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Caveira Viu: A Menina que Matou os Pais — A Confissão

Longa dá novo ângulo ao caso Richthofen

01/11/2023

De tempos em tempos somos chocados por crimes brutais que ganham dimensões inimagináveis, entrando na consciência pública e no imaginário coletivo. Foi exatamente o que aconteceu em 2002 com o caso Richthofen. O assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen horrorizou pela brutalidade e frieza, ganhando contornos ainda mais sinistros quando descoberto que a própria filha do casal estava envolvida no crime.  

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O fato é que o caso Richthofen ganhou um lugar cativo na mente dos brasileiros. No entanto, foi somente em 2021, quase vinte anos depois, que um projeto duplo se propôs a abordar os acontecimentos. A Menina que Matou Os Pais e O Menino que Matou Meus Pais, ambos dirigidos por Mauricio Eça, chegaram no catálogo do Prime Video com a proposta ousada de recontar o crime a partir de duas narrativas conflitantes, baseadas nos depoimentos de Suzane Von Richthofen (interpretada por Carla Diaz) e seu namorado na época, Daniel Cravinhos (interpretado por Leonardo Bittencourt). 

Um dos grandes méritos do projeto foi trazer diferentes pontos de vista para uma mesma história, deixando o espectador como um tipo de jurado enquanto os envolvidos narravam sua versão dos eventos. Contudo, isso acabou gerando um dos problemas mais contundentes dos dois filmes, que não se aprofundaram no que realmente aconteceu e deixaram de lado o período posterior aos crimes. 

A menina que matou os pais: A Confissão
Imagem: Divulgação

Foi justamente a partir dessas críticas que surgiu o terceiro longa do projeto, que chegou como uma resposta aos pedidos do público. Também dirigido por Eça, A Menina que Matou Os Pais: A Confissão deixa de lado a abordagem anterior e mergulha nos eventos posteriores ao crime, desde a investigação policial até a condenação de Suzane e dos irmãos Cravinhos. 

A confissão que não é tão confissão assim

O filme, assim como os dois últimos, teve seu roteiro assinado pela dupla Ilana Casoy e Raphael Montes. Os DarkSiders já conhecem Casoy faz um bom tempo. Autoridade na criminologia, ela foi a primeira escritora nacional a ser publicada pela Caveira, lá em 2014 com a edição dupla de Arquivos Serial Killers: Made in Brazil e Louco ou Cruel.

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A Menina que Matou Os Pais: A Confissão não apenas conta com a mão de Ilana Casoy no roteiro como também é baseado em uma obra de true crime da autora: Casos de Família – Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni, publicado em 2016 pela Caveira com uma análise minuciosa da criminóloga que acompanhou de perto o caso. 

casos de família

Estabelecendo um gancho com seus antecessores, A Menina que Matou Os Pais: A Confissão inicia após os assassinatos de Manfred e Marísia, acompanhando os passos de Suzane e dos irmãos Cravinhos. Em paralelo, temos a investigação policial, representada pela delegada Helena (Bárbara Colen), que vai conectando os pontos do que aconteceu.

A escolha de mostrar a investigação policial e como se chegou até a filha mais velha dos Richthofen como uma das culpadas é bastante certeira e preenche a lacuna deixada anteriormente. No entanto, o filme derrapa no próprio ritmo apressado, tentando condensar a maior quantidade possível de fatos e informações. 

Isso faz com que detalhes e pontos importantes para a resolução do crime sejam pouco explorados. Ao optar pela abordagem mais dramatizada, o longa faz com que as coisas aconteçam tão rápido que a narrativa acaba atropelada por si mesma, despindo a história de sua frieza e suspense inatos. A investigação nas telas acaba não sendo tão investigativa assim e a esperada confissão é entregue de forma superficial e anticlimática.

a manina que matou os pais a confissão
Imagem: Reprodução

Apesar disso, A Menina que Matou Os Pais: A Confissão traz um amadurecimento quando comparado ao dois longas que o antecederam. A direção de Mauricio Eça, aliada ao bom trabalho de montagem, acerta ao criar momentos de desespero, e o roteiro ilustra bem o tom absurdo dos eventos, como quando Suzane decide realizar uma festa de aniversário poucos dias após a morte dos pais. Outro ponto positivo é a recriação de cenas e momentos que ficaram famosos pela imprensa, como o funeral do casal Richthofen. 

O filme também acerta ao abandonar completamente a linha de seus antecessores e logo no início revela Suzane como uma pessoa calculista e manipuladora, sem nenhum remorso pelo que aconteceu. A atuação de Carla Diaz é bastante eficaz para encarnar a frieza da jovem, mas se perde em alguns momentos que acabam sendo demasiado caricatos e exagerados. 

Para além disso, outras atuações se destacam, como a de Allan Souza Lima, que como Cristian Cravinhos confere toda a carga dramática necessária, e Augusto Madeira, que volta como o pai da dupla de irmãos. Leonardo Bittencourt consegue transmitir a culpa que consome Daniel e mantém um bom desempenho, mas ainda escorrega em determinados momentos, principalmente quando contracena com Diaz. 

O desfecho da trilogia

Enquanto acerta em alguns pontos e desliza em outros, A Menina que Matou Os Pais: A Confissão chega como superior aos seus antecessores, oferecendo um ângulo mais interessante sobre o caso criminal que abalou o Brasil em 2002. Embora seja um desfecho mediano para a trilogia, o lançamento ainda é o melhor dos três filmes, aproveitando a história, apostando nas consequências do crime e nos comportamentos erráticos dos envolvidos.

a menina que matou os pais a confissão
Imagem: Divulgação

Talvez os acertos poderiam ter sido ainda maiores se o longa tivesse optado por uma abordagem mais investigativa ao invés de uma carga demasiadamente dramática. Com um olhar mais documental e mais tempo de tela, o filme provavelmente teria mais espaço para explorar a complexidade e nuances tanto do caso quanto de seus envolvidos. 

A boa notícia é que os DarkSiders que desejam saber mais podem recorrer a uma leitura complementar para lá de especializada. Casos de Família – Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni é fruto das anotações e pesquisas de Ilana Casoy, que observou tudo dos bastidores e traz uma análise minuciosa dos acontecimentos.

Em Arquivos Richthofen, o leitor pode acompanhar as investigações e os julgamentos, tendo acesso ao comportamento dos três assassinos, ao desfecho do processo e até mesmo aos detalhes do julgamento por meio da transcrição do debate entre acusação e defesa. 

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Sobre Gabriela Müller Larocca

Avatar photoHistoriadora e pesquisadora de cinema de horror há mais de dez anos, enfatizando a representação feminina no audiovisual e o uso do horror como fonte histórica. Produtora de conteúdo e aspirante a garota final. Nunca nega um livro da Caveirinha nem um bom filme de horror. Fala bastante e reclama muito no RdMCast.

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