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Conheça o caso real de A Sociedade da Neve

Uns chamam de tragédia, outros de milagre

11/01/2024

Recém-chegado na Netflix, o longa espanhol A Sociedade da Neve está dando o que falar. O representante oficial da Espanha na corrida do Oscar® é um dos filmes mais comentados da plataforma nos últimos tempos e também o mais caro já produzido no país. Dirigido por J.A. Bayona, A Sociedade da Neve traz uma história bastante conhecida, que inspirou séries de televisão como Yellowjackets. Estamos falando de um dos acidentes aéreos mais impactantes de todos os tempos, conhecido como o “Milagre dos Andes”

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Diferentemente de outras produções, A Sociedade da Neve opta por uma perspectiva realista para contar a história do Voo Força Aérea Uruguaia 571. Existem muitos relatos literários do que aconteceu, desde best-sellers até perspectivas pessoais dos sobreviventes. No entanto, o filme de Bayona opta por adaptar o livro homônimo de Pablo Vierci, o qual une as perspectivas em uma crônica do acidente e suas consequências. Mas afinal de contas, o que aconteceu no chamado Milagre dos Andes? E A Sociedade da Neve é fiel aos eventos reais? Vem que a Caveira te conta tudo. 

O que acontece quando o mundo te abandona?

Treze de outubro de 1972. O voo Força Aérea Uruguaia 571 transportava 45 pessoas, incluindo a equipe de um time de rúgbi e seus acompanhantes, em direção ao Chile. A viagem havia começado no dia anterior quando a aeronave partiu de Montevidéu, Uruguai. No entanto, as condições climáticas desfavoráveis forçaram a tripulação a fazer uma escala noturna em Mendoza, na Argentina. O voo foi então retomado na tarde seguinte. O que parecia ser uma viagem rápida, mudou para sempre as vidas de todos os presentes naquele avião. 

caso real sociedade da neve

A tragédia aconteceu quando a aeronave sobrevoava a Cordilheira dos Andes e se chocou contra as montanhas. Inúmeros erros contribuíram para o acidente. Para começo de conversa, o avião estava mal equipado para a viagem de alta altitude e tinha um motor fraco. Somando-se a isso vieram as condições climáticas difíceis e a rota perigosa, já que os pilotos optaram por voar em uma altitude mais baixa. Tudo contribuiu para que o avião batesse nas montanhas. 

O impacto arrancou a cauda e as asas da aeronave, deixando apenas a fuselagem para trás, que pousou em um vale isolado. Doze passageiros morreram devido ao impacto e quatro outros faleceram em seguida, deixando 29 pessoas lutando por suas vidas. Até aquela data, nenhum acidente de avião nos Andes havia deixado sobreviventes. 

Enfrentando temperaturas extremas e alta altitude, os sobreviventes transformaram a fuselagem do avião em um abrigo, usando bagagem, roupas e assentos para impedir a entrada de neve. Por um tempo, o grupo conseguiu sobreviver, utilizando os alimentos encontrados a bordo e engarrafando a neve para transformá-la em água potável. Cerca de uma semana depois, quando os suprimentos acabaram, os sobreviventes tentaram consumir o couro das malas e até mesmo os assentos do avião. Tudo na tentativa de encontrar algo que fosse comestível. Tomados pelo desespero e pela escassez, eles precisaram recorrer a algo inimaginável.

sociedade da neve caso real

Após uma discussão, a maioria dos integrantes concordou que a única opção era se alimentar da carne dos passageiros mortos. Inicialmente, a ideia foi recusada por alguns sobreviventes, mas tudo mudou quando o grupo descobriu através do rádio do avião que a missão de resgate havia sido cancelada até que as condições fossem mais favoráveis. Isso significava esperar pelo verão e pelo derretimento da neve.  

Por um tempo, os sobreviventes se alimentaram dos corpos dos falecidos, ao mesmo tempo em que enfrentavam temperaturas abaixo de zero. No entanto, logo eles precisaram encarar mais uma tragédia causada pelas condições climáticas adversas. No 17º dia, uma avalanche atingiu o acampamento e soterrou o que restava da fuselagem do avião, causando a morte imediata de oito pessoas. 

