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Split Image: Nós precisamos salvá-los da morte viva!

Um culto religioso, pessoas mágicas, especiais e ... maníacas

23/05/2025

Embora seja considerado por muitos o mais fantasioso dos gêneros, todo fã de horror sabe que essas produções apresentam uma ligação estreita, embora metafórica, com a realidade. Mas não falaremos na coluna de hoje sobre monstros abissais, demônios alados, crianças possuídas ou corrupções corporais extremas; em vez disso, vamos nos ater à mais cruel e articulada das criaturas terrenas, o ser humano.

Certa vez alguém disse que nada é mais perigoso que um ser humano que pensa saber o que é melhor para o outro, e é bem possível que o filme de hoje venha a coroar essa premissa. Por isso eu o considero um autêntico filme de terror.

Split Image (no Brasil Seita de Fanáticos) chegou ao mundo em 1982. Dirigido por Ted Kotcheff e estrelado com grandes atores, o longa conta a história de um atleta universitário que se envolve com um culto promovido por um grupo dessas pessoas religiosas mágicas e especiais…

Começamos o filme conhecendo a obstinação do atleta de alta performance Danny Stetson, e vamos acompanhando seu treino na barra fixa. O ginásio está vazio, as mãos de Danny estão feridas, e ele continua praticando enquanto tem forças. No dia seguinte, a recompensa: Danny é perfeito e conduz seu time à vitória. Conhecendo a família de Danny, nós poderíamos chamá-los atualmente de “privilegiados”, mas o fato é que Danny carrega uma tonelada de cobranças em suas costas, e isso não pode ser considerado positivo a ninguém.

Ao lado de Rebecca, Danny decide passar algum tempo na comunidade. Sendo uma pessoa inteligente, ele rapidamente percebe que se trata de uma seita religiosa. Rebecca não nega ou confirma, mas ela assume que a comunidade é independente, e também é muito melhor que o mundo lá fora, uma comunidade de pessoas jovens tentando construir um mundo melhor.

Na comunidade, o líder, um homem mais velho chamado Neil Kirklander, faz questão de se apresentar a Danny. Neil é um homem bastante persuasivo, inteligente, e ele acaba plantando uma pequena semente na mente de Danny, a semente de uma possível vida mais autêntica e verdadeira.

Danny resiste à comunidade no começo, no fundo, ele sabe que tudo aquilo parece, (e de fato é) uma loucura. O problema é que a loucura da comunidade — e aqui precisamos pontuar suas canções alegres e irritantes, o senso de igualdade bizarro (e irritante) e o acolhimento quase completo — funciona como uma droga poderosa. É dessa forma que, identificando as fragilidades individuais, Neil Kirklander consegue manipular todos os integrantes de Homeland, aos quais ele elenca e trata como uma família. O contraponto da comunidade é a vida real fora dos portões, as pressões sociais, os valores familiares tradicionais que oprimem e sufocam os mais jovens. Através de consecutivas manipulações, Neil convence a todos que ele não é apenas o caminho para o amor e a paz, mas o princípio de uma revolução que pode salvar toda a humanidade.

Afetado pelo choque psíquico e emocional ao qual está submetido, Danny tenta escapar na calada da noite, e acaba quase morrendo afogado. Depois do resgate, Neil diz a ele que Homeland não faz prisioneiros, que Danny pode voltar para seus pais e para a vida que levava antes. É quando Danny decide, por si mesmo, ficar. Depois de uma cerimônia baptismal carregada de histeria, Danny renega sua vida anterior e se torna Joshua para sua nova família.

Quem não concorda com a decisão é a família de Danny Stetson, e eles decidem ir até a comunidade para resgatá-lo. Mas Danny não quer mais ser resgatado, melhor dizendo, ele sente que já está livre, e que seus libertadores são sua nova família liderada por Neil Kirkland.

Com a lavagem cerebral praticada em Danny, a única esperança dos Stetson passa a ser o detetive particular e caçador de recompensas Charles Pratt (interpretado por James Woods), que apesar dos métodos bizarros e de seu baixo carisma, se diz capaz de trazer Danny de volta pra casa.

Na comunidade, Danny está cada vez mais atraído e mais próximo de Rebecca. A fim de separar essa junção, Neil propõe que Danny vá até Denver, deixando a comunidade por um tempo. Os dois jovens não concordam com isso, afinal, estão apaixonados um pelo outro. Mas o poder de manipulação de Neil ainda é muito forte. O líder religioso faz cada pessoas de sua comunidade se sentir única, dizendo que ele as ama mais do que ama as outras, o que é claramente uma mentira. Neil na realidade ama a si mesmo, seu poder, sua comunidade e sua família de filhos roubados.

Com o consentimento da família Stetson, o detetive Charles Patt consegue sequestrar Danny e levá-lo até uma propriedade afastada, onde ele deverá ser reabilitado. Percebemos logo de início que não será uma tarefa fácil, e não se surpreenda se você eventualmente ficar ao lado de Danny e de suas crenças (esse é um grande mérito do filme, a maneira como ele consegue brincar com nosso senso de justiça e injustiça).

Os diálogos entre Charles Patt e Danny revelam uma verdade oculta neste filme grandioso — uma verdade que vai te afetar de todos os modos possíveis, e isso não estará sob seu controle. Em Split Image conhecemos não só uma imagem superficial das seitas, mas também uma maneira de reconhecer e nos blindarmos das infinitas manipulações que sofremos nos vários níveis de nossa sociedade. Se você acredita que está pronto para esse filme, talvez deva se colocar à prova, apenas para descobrir qual é a sua verdade, ou melhor, a verdade que lhe convém. Com grandes atores, uma trama justa e excelentes atuações, esse drama certamente merece uma posição em sua prateleira, e eu não julgaria quem o colocasse na sessão horror.

O que virá a seguir no filme deixaremos para vocês descobrirem, esse não é um filme difícil de se encontrar na internet. Mas pode ser um pouco difícil de ser assistido. Split Image irá torcer a sua mente de formas irreversíveis, e afinal de contas: para que servem os bons filmes? E depois desse aviso, chegou a hora de experimentar o trailer: