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Eu Sou o Rei do Castelo: 5 temas do livro que falam com todos nós

Romance sinistro de Susan Hill não é uma história de criança

23/08/2023

Edmund e Charles, dois meninos que tinham tudo para serem grandes amigos. Pelo menos era isso o que seus pais esperavam, mas as dinâmicas sinuosas e diferenças entre eles criam uma inimizade imediata. À medida que os garotos duelam por poder e controle, as perseguições cruéis e violentas fazem cada um deles atingir os limites da sanidade.

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Eu Sou o Rei do Castelo pode até trazer crianças como protagonistas, mas está bem longe de ser uma história infantil. A obra-prima do suspense psicológico de Susan Hill faz dos leitores os espectadores de uma guerra territorial no coração de cada personagem. Observamos de camarote a dor e a crueldade que “nós”, seres humanos, somos passíveis de praticar todos os dias — pequenezas da alma e indiferença que nos fazem anular a existência do outro, pedidos de ajuda que se tornam silêncios eternos.

Expondo todas as rachaduras e janelas turvas de uma mansão onde o frio reina absoluto entre seus moradores, Susan Hill nos conduz por um terror psicológico que vai muito além das desavenças e da mera inimizade entre dois garotos. A autora navega por temas que são um incômodo convite a reflexões necessárias na nossa vida. Veja quais são:

1. Propriedade e disputa de classes

O romance de Susan Hill se debruça sobre os efeitos de possuir uma propriedade a partir do ponto de vista de dois meninos de 11 anos de idade. Edmund é filho do proprietário da mansão, enquanto Charles é o filho da governanta. Apesar da pouca idade, os dois estão bem cientes das diferenças de classe social entre eles. A partir dessa dinâmica, Hill distingue os conceitos de propriedade (física) e classe (uma superioridade abstrata sentida por Edmund).

eu sou o rei do castelo

Por causa da propriedade da família, Edmund tem um senso de superioridade exacerbado sobre Charles desde a primeira vez em que os dois se veem. Podemos até considerar esse senso de privilégio de Edmund infantil, mas ele é reproduzido todos os dias na nossa sociedade por adultos que deveriam estar mais maduros neste sentido. Charles, em contrapartida, sente-se subserviente ao outro menino, mesmo quando algumas coisas mudam ao longo da história.

Ao explorar essa interação entre os garotos, a autora sugere que o valor da propriedade não é somente monetário: ela se torna valiosa porque permite que as pessoas imponham o seu poder sobre outras psicologicamente. A imponência do imóvel cria uma espécie de poder opressor e intimidador sobre outras.

2. Infância

Tal qual O Senhor das Moscas, Eu Sou o Rei do Castelo traz uma abordagem sinistra e perturbadora sobre a natureza humana, sugerindo que as crianças — diferentemente das definições angelicais normalmente associadas a elas — nascem capazes de crueldade, destruição e do mal. 

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Através dos dois personagens, Hill mostra que a dependência das crianças em relação aos pais muitas vezes é entendida como uma espécie de privilégio, como se o mundo lhes devesse algo, sem ter uma boa noção do que seria realmente justo. Ao retratar senso de privilégio, ganância e frustração nas crianças, a autora levanta a questão: elas realmente são boas de maneira inata?

3. Medo e manipulação psicológica

O medo começa cedo para Charles em Eu Sou o Rei do Castelo, com a assustadora mansão Warings. Mesmo acostumado ao local, o pavor se faz presente, uma vez que Edmund aprendeu a explorar os temores do garoto.

O medo é frequentemente uma emoção irracional e incontrolável, o que torna particularmente difícil para qualquer criança superá-lo. Incapaz de dominar o sentimento, Charles simplesmente tenta conviver com o medo. Ao longo da história, o garoto não consegue evitar sua mente de ser tomada por todas as possibilidades perigosas que permeiam seus temores.

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Edmund fica tão apavorado quando Charles ao longo do livro, se não mais. Mas enquanto o filho da governanta permite que sua imaginação crie todos os cenários de perigo, Edmund reúne o máximo de confiança e autocontrole para reprimir seus medos quando não está sendo diretamente confrontado por eles. Além disso, ele sabe como o pavor funciona na mente de Charles e se aproveita disso para dominar o novo garoto sem precisar recorrer à violência física. Já a psicológica…

4. Aprisionamento e fuga

O livro de Susan Hill examina diferentes tipos de prisão física e psicológica. Começamos pela própria mansão Warings: grande, sombria, isolada do resto do mundo e controlada por pessoas que forçam rígidas hierarquias. Charles pode ser visto como o prisioneiro de um local solitário e triste, onde sua única companhia é o cruel e sádico Edmund, que o atormenta diariamente. Encurralado e infeliz, ele tenta fugir do local.

Na tentativa de fuga de Charles, a autora sugere um segundo e mais perigoso tipo de prisão: a psicológica. Isso porque Edmund consegue entrar na mente de Charles, apavorando-o de diferentes e sádicas maneiras. Por mais que o garoto não esteja, de fato, aprisionado à residência, ele parece estar psicologicamente preso à sua dinâmica opressora, incapaz de imaginar um mundo sem Warings, Edmund e o medo debilitante que o prende mais do que o próprio isolamento da mansão.

5. Natureza

Ao longo da história, a autora representa a natureza em duas maneiras discrepantes: na sua forma mais selvagem e como algo morto, controlado ou no mínimo “domado”. A floresta que cerca a residência é um exemplo dessa natureza mais selvagem, enquanto a coleção de mariposas da família Hooper é a natureza morta, domada. Trazendo essa dinâmica para os personagens principais, Charles seria a natureza selvagem e Edmund, a domada.

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A dinâmica oposta dos dois personagens revela aspectos de suas naturezas. O fascínio de Edmund pela natureza domada representa seu desejo de controlar tudo ao seu redor. Quando exposto ao mundo natural, fica praticamente paralisado de medo. Quase o oposto de Charles: um dos raros momentos em que ele está tranquilo ocorre quando ele está andando sozinho pela floresta. As paisagens e sons da natureza lhe são reconfortantes pelo mesmo motivo que são enervantes para Edmund: eles o lembram de que está longe de Warings, sem as prisões do sistema de castas criado na mansão. De maneira resumida, enquanto Charles anseia por liberdade, Edmund anseia por poder.

LEIA TAMBÉM: A PSICOLOGIA POR TRÁS DO MEDO DE CASAS MAL-ASSOMBRADAS

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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