Como se isso não bastasse, a avalanche trouxe uma grande nevasca, obrigando os sobreviventes a permanecer na fuselagem para se manter minimamente aquecidos e recorrer novamente ao canibalismo. Apesar de tudo, eles conseguiram sobreviver e quando a nevasca acabou começaram a formar um plano para procurar ajuda. O grupo passou então algumas semanas treinando, até que no 61º dia três sobreviventes partiram para encontrar resgate, aventurando-se no desconhecido e deixando os outros para trás. 

sociedade da neve
Netflix/Reprodução

O trio se guiou pelas palavras do piloto, que antes de falecer havia contado que o grupo estava na parte ocidental do Andes, perto do Chile. Eles pensaram então em escalar a montanha e encontrar a civilização. No entanto, veio mais um golpe: a orientação do piloto estava errada e depois de dias de caminhada eles chegaram no meio do nada. Dois deles continuaram as buscas, enquanto outro fez um trenó improvisado e voltou junto aos outros sobreviventes

A dupla Roberto Canessa e Nando Parrado caminhou por dez dias até avistar um acampamento e eventualmente um homem, chamado Sergio Catalan, do outro lado do rio. Os dois conseguiram chamar a atenção de Catalan, no entanto, como estavam do outro lado do rio, o homem não conseguia escutá-los. Catalan voltou no dia seguinte com caneta e papel, jogando os objetos para que a dupla explicasse o que estava acontecendo. Foi nesse contexto que Parrado escreveu a mensagem que aparece em A Sociedade da Neve.

Catalan viajou por dez horas para alertar as autoridades chilenas da existência dos sobreviventes do voo 571. Foi assim que uma equipe de resgate foi enviada para recuperar os outros passageiros. Devido ao difícil acesso, foram necessárias duas viagens em dois dias. Um dos sobreviventes contou que nunca conseguiu explicar a felicidade que sentiu ao ver os helicópteros se aproximando. 

caso real a sociedade da neve

Era o fim de um pesadelo. Os passageiros do voo Força Aérea Uruguaia 571 sobreviveram por 72 dias na Cordilheira dos Andes. Quando finalmente chegaram no hospital, foram submetidos a diversos tratamentos médicos para curar o mal da montanha, a desidratação, os ossos quebrados, as queimaduras de neve, desnutrição e escorbuto. 

Enfim resgatados: O que aconteceu depois?

O resgate dos sobreviventes causou grande impacto na mídia, que logo focou em um aspecto particular de sua sobrevivência. Obviamente o canibalismo (ou antropofagia, termo preferido por alguns dos sobreviventes) foi o que mais chamou a atenção e causou controvérsia. Tanto que muitos dos sobreviventes precisaram explicar e afirmar diversas vezes que essa era a única forma de se manterem vivos em um lugar tão inóspito

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Onde estão os sobreviventes hoje?

Já se passaram mais de cinquenta anos, e dos dezesseis, catorze ainda estão vivos. Muitos escreveram livros detalhando suas experiências e relatando o acidente a partir de sua perspectiva, o que foi utilizado por muitos filmes e séries de televisão que adaptaram a história. 

a sociedade da neve caso real

Em 13 de outubro de 2022, o grupo se reuniu para prestar homenagens aos companheiros que não sobreviveram. Eles também contam que se encontram anualmente todo dia 22 de dezembro para celebrar sua sobrevivência

Muitos foram consultados durante a criação de A Sociedade da Neve, assim como as famílias dos falecidos também. Inclusive, alguns dos sobreviventes fazem breves aparições no filme. Carlitos Páez Rodriguez, por exemplo, interpreta seu próprio pai, Carlos Páez Vilaró, uma das poucas pessoas que nunca deixou de procurar pelo filho. Já a dupla que cruzou a cordilheira para encontrar ajuda, Nando Parrado e Roberto Canessa, aparece rapidamente, o primeiro abrindo a porta para o ator que lhe interpreta e o segundo como o médico que o atendeu quando chegou ao hospital. 

rodriguez a sociedade da neve

A Sociedade da Neve é fiel aos eventos?

