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Warlock: Esse filme já enfeitiçou você?

Terror profano e sobrenatural dos anos 1980

12/07/2024

Eu não sei onde você estava (ou se havia nascido) nos anos 1990, mas se você tivesse mais de sete anos, em algum momento de sua existência receberia a propaganda boca a boca do filme homenageado de hoje. Nunca ficou claro o motivo, ou os motivos, mas o fato é que Warlock furou mais bolhas que a ponta afiada de uma agulha (eu sei que sim, eu estava lá).

Dirigido por Steve Miner e escrito por David Twohy, Warlock possui uma classificação um pouco confusa, mas pode ser elencado como um filme de terror sobrenatural. Chegou ao mundo em 1989, e no Brasil recebeu, alguns anos depois, o nome de Warlock: O Demônio, tornando-se um dos queridinhos das videolocadoras. Se você quer uma sinopse condensada, vamos dizer que o personagem principal é um filho de Satanás que viaja da idade média para os dias atuais (atuais para quando o filme foi feito) com a singela missão de destruir o mundo. Mas vamos ao filme!

Começamos justamente na idade média, 1691, em um vilarejo puritano onde alguns senhores representantes da fé e dos bons costumes pretendem despachar um homem para a morte. Nesse breve começo, já percebemos que a produção é muito boa, algo que nem sempre acompanhava os filmes de horror da época. De volta ao filme, ficamos na companhia desses homens e atravessamos a colônia de Massachusetts, cidade de Boston, até chegar no local onde o condenado aguarda sua sentença. O homem acorrentado sob os moldes da inquisição não parece muito preocupado com seu destino…

E nem poderia, afinal, ele conta com a ajuda de Satanás para libertá-lo logo em seguida. Sugado por um vórtice, o bruxo é levado no tempo, mas é seguido por seu grande opositor, o caçador de bruxas Giles Redferne.

Em 1989, Warlock ressurge na casa de um homem chamado Chas e de sua inquilina (ela aluga um quarto na casa), uma garçonete chamada Kassandra. O mago está inconsciente e bastante ferido, e Kassandra decide ajudá-lo apesar dos protestos de Chas. No dia seguinte Kassandra sai para o trabalho, e Chas descobre que seu hóspede não é muito bom em dividir sua comida. A polícia começa a investigar o assassinato do dono da casa, mas os oficiais não são de muita ajuda.

Enquanto isso, o Warlock consegue falar com seu tutor Zamial (que é um outro nome de Satã) através de uma médium. A cena da incorporação é bem maneira, e é um ponto de partida interessante para compreender o fascínio que esse filme exerceu sob diferentes gerações. Zamial explica por que trouxe Warlock para o futuro, e exige que ele reúna as três partes perdidas de sua bíblia e restaure seu grimório especial, a bíblia do mal, e em troca o fará filho de Satã.

O caçador de bruxas Redferne também está no tempo presente de 1989, e ele segue o rastro de Warlock até a casa de Kassandra, a fim de terminar com seu reinado de bruxarias malditas. Não será tarefa fácil, principalmente porque Redferne parece mais perigoso e esquisito que o próprio bruxo. Dessa forma, enquanto o Warlock corre por aí, Redferne é detido pela polícia. Em sua busca pelas páginas de feitiços perdidas, o Warlock tem um novo encontrou com Kassandra. Como ela se opõe a ele, o feiticeiro lança um feitiço de duas décadas em um dia, catapultando a idade de Kassandra dos 20 para os 40 anos (cruel hã? Ele pegou pesado, e olha que o feitiço são vinte anos por dia, então ainda pode piorar amanhã!). Mas esse era o motivo que faltava para que Kassandra escolhesse o lado de Redferne e o tirasse da cadeia.

Os detalhes profanos desse filme são bem realistas, então além de envelhecimento precoce você vai encontrar coisas como salgar peças de couro para usar contra os bruxos e beber a gordura humana de crianças não batizadas para voar, entre outros feitiços terríveis que são explicados didaticamente ao longo das cenas.

Usando os atalhos da magia de Satã, o Warlock segue avançando e coletando as páginas que precisa para compor o Grand Grimoire, a tal bíblia do porão. Redferne por sua vez encontra ajuda em conhecimentos religiosos arcaicos, dos menonitas, que também usam da magia, mas divina, para proteção, prosperidade e para o confronto com o mal. O filme estabelece um contraponto muito interessante colocando modernidade e ancestralidade em um mesmo momento do tempo. A continuidade do filme também é muito boa, o ritmo, os personagens e seus atores passam a credibilidade necessária. Os efeitos especiais não são magníficos, mas com um pouco de fé a precariedade passa batido.

O confronto com o mal se alterna entre Redferne e Kassandra, e é ela quem consegue reverter o feitiço de envelhecimento. Mas o feiticeiro escapa, mesmo ferido, e Kassandra acaba convencida a continuar a caçada ao lado de Redferne. A mitologia construída (ou apropriada de antigos grimórios) ao longo do filme é muito interessante, e se você se interessa pelo oculto pode ser um ótimo ponto de partida para cavar mais fundo.

Warlock também tem um ótimo desfecho, com alguns plot twist muito bons, e uma porção de detalhes (profanos, mágicos e satânicos) que ficarão muito mais interessantes se você acompanhar pessoalmente, então vamos parar por aqui, afinal de contas, não existe magia mais danosa a um devoto do horror que receber um spoiler completo.

Revendo esse filme, fica claro como ele alcançou notoriedade, e mesmo tendo seus momentos de Sessão da Tarde, a carga profana e a pesquisa bem feita o materializam como um autêntico filme de terror, um bom filme, do tipo que dificilmente conseguiria nascer e prosperar hoje em dia. Warlock também carrega algo de maligno nas entrelinhas, agourento, mas essa é apenas uma sensação, e, portanto, não pode ser analisada à luz da razão. Para não deixar ninguém tateando na escuridão, vamos iluminar a todos com o trailer. Oh sim, e não se esqueça de fazer um círculo de sal ao redor da TV, dizem que ajuda a espantar o mal verdadeiro.

Bora apertar o play? Tá amarrado, eu prometo! (ou quase…)