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Você sabe o que é narrativa ergódica?

Conheça o estilo adotado pelo escritor de Casa de Folhas

14/02/2024

O gênero do terror é conhecido por suas casas sinistras. Aqueles lugares onde algo terrível aconteceu ou ainda vai acontecer. Lugares que se destacam por sua estranheza, pelo passado mórbido ou eventos inexplicáveis que ali se sucederam. Amityville talvez seja o exemplo mais famoso, ao lado de outros ícones como Hell House e, é claro, a residência da família Usher. O que não falta são casas malditas que aterrorizam quem ouse entrar em seu recinto. 

LEIA TAMBÉM: A PSICOLOGIA POR TRÁS DO MEDO DE CASAS MAL-ASSOMBRADAS

No entanto, há poucas casas que desafiam absolutamente todos aqueles que entram em contato com ela. Moradores, visitantes, antigos residentes e até mesmo leitores. Esse é o caso da residência de Casa de Folhas, clássico moderno do horror e da literatura experimental que acabou de chegar na DarkSide® Books.

Iniciamos a história com a narração de Johnny Truant, funcionário de um estúdio de tatuagem em Los Angeles, que encontra os escritos de Zampanò, um idoso recluso que foi encontrado sem vida em seu apartamento. Nesses escritos, Zampanò apresenta uma pesquisa minuciosa da história de uma família cuja nova casa é um lugar labiríntico onde as leis da física não existem. 

casa de folhas

Acompanhados das notas de rodapé de Truant, seguimos a narrativa de Zampanò sobre como a residência é um local onde imperam dimensões diferentes, de forma que seus proprietários, o casal formado pelo fotojornalista Will Navidson e sua companheira Karen Green, decidem enfrentar a situação com um documentário. Na história dentro da história, Navidson reúne grupos para explorar um cômodo escuro e infinito que parece mudar de forma e brincar com os medos e apreensões das pessoas que resolvem se aventurar por ele. Quanto mais os grupos enfrentam esse abismo, mais Johnny Truant vai ficando atordoado, paranoico e completamente obcecado pela casa

Publicada por Mark Z. Danielewski no ano 2000, Casa de Folhas virou um best seller instantâneo e ganhou traduções para vários idiomas. A obra foi aclamada por sua história e também por seu estilo único de narrativa, marcado por experimentações formais com o texto. É justamente por isso que o livro se tornou um dos grandes exemplos de narrativa ergódica

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Mas afinal de contas, o que é a literatura ergódica e como Casa de Folhas se insere nessa vertente literária? A Caveira te conta tudinho sobre esse formato para lá de diferente. 

Literatura ergódica e o esforço do leitor

O conceito de literatura ou narrativa ergódica foi criado em 1997 pelo pesquisador norueguês Espen J. Aarseth, especialista em estudos de videogame e literatura eletrônica, em seu livro Cybertext. O termo é derivado da junção de duas palavras gregas: ergon, que significa trabalho, e hodos, que significa caminho.

narrativa ergódica

Nesse sentido, a narrativa ergódica é um estilo literário em que o esforço não convencional é exigido para que o leitor consiga percorrer o texto. O que isso quer dizer? Basicamente, que por não utilizarem formatos triviais, livros com esse tipo de narrativa demandam um esforço diferente do leitor.

Parece extremamente complicado, mas na verdade não é tanto assim. Basta fazer uma comparação. Enquanto a narrativa ergódica exige o “esforço diferente” do leitor, propondo um formato não linear ou experimental para conhecer a história, a narrativa não ergódica demanda do leitor algo bastante trivial, como o movimento dos olhos através das linhas e o virar das páginas. A narrativa ergódica propõe uma forma diferente de lermos a história, enquanto a narrativa não ergódica apresenta um formato linear tradicional onde as páginas são concebidas a serem lidas da primeira até a última e as palavras da esquerda para direita, de cima para baixo. 

O termo narrativa ergódica pode ser aplicado a livros, videogames e obras audiovisuais, sendo definido principalmente pelo modo pelo qual um texto funciona, possuindo suas próprias regras e requisitos, assim como demandando um esforço interativo e até mesmo físico do leitor, jogador ou espectador. 

Mas então, como Casa de Folhas se insere como um exemplo de narrativa ergódica?

A narrativa ergódica em Casa de Folhas

Homenageando a literatura de horror, Casa de Folhas vai muito além da história de uma casa insólita. Muito disso se deve a toda a experimentação literária de Danielewski, que construiu um livro com formato único e recheado de metalinguagem. Isso faz com que cada página de Casa de Folhas seja uma experiência desafiadora e inusitada.

Quando o DarkSider folhear a obra, vai reparar que suas páginas estão povoadas de notas de rodapé, citações e referências a outras obras (reais e imaginárias), anotações dos narradores e notas dos editores a quem Truant supostamente teria enviado o trabalho. Nisso, também percebemos que o estilo de escrita varia de acordo com quem está escrevendo, de forma que a narrativa de Casa de Folha está cheia de jogos de palavras, enigmas, anagramas, mensagens secretas, citações, dados literários, históricos, filosóficos e científicos. 

casa de folhas

Como se isso não bastasse, a obra é visualmente diferente de qualquer coisa que você já viu. Páginas e capítulos têm diagramações fora do convencional, de forma que algumas folhas possuem poucas palavras ou linhas de texto, espelhando os eventos da história e passando para o leitor a sensação de agorafobia e claustrofobia sentida pelos personagens. Detentor de um layout único, Casa de Folhas possui caligramas (imagens formadas a partir de letras), textos espelhados, de ponta-cabeça, fora de ordem e sobrepostos. 

Tudo isso faz com que, para conseguir entender a história, o leitor precise fazer esforços não triviais ou não esperados, como virar o livro de ponta-cabeça e ler palavras e páginas em uma ordem diferente do convencional. É justamente por isso que Casa de Folhas é um exemplo primoroso da literatura ergódica

Mas vale lembrar: nada nessas experimentações é aleatório. Pelo contrário. Tudo, absolutamente tudo, dialoga com a história e personagens. Tudo transforma Casa de Folhas em uma experiência intensa e perturbadora que com certeza vai deixar sua marca nos DarkSiders. Não é à toa que a obra foi chamada de “Moby Dick do horror” pelo mestre Stephen King e recebeu elogios de Bret Easton Ellis, autor de Psicopata Americano

Casa de Folhas é um verdadeiro acontecimento literário. Fruto de anos de trabalho e parcerias, essa edição limitada foi aprovada diretamente pelo próprio autor. É hora de tomar coragem e conhecer um horror labiríntico nunca antes visto.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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