão para incluí-lo nos materiais de treinamento que eles enviam para estudantes de enfermagem que trabalham em áreas rurais remotas. A ideia de que alguém do outro lado do planeta acha que meus desenhos podem ajudar seus alunos a se tornarem melhores enfermeiros me deixa impressionado. O que poderia ser melhor que isso?”

A preocupação de Fies sobre a franqueza de sua história incluiu os estilos que ele escolheu usar. Sobre isso, ele pontuou:

“A acessibilidade é muito importante para mim. Não pretendo impressionar uma multidão cansada e experiente em quadrinhos que já viu de tudo. Mamãe está com Câncer é desenhado para avós e crianças que nunca leram uma história em quadrinhos ou romance gráfico adulto. Eu queria que fosse uma leitura rápida e convidativa, com uma sensação de história em quadrinhos quase retrô. Deixe as pessoas ficarem à vontade e, em seguida, acerte-as com essa história, na qual eu confiei o suficiente para contar de forma clara e direta – e até com humor – sem me cobrir com a escuridão gótica.”