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The Shout: magia ritual, atmosfera e loucura

Bons filmes de horror do passado são caixas de surpresas

04/07/2025

Hoje sabemos que os bons filmes de horror do passado são caixas de surpresas, registros sociológicos para alguns, fonte de inspiração inesgotável para outros. E que por inspiração, compreendamos grandes ideias, grandes personagens, tramas inesquecíveis e, com mais um pouco de sorte, um ator monstruoso frequentando um de seus primeiros papéis. Gabaritando todas as características, vamos para o filme de hoje.

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The Shout foi concebido em 1978, dirigido por Jerzy Skolimowski e estrelado por Tim Curry, e por aqui recebeu o nome — estranho — de O Estranho Poder de Matar. Mas tudo bem, apesar desse deslize inicial, vamos em frente com nossa sagrada missão de prestigiar um bom filme.

The Shout

Começamos com uma chuva agradável, e com a chegada de uma mulher em uma casa de repouso. Ela entra apressada, recebe alguma orientação de uma enfermeira e chega ao refeitório, onde três corpos estão cobertos com lençóis sobre as mesas. Na subida dos créditos iniciais que sequenciam o título do filme, somos lançados a uma paisagem árida, dunas de areia durante a noite, onde um homem de fraque perambula sem destino certo. Ele segue caminhando, brincando nas areias, até o amanhecer.

The Shout

Depois desse ponto chegamos ao real início do filme, e nos deparamos com um jovem médico chamado Robert Graves (Tim Curry) chegando a uma espécie de casa de repouso de campo, onde pessoas não exatamente normais (insinua-se algum nível de perturbação mental nos pacientes) estão hospedadas. Nesse início não entendemos muito do que acontecerá, mas também conhecemos um homem chamado Charles Crossley, tido como super inteligente, mas que acredita que sua alma está dividida em quatro partes, além de crer possuir outras habilidades místicas especiais.

The Shout

Durante uma partida de críquete na casa de repouso, Crossey decide contar a história de um dos pacientes, Anthony, ao doutor Robert Graves. De alguma forma, essas histórias se relacionam com as dunas e com o homem estranho que vimos na abertura do filme. O próprio Crossey está envolvido na história do paciente. Esse homem, Anthony, apresenta transtornos mentais, perdeu sua esposa e acabou no sanatório.

the shout

O Charles Crossey da história é um homem bastante estranho, perdido em sua própria fé, especulativo sobre a natureza e moradia da alma humana. Ele se aproxima de Anthony, um músico e sonoplasta, e de sua esposa, Rachel. Crossey se convida a almoçar com eles. Acuado e também com pena de Crossey (que alega estar cansado e faminto), Anthony acaba concordando. Nesse almoço, as coisas ficam cada vez mais estranhas, e Crossey menciona ter se casado na Austrália, com uma mulher aborígene, vivido com ela dezoito anos e matado seus próprios filhos, atitude essa, que ele alega ser permitida, normalizada pela comunidade de pessoas onde viveu. Crossey e Anthony também discutem sobre magia aborígene. Um desses rituais consiste em apontar um osso para a pessoa que se deseja a morte. Outra, em seduzir mulheres com feitiçaria. Em outra história, Crossey menciona um feiticeiro que veste um fraque, um uniforme de marechal do século dezoito. Segundo relata, esse homem tem o poder de fazer chover e de matar sem usar as mãos.

the shout

Crossey consegue se hospedar na casa de Anthony até se recuperar de sua fadiga física, e em outra conversa ele alega ter recebido poderes únicos do feiticeiro aborígene, como a capacidade de matar uma pessoa com o que ele chamou de grito do terror. Crossey explica que treinou esse poder por 18 anos, e que agora é capaz de matar qualquer um.

Embora até agora não tenhamos presenciado no filme nenhum elemento mais realista de horror, o estado de tensão vai se tornando cada vez mais alto. Sem nos darmos conta, somos sugados pelas histórias de Crossey, por sua aparente frieza e convicção do que diz, e quando menos percebemos já não encontramos meios para deixar esse filme.

Com suas conversas e críticas, Crossey acaba provocando Anthony o suficiente para que ele o desafie. Anthony pede que ele dê o tal grito do horror assassino, mas Crossey prefere convidá-lo a ir sozinho com ele para as dunas, para que nenhum desavisado morra ao ouvi-lo executando a façanha.

the shout

Os dois homens seguem pelas dunas, e quando Crossey chega a um lugar praticamente desabitado, ele faz sua magia. O grito avassalador é real, pelo menos para Anthony, que cai desmaiado e só evita a morte colocando tampões nos ouvidos. As ovelhas e seu pastor que por lá estavam não tem essa sorte, o mesmo com as gaivotas; todos caem mortos com o ruído. Anthony desperta confuso, perdido sobre o que é sonho, realidade ou loucura. Alguma coisa naquele grito afetou sua mente, o enfeitiçou de certa forma.

the shout

Nos dias seguintes, Anthony continua abatido, acamado, e quando recupera um pouco de sua energia percebe que Rachel esposa está diferente, seduzida pelo homem misterioso que ela costumava detestar. Ao mesmo tempo, ela trata mal a Anthony, o quer fora de casa para que possa se entregar ao amante.

the shout

Durante a narrativa, somos devolvidos à trama original, onde o paciente Crossey conta sua história para o médico. Mas as coisas não estão como antes na clínica de repouso, agora acreditamos em Crossey, e queremos ir ainda mais fundo tanto na história, quanto em sua vida atual. Os pacientes que jogam cricket estão agitados, sem controle, eles sentem o cheiro da mesma tempestade que Crossey parece prever.

The Shout

Um grande acerto de The Shout é nos colocar o tempo todo em dúvida sobre o que é realidade, loucura ou pura invenção, através de subtramas plausíveis e escaladas de tensão cada vez mais altas. Logo no começo do filme, mordemos uma isca que não conseguimos mais soltar, ficando presos nas histórias, delírios e poderes do personagem Crossey, e da interpretação perfeita de Alan Bates. Aliás, essa produção possui um elenco impressionante, o que também eleva muito a potência do filme.

Não podemos contar tudo, se Crossey é louco ou um feiticeiro, se a esposa de Anthony morre ou apenas o abandona, mas podemos deixar o link do trailer. The Shout é um dos filmes mais subestimados, discretos e hipnotizantes da década de 1980. Agora, ouvir seu grito… é por sua conta e risco.

E aí? Vamos apertar o play?

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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