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Tradições de Natal com desfechos violentos

Desfiles como o de Krampus, na Áustria, provocam questionamentos

12/12/2024

Essa semana o que era para ser um singelo desfile de Natal em Salvador quase acabou em tragédia. Na noite de segunda-feira (9/12), moradores de Paripe, na capital baiana, vaiaram e apedrejaram o Papai Noel da carreata natalina, que precisou sair correndo. Após um atraso, a tal carreata que contava com carros e caminhões iluminados passou correndo pela cidade, não permitindo a interação com o bom velhinho. Isso causou a ira dos moradores, que se rebelaram. Por sorte, ninguém ficou ferido.

Embora o Natal evoque a paz e a união entre as pessoas, esta não é uma constante, como podemos ver. Os desfiles de Krampus, na Áustria, são a prova disso. Krampus é uma espécie de anti-Papai Noel do país europeu, figura mitológica que castiga as crianças que não se comportaram bem durante o ano. De acordo com a lenda, seus métodos brutais incluem colocar as crianças levadas num saco para afogá-las no rio, devorá-las ou levá-las direto para o inferno, sem escalas. Com uma história levinha dessas (contém ironia, por favor), é claro que as festividades para Krampus já registrar episódios violentos.

Na Áustria e em certas regiões da Alemanha, São Nicolau, o Papai Noel de lá, chega no dia 6 de dezembro acompanhado por Krampus. Enquanto o São Nicolau dá presentes às crianças boazinhas, as que não tiraram 10 em comportamento são castigadas pelo seu companheiro, munido de uma vara. Nem precisa falar que Krampus tem aparência demoníaca, com chifres e correntes, numa versão de Lúcifer, o cramunhão.

Durante os desfiles de 6 de dezembro, que celebram a tradição, os membros do clube Krampus percorrem as cidades, assustando o público e, ocasionalmente, retirando pequenos espectadores do meio da multidão, que apanham de vara. Horrível, né? Mas calma que tem regra: as varas devem ser feitas de ramos de plantas, os golpes só podem ser desferidos abaixo dos joelhos das vítimas mal comportadas e não se deve bater com força. Mas, mesmo assim, dá problema.

De acordo com a imprensa local, em 27 de novembro, o desfile de Krampus na cidade de Zams acabou numa batalha campal que envolveu cerca de 50 pessoas e oito delas acabaram feridas. De acordo com um relatório da polícia do estado de Tirol, uma mulher de 22 anos foi espancada com uma vara de madeira durante um desfile do Krampus em Imst com tanta força que acabou hospitalizada. Os golpes deixaram sua mão esquerda tão inchada que mal conseguia mexer os dedos. A polícia procura o agressor.

Uma mulher de 51 anos de idade, de Anras, também tirolesa, quase ficou sem a ponta do dedo médio da mão esquerda, também por excesso de agressividade de um Krampus. E os próprios artistas que interpretaram o Coisa Ruim acabaram se machucando. Por causa da retaliação, quatro Krampus ficaram feridos durante desfiles na Caríntia. Uma dessas pessoas chegou até a ficar inconsciente.

Violência contra as mulheres disfarçada de tradição?

Uma reportagem da revista Panorama desvela um costume da região chamado de Klaasohm, na ilha de Borkum, na Alemanha. Nele, homens com máscaras de pele e chifres, acompanhados de ajudantes e de um Wiefke, um homem vestido de mulher, desfilam pelas ruas, festejando e procurando mulheres jovens em meio à multidão. Estas são imobilizadas para que os homens disfarçados batam em suas bundas com chiques. E isso tudo é recebido com aplausos pelo público, um absurdo.

Segundo a reportagem, a festa é “formadora de identidade” para muitos dos habitantes da ilha. No entanto, as mulheres envolvidas relatam experiências dolorosas e humilhantes. Algumas sentem-se obrigadas a participar na tradição, outras tentam evitar a festa. Há também relatos de agressões em que as mulheres são agarradas por ajudantes e espancadas em público.

No entanto, apesar de todas as críticas, 200 mulheres em Borkum protestaram a favor da preservação da tradição. As mulheres sopraram cornos de vaca e seguraram uma faixa onde se lia: “Não deixaremos que a festa de Klaasohm seja arruinada”. Um absurdo.

Para quem no máximo enfrentou as balas (as doces mesmo, de crianças) atiradas por uma Carreta Furacão natalina no interior de Minas Gerais como se fossem balas perdidas (as violentas) e pensou ter vivido o cúmulo do absurdo, conhecer tais tradições germânicas mesmo que por relatos parece assustador o suficiente.