Fábulas Dark • Filmes

Fábulas Dark que têm tudo a ver com o filme da Barbie

Boneca ganhou jornada fantástica nas telonas

25/07/2023

Sim, vamos falar de uma boneca e não é da Annabelle. O mundo se rendeu à febre cor-de-rosa com o novo filme da Barbie, a boneca da Mattel que fez e faz parte da vida de gerações de pessoas desde 1959. Todo mundo conhece a boneca, suas influências positivas e negativas na nossa cultura, e essa não é a primeira vez que ela ganha uma produção para chamar de sua. Ainda assim, sua história nunca foi contada desta maneira.

Propaganda de duas horas de duração, comédia escrachada, musical, filme feminista, nostalgia fácil, crítica ao patriarcado e uma bela homenagem ao cinema. Tudo isso (e muito mais) já foi falado deste filme, e todos esses rótulos fazem sentido. A produção de Greta Gerwig estrelada por Margot Robbie e Ryan Gosling investiu em uma variedade de elementos que conseguiu tornar a aventura da boneca em um clichê que respira originalidade.

A potência narrativa de Greta Gerwig

Muito disso se deve à sagacidade da própria cineasta que, além de comandar o show na direção, também assinou o roteiro ao lado do parceiro Noah Baumbach, que recentemente fez o perturbador História de um Casamento. Aliás, é até engraçado pensar que Barbie e História de um Casamento têm vários pontos em comum (já pensou em como seria o divórcio da Barbie e do Ken?).

Greta Gerwig consegue contar histórias de mulheres com uma assertividade rara no cinema. A atriz, roteirista e diretora é a cara do nosso selo DarkLove, mostrando todo o potencial narrativo de uma mulher que sabe muito bem do que está falando e não tem vergonha de expor suas inseguranças e vulnerabilidades, mas ainda o faz de uma maneira absolutamente poderosa.

A cineasta já abriu o jogo sobre diversas de suas influências cinematográficas para Barbie. Algumas bem evidentes, como aquela referência a 2001: Uma Odisseia no Espaço que já saiu no primeiro teaser e despertou o interesse até do cinéfilo mais cético. Mas ela não parou por aí, acrescentando acenos a produções como Cantando na Chuva, Grease, Nos Embalos de Sábado à Noite, O Show de Truman e até mesmo Matrix. Aliás, tem até um vestido que a Barbie usa que nos lembrou muito o vestido da Wandinha, mas talvez seja só coincidência… ou não?

Barbie Wandinha — Warner Bros./Divulgação

O Mágico de Oz e a estrada de tijolinhos cor-de-rosa

ALERTA DE SPOILERS DE BARBIE A PARTIR DESTE PONTO

Uma das referências que a própria Greta Gerwig apontou foi de O Mágico de Oz, o clássico de 1939 adaptado da história de L. Frank Baum. Mas, mais do que se inspirar nos cenários da produção estrelada por Judy Garland, Barbie traz uma jornada da heroína concebida pelo próprio Baum.

Dorothy é uma menina retirada do mundo que conhecia e lançada subitamente à terra de Oz. Lá, ela precisa passar por desafios para descobrir alguma lição sobre si própria e, então, retornar à vida normal.

Ora, ora se essa não é a história da nossa Barbie Estereótipo? Além disso, a estrada que ela pega para sair da Barbielândia é uma adaptação cor-de-rosa da famosa estrada de tijolinhos amarelos de Oz. Nada disso é coincidência, Greta Gerwig quis que fosse assim.

Alice in Barbieland

Quem tem uma história até parecida com a da Dorothy é a nossa querida e sonhadora protagonista de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. No clássico, Alice segue o Coelho Branco e vai parar no fascinante e ao mesmo tempo nonsense País das Maravilhas.

Um dos grandes trunfos de Carroll na história é a concepção de mundo do local. Valores são invertidos, regras são quebradas a todo momento e a lógica parece não pertencer ao País das Maravilhas.

Num primeiro momento essa é a nossa reação à Barbielândia. Mulheres são protagonistas de suas vidas, respeitadas e até mesmo ditam as regras. Homens são coadjuvantes e vivem tentando conseguir validação das mulheres. Um verdadeiro País das Maravilhas que desafia o nosso histórico de patriarcado, mas sem perder seu nonsense.

Só que para Barbie o País das Maravilhas é outro: o mundo real. Como assim ninguém respeita mulheres? Homens trabalhando em um canteiro de obras? Mulheres sendo objetificadas o tempo inteiro? Nada disso faz sentido para a nossa Barbie Estereótipo, que entra em uma confusão que a própria Alice deve ter sentido ao sair da toca do coelho.

Uma mulher de verdade

Para fechar nossos paralelos com clássicos fantásticos, Barbie é um brinquedo, assim como um certo boneco de madeira muito querido por todos nós. Tal qual Pinóquio, a Barbie do filme tem uma forte relação com a sua humana e carrega todas as expectativas e frustrações dela.

A Barbie Estereótipo não precisou de uma fada azul e nem de um grilo falante, mas o contato com uma experiência minimamente humana mudou algo nela. De repente ser um brinquedo, um objeto, não era mais suficiente. Ela precisava de algo mais.

Assim como Pinóquio tem toda a sua jornada para descobrir o que significa ser um menino de verdade, a nossa Barbie passa pelos mesmos dilemas depois de ter conseguido “sair de Oz”. Algo ali mudou e ela, tal qual Pinóquio, almeja ser “de verdade”.

Com elementos fantásticos que nos cativam desde a infância, Barbie consegue proporcionar uma experiência nostálgica, divertida e ao mesmo tempo tocar nas nossas jornadas pessoais sobre amadurecimento e assumir responsabilidades. Se a Barbie pode ser qualquer coisa, por que ela também não seria uma bela fábula Dark, não é mesmo?

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