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The Funhouse: Você vai implorar por sua alma!

Pague para entrar, Reze para Sair

23/06/2023

Nas locadoras dos anos de 1980-1990, muitos filmes perdiam a credibilidade graças aos seus lindos nomes adaptados para o português. Essa é a triste verdade de produções como Teen Wolf, estrelado por Michael J. Fox e descredibilizado como O garoto do futuro; The Serpent and The Rainbow de Wes Craven, que recebeu o infame e genérico A maldição dos mortos-vivos; e uma das piores ideias, Rabid do pai do body horror David Cronenberg, batizado por aqui de Enraivecida na fúria do sexo. Sério, gente… que D. nos perdoe.

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Mas existem exceções, e esse sempre me pareceu ser o caso de The Funhouse, que ganhou fama no Brasil como Pague para Entrar, Reze para Sair. Apesar de ser um título um tanto quanto Sessão da Tarde, o nome tem uma pegada ao mesmo tempo divertida e sombria que fará todo sentido ao final dessa matéria — e um pouco mais quando você terminar de (re)ver o filme.

A premissa de The Funhouse é bem simples: em parques de diversões você nunca sabe quem está por trás das máscaras. E se ela for de Frankenstein, fique um pouco mais preocupado.

The Funhouse

O longa de 1981 é dirigido por Tobe Hooper (O Massacre da Serra Elétrica, Poltergeist: O Fenômeno, Mangler, O Grito de Terror, entre outros clássicos do gênero), e claro que esperamos nos assustar desde o primeiro frame. É o que de fato acontece na abertura do filme, com marionetes e figuras sinistras acompanhadas por uma trilha sonora de gelar os pés.

the funhouse

Na sequência, nos deparamos com um “invasor doméstico”. Em primeira pessoa, enxergamos pelos seus olhos, no melhor estilo Halloween. Também temos outras homenagens, seja nas máscaras penduradas pelo quarto ou no final dessa cena em particular, que termina em um chuveiro, parafraseando Psicose.

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Ninguém morre nesse começo, mas não desanime, porque existe um parque de diversões na cidade e um grupo de amigos (dois casais e um garoto impertinente) decide ir até lá para ter bons momentos e correr todos os riscos desnecessários. E as gracinhas começam a perder a graça quando o pai de uma das garotas a previne sobre duas garotas mortas em uma cidade vizinha, encontradas em um riacho, quando o mesmo parque passou pela tal cidade.

Para seguirmos lado a lado nessa conversa sobre o medo, vamos postular que o parque é extremamente crível para quem mora ou morou em uma cidadezinha do interior visitada por feiras de diversões e circos itinerantes (principalmente os mais baratinhos que soltam parafusos na roda gigante e no chapéu mexicano). Hoje a situação melhorou um pouco, mas The Funhouse é um retrato muito fiel desse recorte do passado.

The Funhouse

No filme, o grupo de adolescentes formado por dois casais chega ao parque e logo se interessa por uma exposição de aberrações animais. “Terríveis erros da natureza” na voz de um mestre de cerimônias que parece um motoqueiro saído do primeiro filme do Mad Max. Por lá eles veem vacas com duas cabeças, carneiros com seis patas, fetos deformados e outras coisas agradáveis. Em seguida, visitam um show de mágica com sucesso bastante discutível e são expulsos da tenda de uma vidente (Madame Zena). Entediados, decidem espionar uma sessão de strip-tease pelos fundos da lona (sabe como é, anos oitenta…). Finalmente, eles se decidem por uma volta no trem fantasma que dá nome ao filme: The Funhouse. “Aterrorizante! Absolutamente aterrorizante! Você vai implorar por sua alma!”, promete o locutor.

the funhouse

Para tornar tudo mais interessante, o quarteto decide passar a noite dentro da galeria do trem fantasma, para dar uns amassos, perder a virgindade, essas coisas que animavam os jovens dos 1980, que não tinham internet, dinheiro para os motéis e gostavam de se arriscar para a coisa ficar mais animada.

the funhouse

O filme fica bem mais sombrio a partir desse momento, quando o sistema de locução para de gritar e as atrações do parque começam a se desligar uma a uma. Quando as luzes do parque se apagam e os clientes vão embora, todo um ecossistema vem à tona. As pessoas que trabalham ou chefiam o parque não são o que aparentam ser, muitas delas são disfuncionais, deslocadas da sociedade, são pessoas marginais ou marginalizadas. Existe um tom de deboche, crime e inadequação em muitos deles. A vidente que se prostitui e extorque o cliente com capacidade mental limitada, tarados com tendência a pedofilia que trabalham no parque, o próprio dono do parque que tem um filho “mutante” e… assassino. Esse é um dos elementos mais perturbadores desse filme, o adolescente deformado Gunther Twibunt, que ganhou vida pelo gênio de efeitos práticos Rick Baker (diz a lenda que Funhouse é o único slasher de Rick Baker). Gunther já seria assustador por suas próprias deformações, ou por seus olhos vermelhos mutantes, mas ele também grita de uma forma absurdamente perturbadora.

the funhouse

Desse ponto em diante (logo depois de uma ejaculação precoce do meninão), Gunther se revela um assassino incontrolável e sai à caça dos casais a pedido do pai, e o filme se torna efetivamente um terror “survive the night”, com perseguições, sangue e ultraviolência. A favor de Gunther, apenas o fato dele ser essa espécie de descendência mutante da própria mãe (que era uma exibição de parques de diversão). Gunther é um ser com inteligência limitada, com impulsos sexuais adolescentes e irrefreáveis, e está sendo conduzido pela canalhice do pai. Possivelmente, o feto que vemos na exposição do começo do filme é um irmão de Gunther.

the funhouse

Pague para entrar, Reze para sair não é um filme que se propõe a gerar medo do sobrenatural, mas ele funciona perfeitamente para perturbar o espectador. Seja pela própria aura sombria do parque de diversões, pelas pessoas disfuncionais ou pelos efeitos práticos traumatizantes, você não vai permanecer imune a essa produção sendo um fã do gênero. The Funhouse inclusive influenciou cenas de American Horror Story, e criadores do calibre de Rob Zombie (além do livro Joyland do Kingão ter umas pitadas aqui e ali). Então pegue o seu ingresso, aperte o play e não se esqueça da velha máxima dos filmes de terror slashers adolescentes: “Deus está de olho em vocês!”.

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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