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Quem são as noivas de Drácula?

Personagens de Bram Stoker são retratadas até hoje na cultura pop

12/12/2024

Seja no Drácula clássico, escrito pelo próprio Bram Stoker, ou em releituras de filmes, séries ou outras obras literárias, as noivas de Drácula fazem parte do imaginário vampírico tanto quanto o morto-vivo que dá nome à obra. Mas afinal, quem eram elas e até que ponto sua história foi sendo modificada por outros autores e roteiristas?

No romance de Stoker, as três mulheres vampiras não possuem nomes individuais. Elas, aliás, nem são chamadas de noivas, mas sim referidas como as “irmãs” — e em determinado momento referidas como “irmãs estranhas”. O fato de elas serem ou não casadas com Drácula também não é mencionado no livro.

As noivas de Drácula na versão clássica

As origens e identidades das irmãs, bem como a natureza do seu relacionamento com o Conde Drácula nunca é revelado. Uma das três talvez tenha sido identificada no conto “O Convidado de Drácula”, do próprio Bram Stoker, como a vampira chamada Condessa Dolingen de Gratz.

O protagonista da história não chega a ser identificado, mas presume-se que seja Jonathan Harker, que a encontra em seu túmulo em Munique. Quando ela está prestes a atacá-lo, um lobo — que acreditamos ser Drácula — interfere e a destrói.

No romance, Harker escreve sobre uma das vampiras no momento em que está com elas, e afirma “Parecia que eu conhecia sua face e sua conexão com algum medo sonhador, mas não consegui me recordar no momento como ou onde”.

As duas vampiras de cabelos escuros são descritas como tendo rostos semelhantes aos do Conde, e as três com narizes aquilinos. O acadêmico literário Jan B. Gordon sugere que essa pode ter sido a intenção de Stoker de indicar que essas duas seriam filhas de Drácula, estendendo a metáfora sexual do vampirismo ao incesto.

Quando as noivas descobrem a presença de Harker, a vampira loira é encorajada a alimentá-lo primeiro, o que pode indicar algum status sobre as outras. Podemos presumir que a vampira loira seria, então, a esposa ou consorte de Drácula, e a mãe das duas mulheres de cabelos escuros. Quando Van Helsing descobre os túmulos das irmãs, o da loira é mais suntuoso do que os das demais, possivelmente por seu status.

A vampira loira também apresenta uma atitude levemente mais rebelde em relação a Drácula quando ele a repreende por sua tentativa de alimentar Harker. A reação do Conde sobre a atenção que elas dão a Harker pode ser interpretada tanto como a de um marido enciumado como a de um pai raivoso.

As vampiras ainda alegam que Drácula não as ama, e nem nunca as amou, mas o Conde insiste que isso não é verdade e defende que a prova de seu amor é levar até elas as vítimas das quais as noivas se alimentam. Ainda assim, não é explicado por que ele as deixa na Transilvânia em vez de levá-las para Londres com ele.

Noivas ou irmãs?

Embora nunca seja especificado, é possível que o termo “irmã” não seja utilizado em seu sentido literal e seja mais atribuído à relação que as mulheres têm entre si do que seu relacionamento com Drácula.

No romance elas também chegam a chamar Mina Harker de irmã depois que ela é forçada a beber o sangue de Drácula. Mina e sua melhor amiga Lucy Westenra também se chamam de irmãs, apesar de não serem parentes.

As vampiras podem tanto ser interpretadas como as esposas de Drácula ao longo de sua vida, descendentes que ele acabou transformando em vampiras ou simplesmente mulheres que ele matou e as transformou para criar mais seres como ele.

Características das noivas de Drácula

Enquanto vampiras, as irmãs possuem seus próprios poderes: sua beleza e encantos sedutores servem aos seus propósitos predatórios e letais. A beleza e seus modos paqueradores parecem ser seu maior poder quando o assunto envolve encantar suas vítimas em uma espécie de transe.

Tanto Jonathan Harker como Van Helsing são atraídos e ao mesmo tempo repelidos por elas. As noivas parecem aparecer do nada e são fortes de uma maneira sobre-humana — o que fica bem evidente quando elas matam os cavalos de Van Helsing. Elas também são capazes de voar.

Em Drácula, as personagens servem para alertar sobre a ameaça do vampirismo na história, que, como mais tarde observamos com Lucy, inclui o poder do Conde Drácula de corromper suas vítimas a partir do momento em que ele drena seu sangue e as transforma em vampiras.

Adaptações e novas versões das noivas de Drácula

Justamente por deixarem tantas lacunas para serem preenchidas, as noivas de Drácula foram objeto de várias liberdades criativas tanto em adaptações do clássico como em suas releituras. No filme Drácula de Bram Stoker, por exemplo, uma delas é representada de uma maneira muito semelhante à figura mitológica de Medusa, enquanto outra parece ser baseada em uma princesa árabe.

Na paródia de Mel Brooks, Drácula Morto, Mas Feliz, apenas duas noivas aparecem. Elas são hiperssexualizadas e tentam seduzir Renfield, mas Drácula o salva, espanta as noivas e convence a vítima de que aquilo foi apenas um sonho estranho.

Em uma releitura de 1960, intitulada As Noivas do Vampiro, o barão Meinster é um vampiro que ataca duas mulheres, transformando-as em suas “noivas”. Apesar de ele ter pedido a heroína Marianne em casamento, seu plano de transformá-la também é frustrado pelo professor Van Helsing, que mata o barão enquanto as duas noivas aparentemente fogem. Apesar do título em inglês (The Brides of Dracula), o próprio Drácula nunca aparece no filme.

No livro Pacto de Sangue, a autora S. T. Gibson nos presenteia com uma releitura de Drácula do ponto de vista de Constanta, uma de suas noivas vampiras, presa em um relacionamento abusivo por anos e anos a fio — até que decide pôr um ponto final, antes que seja tarde demais. Ela nos guia por sua jornada desde o momento em que é transformada até os séculos seguintes. A princípio encantada com seu salvador, ela aos poucos vai enxergando que, na verdade, ele é um homem manipulador, controlador e abusivo. E o relacionamento, que começou como uma história de resgate, acaba por se tornar uma prisão emocional.

A mitologia do vampiro de Bram Stoker também é reimaginada na graphic novel Drácula: A Ordem do Dragão, de Marco Cannavò e arte de Corrado Roi. Ambientada na Hungria de 1890, a trama segue Jonathan Harker, capturado pelo temido príncipe Vlad Drácula. Em meio ao abismo, ele encontra esperança na figura de Greta, a esposa repudiada do príncipe, que se propõe a ajudá-lo. O enredo se desenrola com a revelação de que Drácula está a caminho da Inglaterra para se casar com Lucy, sua noiva, enquanto alimenta sua insaciável sede de sangue. A tensão cresce à medida que o príncipe demoníaco degusta sua tripulação, recuperando assim parte de seus temidos poderes.