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EntrevistaGraphic Novel

Yuri Moraes e Bruno Guma falam sobre inspirações e identificação com Bully Bully

Confira a entrevista do DarkBlog com os autores da HQ

06/12/2022

Uma história silenciosa, mas que tem muito a dizer sobre solidão, fantasia, momentos decisivos na vida e as armaduras que criamos para nos proteger. Bully Bully é um quadrinho que explora as nossas sensações e vivências que nem sempre obedecem a alguma lógica e muito menos podem ser racionalizadas.

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Concebida como três histórias distintas que encontraram seu fio condutor no mesmo personagem, a HQ é considerada pelo autor Yuri Moraes sua obra mais pessoal. A narrativa criou uma identificação instantânea com Bruno Guma, que com seus traços ilustrou a história e ajudou a construir sua identidade.

Em uma conversa ao DarkBlog, Yuri e Bruno falam sobre a sua relação com Bully Bully, suas referências e as sensações que a graphic novel provoca, impossíveis de serem verbalizadas. 

DarkSide: Bully Bully é uma história que destaca aqueles momentos que foram decisivos na construção da identidade de seu protagonista. Vocês conseguem identificar quais foram esses momentos nas vidas de vocês? 

Yuri Moraes: Bully Bully é uma história realmente pessoal pra mim. Eu comecei a escrevê-la com meus 25 anos mais ou menos e terminei nos meus 33. Inicialmente eram três histórias soltas e distintas que queria que fossem curta-metragens. Um certo dia me bateu que elas deveriam estar juntas e meu amigo João Montanaro observou que as três poderiam ter o mesmo protagonista e fez muito sentido. Revisitando essas histórias, eu percebi que condensei bem em cada uma delas a minha relação com a solidão e rejeição em fases completamente diferentes da minha vida. É legal ver o quanto isso tudo mudou olhando pra trás, é um grande alívio na verdade.

Bruno Guma: Não acho que eu tenha grandes momentos decisivos que sejam tão fora do comum do que as pessoas costumam ter, mas relacionado aos quadrinhos, três momentos importantes foram quando meu tio me deu uma parte da coleção de quadrinhos dele quando eu era adolescente, lá tinha algumas revistas Animal, Chiclete com Banana, Circo, Piratas do Tietê, e fui entender o valor delas um pouco mais tarde. Outro grande momento foi quando fui como visitante no FIQ em 2013, foi o primeiro evento de quadrinhos que fui e lá decidi que queria fazer quadrinhos. Eu estava na faculdade de Design e ainda não tinha certeza do que queria fazer. Também durante a faculdade, tive a oportunidade de participar do Ciência Sem Fronteiras. Acabei caindo em Savannah, na Geórgia, e dediquei boa parte dos estudos aos quadrinhos, na SCAD, que fez uma grande diferença no que faço hoje.

D: Na HQ, primeiro desses momentos envolve enfrentar os valentões da escola. Trazendo esse episódio para a vida adulta, quem vocês consideram que são os valentões que enfrentamos todos os dias?

Yuri: Não sei dizer se existe esse mesmo sentimento de valentões na vida adulta. Eu sinto que o livro todo gira um pouco em torno de solidão e rejeição e a primeira história pra mim é toda sobre isso. E no final da primeira história é um pouco sobre o nascimento do egocentrismo como um escudo.

Bruno: Acho que todo dia a gente enfrenta algum tipo de valentão, no sentido figurado da palavra. Todo dia eu luto comigo mesmo pra me organizar e conseguir produzir, não ter muita pressa, mas também não me acomodar. É uma luta constante. Mas fora isso, um tipo de “valentão” que não suporto são os falsos moralistas e os do tipo que te dizem como você deve viver.

D: O quanto vocês se identificam com o protagonista de Bully Bully?

Yuri: 100%. É uma das minhas histórias mais pessoais. É mais sensorial que literal, mas é muito pessoal.

Bruno: Muito. Quando o Yuri me mostrou o roteiro eu me identifiquei com o personagem e senti que ele também falava por mim. Também senti que a história era diferente e estranha, violenta mas também com um certo humor, e gostei da variedade de sensações que ela oferece.

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D: De onde surgiu a ideia de narrar a HQ sem o uso de texto? Quais os desafios desse estilo tanto para o roteiro como para a arte?

Yuri: Eu comecei a escrever essas histórias quando tinha uns 24, 25 anos. Há mais de dez anos. Logo que lancei meu primeiro livro, Garoto Mickey, me incomodei um pouco com alguns comentários de que o livro tinha muito texto, então eu naturalmente tentei fazer o máximo oposto disso no trabalho que seria a sequência dele. É engraçado que eu vejo esse trabalho como uma sequência espiritual do Garoto Mickey de diversas maneiras. Se eu tivesse focado meu trabalho inteiro em dramas com realismo fantástico quando era mais novo, Bully Bully seria o meu segundo livro. Claro que não teria o Guma porque ele nem era nascido, então que bom que demorou esse tempo todo, porque ele arrebentou e levou tudo para um nível muito superior.

Bruno: Eu me sinto muito mais confortável desenhando uma história sem texto, então para mim o desafio é menor. Acho que muitas vezes o texto é desnecessário, às vezes ele se torna uma muleta. Um quadrinho mudo tem uma narrativa muito mais direta e intimista, mais sensorial e menos racional, que era o objetivo de Bully Bully. O desafio é ser claro nas cenas, cadenciar o ritmo, e procurar formas gráficas de passar uma ideia.

D: Bully Bully também celebra o realismo fantástico. De que maneira a fantasia pode ajudar a preencher a solidão?

Yuri: Eu acredito que a jornada sensorial é mais importante que a jornada racional. Nosso inconsciente não trabalha com a realidade que a gente vive no dia a dia e a fantasia é muito mais poderosa e eficaz do que a gente gosta de acreditar. Eu não sei nem se me sinto bem em racionalizar e explicar isso tudo que estou explicando agora, porque acho que o caminho sensorial é muito mais forte através da fantasia.

Bruno: Não só a fantasia mas a ficção em geral nos ajuda a processar a realidade e dar significado à vida. Não existiu nenhuma sociedade ou cultura sem contadores de história. 

bully bully

D: Quais os principais artistas que influenciam o trabalho de vocês? 

Yuri: Prince, Kanye West, Andy Kaufman, Chris Ware, John Lennon, Joddo, David Lynch.

Bruno: Gosto muito do Daniel Clowes, Charles Burns e o quadrinho underground americano no geral. Mas ultimamente tenho lido os gekigás que saíam na Revista Garo, que surgiu quase simultaneamente ao Robert Crumb nos anos 1960, e achado bem mais interessantes. Tadao Tsuge tem se tornado meu preferido, mas seu irmão Yoshiharu Tsuge também é incrível. E quero ler o quadrinho da falecida esposa do Yoshiharu, Maki Fujiwara. Também me inspiro muito em música, Lou Reed é o melhor. E no cinema, Michael Haneke.

D: Quem não pode deixar de ler Bully Bully de jeito nenhum?

Yuri: Jovens deslocados como o Bruno Guma. 

Bruno: Velhos descolados como o Yuri Moraes. 

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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1 Comentário

  • Tina

    6 de dezembro de 2022 às 16:58

    trabalho incrível, os dois se completam.

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