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Crianças Malvadas: 3 livros sobre infâncias diabólicas

Como entender a maldade em seres supostamente tão puros?

12/05/2021

“O homem nasce essencialmente bom, mas a sociedade o corrompe”. Esta ideia se tornou popular pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau, que defendia a ideia de que as pessoas são uma página em branco e que se tornam más de acordo com o seu meio.

Na outra ponta, há pensadores como Hobbes e Maquiavel que defendiam a maldade humana por essência e que as pessoas só faziam algo bom por serem obrigadas. Apesar de uma forte tendência a querer concordar com Rousseau, há alguns atos praticados por crianças que nos levam a questionar esta inocência infantil.

Quando pensamos na nossa própria infância, somos protegidos por um mecanismo de seleção de memória do cérebro que filtra as lembranças ruins, deixando passar principalmente as boas, e é por isso que nossas lembranças costumam ser tão nostálgicas, reconfortantes. É dali que vem a nossa idealização desta fase da vida, sempre associando-a à inocência, descobertas e brincadeiras.

Mas a realidade pode ser bem diferente. Seja por fatores hereditários ou ambientais, há crianças que parecem desprovidas da inocência infantil. Elas são capazes de mentir sobre assuntos sérios, machucar animais ou outras crianças e não mostrar o mínimo sinal de remorso.

Como entender a maldade infantil?

O próprio Sigmund Freud, pai da Psicanálise, explicava que o ser humano possui impulsos agressivos que são instintivos e que o nosso contato com a cultura é o que freia tais instintos. Ou seja, crianças muito novas não têm noção de certo e errado até que elas aprendam com o meio (família, amigos, sociedade) a diferença entre os dois conceitos e também a noção de causa e efeito. Por exemplo, uma criança de 3 anos que coloca o cachorro na máquina de lavar “porque ele estava sujo” não tem ideia de que isso pode matar o animal.

A partir dos 4 ou 5 anos de idade estes conceitos passam a ser melhor compreendidos pelos pequenos, portanto, seus atos passam a ser mais intencionais. Crianças que continuam praticando atos violentos espontaneamente a partir desta idade devem ser observadas com mais atenção.

Não é possível diagnosticar o transtorno de comportamento antissocial, mais conhecido como psicopatia, antes dos 18 anos, pois a personalidade não está completamente formada até esta idade. Então, como avaliar uma criança que pratica atos malignos deliberadamente?

Em primeiro lugar precisamos entender o que configura a maldade em si. Podemos resumi-la à falta de empatia. Quando uma criança faz mal a alguém ciente das consequências é porque não está muito preocupada com o que o outro irá sentir. A falta de empatia é uma característica comum aos psicopatas. No caso das crianças, isso pode levantar a suspeita de transtorno de conduta.

Até mesmo este diagnóstico deve ser tratado com cuidado. Porém, há algumas reações em crianças que devem ser observadas com atenção: não chorar quando se machuca, maltratar animais, agredir coleguinhas e, principalmente, não mostrar qualquer sinal de remorso diante de seus atos violentos. Além disso, muitos atos cometidos por crianças com transtorno de conduta são furtivos, elas podem roubar objetos ou machucar outras crianças sem que ninguém veja – e na maioria das vezes conseguem se safar da situação.

No entanto, é preciso deixar claro que nem todas as crianças que levantam suspeitas de transtorno de conduta se tornarão psicopatas. Já o caminho inverso costuma ser verdadeiro: praticamente todos os sociopatas apresentaram algum tipo de desvio de conduta na infância.
Além disso, há três fatores comuns na infância destas pessoas, conforme descrito no livro Serial Killers – Anatomia do Mal: enurese (urinar na cama até a puberdade), piromania (provocar incêndios) e sadismo precoce (sentir prazer em torturar animais ou coleguinhas).

Ainda nos dias de hoje não há um consenso sobre o que viraria a chave destas crianças e de potenciais futuros psicopatas: genética, ambiente ou lesões cerebrais. Desde o momento em que um ser humano é concebido, ele possui uma carga genética que pode interferir na forma como seus neurotransmissores se comportam. Isso pode permitir algum tipo de predisposição para a psicopatia, mas está longe de determinar que alguém irá se tornar um psicopata.

O ambiente onde a criança está inserida também tem um papel aqui: quem cresce em um lar com constantes atos de violência, seja por abuso físico ou psicológico, pode normalizar tais comportamentos. O mesmo pode-se dizer de uma comunidade muito violenta. O ambiente hostil, violento, com carência de recursos ou afeto, no entanto, também não pode ser considerado o único fator para determinar que alguém cresça sem empatia ou remorso, afinal, a maioria das pessoas que vivem em ambientes assim não se tornam sociopatas.

Há ainda outro fator mais aleatório que também pode ser associado a este comportamento: lesões cerebrais, que podem ser causadas por alguma queda quando bebê ou por alguns tipos de infecções.

Não há consenso sobre esta origem, o que leva os especialistas a associarem tais desvios de conduta a uma combinação de alguns destes fatores. No fim das contas, as pessoas apenas querem respostas para entender a maldade humana e, principalmente, como ela pode ocorrer em um ser considerado tão puro como uma criança.

3 Livros que desconstroem a ideia da infância inocente

A revolta diante de uma infância instável, uma menina que é um verdadeiro anjo mau e um mergulho na mente de uma criança com traços psicopatas são os temas de algumas obras publicadas pela DarkSide® que abordam a maldade infantil. Conheça um pouco melhor estes títulos:

1. Butcher Boy: Infância Sangrenta, de Patrick McCabe

A infância é um período da vida repleto de fantasias. Mas dependendo de como você é criado, a imaginação pode dar vazão a ideias macabras. Em Butcher Boy: Infância Sangrenta, Francie esconde por trás de sua aparência inocente um coração que pulsa com violência, revolta e indignação.

Marginalizado por sua condição social, condição familiar e religião, o garoto acaba indo trabalhar em um açougue abatendo porcos. Porém, suas traquinagens são muito diferentes das brincadeiras de outras crianças: Francis prova que a crueldade não é algo exclusivo dos adultos.

2. Menina Má, de William March

O clássico Menina Má causou impacto em seu lançamento, há mais de 60 anos, por ousar trabalhar a ideia de que crianças podem não ser seres tão inocentes assim. Rhoda Penmark é uma menina de 8 anos com feições angelicais, mas que parece estar perigosamente ligada à morte de um coleguinha na escola.

A indiferença diante da perda precoce do amiguinho chama a atenção da mãe, que começa a pesquisar sobre crimes e psicopatas. Só que esta busca por respostas acaba revelando verdades assombrosas sobre a pequena garota.

3. Fábrica de Vespas, de Iain Banks

Frank é um garoto de 16 que vive com seu pai em um vilarejo afastado no livro Fábrica de Vespas. Abandonado pela mãe, com seu irmão internado em um hospital psiquiátrico e vivendo com seu pai excêntrico longe de convenções sociais, o jovem recorre à violência para aliviar suas angústias e frustrações deste estilo de vida.

Porém, quando descobre que seu irmão Eric fugiu do hospital, Frank precisa preparar terreno para o inevitável retorno de seu irmão – o que promete implodir mistérios do passado e mudar a sua vida por completo.