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Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, é uma bruxa?

Spoiler: não, não é, mas se fosse isso também não seria problema algum

08/06/2023

Assim que coloquei o ponto final na ode que escrevi sobre a já saudosa Rita Lee, um outro nome me veio à cabeça: Stevie Nicks. A voz do Fleetwood Mac, que está alive and kicking (ou seria tinindo, trincando?), acaba de fazer 75 anos e vem sendo redescoberta por toda uma nova geração após o sucesso da série Daisy Jones & The Six. Mas você deve estar se perguntando, caro leitor, o que diabos Stevie Nicks tem a ver com Rita Lee, além de serem dois dos maiores expoentes do rock’n’roll, a ponto de eu homenagear uma e lembrar de outra? Essa é fácil: o lado meio bruxona.

Desde que surgiu aos olhos do grande público, ainda nos anos 1970, com o Fleetwood Mac, Stevie vem sendo associada à bruxaria, à Wicca, às artes das trevas. Chame do que quiser. Desde então, a cantora vem atormentada com os rumores (com trocadilho, por favor) de que seria uma bruxa.

A coisa ficou tão séria que levou Stevie a se mudar de casa por diversas vezes depois de receber cartas estranhas que aludiam ao ocultismo. Essa crença maluca nasceu por causa do hit “Rhiannon”, de 1976, cuja letra traduzida é essa aqui:

Rhiannon soa como um sino durante a noite
E você não gostaria de amá-la?
Ela vai para o céu como um pássaro voando
E quem será seu amante?

Em toda sua vida você nunca viu uma mulher
Ser levada pelo vento
Você ficaria se ela lhe prometesse o céu?
Você alguma vez ganhará?

Ela é como um gato no escuro
E depois ela é a escuridão
Ela governa sua vida como uma bela cotovia
Quando o céu está sem estrelas

Em toda sua vida você nunca viu uma mulher
Ser levada pelo vento
Você ficaria se ela lhe prometesse o céu?
Você alguma vez ganhará?
Você alguma vez ganhará?

Rhiannon
Rhiannon
Rhiannon
Rhiannon

Ela soa como um sino durante a noite
E você não gostaria de amá-la?
Ela vai para o céu como um pássaro voando
E quem será seu amante?

Em toda sua vida você nunca viu uma mulher
Ser levada pelo vento
Você ficaria se ela lhe prometesse o céu?
Você alguma vez ganhará?
Você alguma vez ganhará?

Rhiannon
Rhiannon
Rhiannon

Levada por, levada pelo céu
Levada por, levada pelo céu
Levada por, levada pelo céu

Sonhos se desenrolam
O amor é um estado de espírito
Sonhos se desenrolam
O amor é um estado de espírito

“Rhiannon”, na verdade, foi inspirada em Triad, um romance de Mary Leader, que Stevie comprou num aeroporto qualquer — um dos personagens da história medieval tinha este mesmo nome. Simples assim. Mas a história da bruxaria se espalhou tanto que a cantora decidiu assumi-la como verdade, e passou a introduzir “Rhiannon” nos shows dizendo ser uma música sobre uma bruxa.

Com isso, os críticos de uma época de sexo, drogas e rock’n’roll, no intuito de florear seus textos, diziam que Stevie entrava em transe sempre que cantava essa música, como se evocasse algum espírito. Também pudera, nesta turnê, uma enorme e misteriosa lua amarela era pano de fundo do palco da banda. Mais tarde, ela disse que pensava em Rhiannon mais como uma divindade do que uma bruxa, mas vamos combinar que faz tudo parte do mesmo universo fantástico (e poderoso).

A verdade é que desde criança, Stevie ama o Halloween. Sua mãe, Barbara, adorava contar de quando era costureira e fez para a filha uma fantasia amarela, que prontamente fora tingida pela pequena de preto. O gosto pela cor que une todas as cores acompanha Stevie durante toda a vida, embora as tais cartas assustadoras tenham feito ela evitar suas roupas pretas por um longo período. Mais tarde, Stevie, com seu senso de humor afiado, falou que a predileção nada tinha a ver com bruxaria. “É que preto me deixa mais magra, idiotas.”

Mas Stevie sabia jogar com essa fama e às vezes provocava: a capa de The Wild Heart, seu segundo disco solo, lançado em 1982, fala por si só.

Apesar do medo, toda essa boataria não impediu que Stevie escrevesse inúmeras canções inspiradas no misticismo. Em 1998, a cantora compôs duas faixas para a trilha sonora do filme Da Magia à Sedução, com Sandra Bullock e Nicole Kidman — uma das muitas produções sobre o tema que pipocaram nas telas dos cinemas naquela década.

“Eu não acredito em bruxaria como filosofia ou algo do tipo. Só acho divertido. Adoro roupas pretas, amo a lua, as estrelas, e os chapéus de Merlin que o Mickey Mouse usa. Mas não, eu não acredito nisso”, disse ela, em entrevista ao Entertainment Tonight, em 1983.

A verdade é que Stevie nunca levou muito bem esses rumores. “Não gosto disso e gostaria que as pessoas parassem de me associar a uma bruxa, porque eu gastei milhares de dólares em roupas pretas belíssimas e precisei parar de usá-las por muito tempo, porque essa gente me assustava”, confessou.

Ainda assim, décadas mais tarde, Stevie aceitou o convite de Ryan Murphy para participar de American Horror Story, e justamente na temporada sobre… bruxas. Eu disse que ela sabia jogar com essa história, não disse? A dupla já havia trabalhado junta em um episódio de Glee em homenagem à cantora, e ela se sentiu em casa para participar de Coven, em 2013. Tanto que voltou para mais uma temporada, Apocalypse, em 2018.

Questionada se não temia suscitar toda uma nova onda de boatos, Stevie foi, mais uma vez, curta e certeira: “Já estou crescida e não tenho medo. Cheguei ao ponto da minha vida em que estou pensando: ‘A vida é curta’. A vida é muito curta. Então, quando grandes coisas acontecerem em seu caminho, não se afaste delas por causa de algo estúpido. Apenas abrace e divirta-se com isso e faça o seu melhor.”