Sim! O filme da Netflix é bastante fiel ao que aconteceu em 1972 com algumas pequenas alterações necessárias para comprimir semanas em apenas duas horas e meia de duração.

Algumas modificações envolvem o fato de que em A Sociedade da Neve o avião voa diretamente de Montevidéu para o local do acidente, não incluindo a parada em Mendoza. Outra mudança foi na cena do resgate, que ocorre de forma rápida e uma única vez, diferentemente do que realmente aconteceu, já que foram necessários dois dias e dois helicópteros para tirar todos do local. Inclusive, algumas cenas do filmes replicam com maestria as fotos reais tiradas dos sobreviventes

O diretor J.A. Bayona afirmou seu comprometimento com o realismo e com uma abordagem gentil. Ele contou que tentou contar a história da forma mais respeitosa possível, inspirando empatia e compreensão do público. Para isso, foram conduzidas mais de 100 horas de entrevistas com os sobreviventes. Visando isso, A Sociedade da Neve conta com um elenco composto exclusivamente por atores argentinos e uruguaios, além de contar com cenas filmadas no local do acidente, que ficou conhecido como Vale das Lágrimas após o desastre. 

bastidores a sociedade da neve

Bayona comentou a importância de contar não apenas a história de sobrevivência, mas também o impacto que isso teve na vida dessas pessoas, assim como a interconexão entre o grupo, que possibilitou que muitos vivessem para contar o que aconteceu. O diretor apontou que seu outro objetivo foi contar a história da perspectiva dos falecidos, fornecendo aos que viveram a chance de dar voz aos mortos por meio de seu testemunho. É justamente por isso que Numa Turcatti, último passageiro a falecer antes do resgate, é quem narra os eventos de A Sociedade da Neve

O Milagre dos Andes no cinema e na literatura

O cinema, assim como a literatura, há muito cria histórias fictícias que contêm elementos que foram vividos pelos sobreviventes dos Andes. É um caso contínuo de vida imitando a arte e arte imitando a vida. O clássico O Senhor das Moscas, por exemplo, traz um acidente de avião que força um grupo de meninos a sobreviver isolado em condições adversas. Já Saboroso Cadáver de Agustina Bazterrica, lançado pela DarkSide® Books, traz o tema do canibalismo, mostrando o que acontece quando a sociedade regulariza a criação e reprodução de seres humanos como animais de abate. 

Tais histórias pertencem ao mundo da ficção, mas mostram o apelo que essas temáticas possuem na cultura pop. Não é de estranhar que o Milagre dos Andes ganhou várias representações cinematográficas. Não, A Sociedade da Neve não é o primeiro filme a abordar esse evento. Devido à abundância de material documentado e da longevidade dos sobreviventes, a história já havia sido transportada para as telonas duas vezes. A primeira foi logo depois do resgate, em 1976, com o filme mexicano Os Sobreviventes dos Andes. Em 1993 foi a vez do longa americano Vivos, que contou com um dos sobreviventes, Nando Parrado, como conselheiro técnico. 

vivos

Uma história para conhecer: Museu Andes 1972

O acidente do dia 13 de outubro de 1972 e a extraordinária história de sobrevivência que se seguiu marcou para sempre o imaginário coletivo. Não é à toa que tais eventos renderam livros, filmes e séries de televisão. Mas você sabia que existe um museu dedicado aos acontecimentos?

O Museu Andes 1972 fica em Montevidéu e abriu suas portas em 11 de outubro de 2013, fruto de uma série de exposições que visavam homenagear as 45 pessoas do voo Força Aérea Uruguaia 571. O museu dedica sua existência à memória dos 29 falecidos e aos 16 sobreviventes que voltaram com vida após árduos 72 dias. O Museu Andes 1972 mantém viva a memória dessa história, divulgando os valores que emergiram dos eventos, como o trabalho em equipe, a amizade e a solidariedade. É um lugar que incentiva a introspecção, o conhecimento e a transmissão do Milagre dos Andes às futuras gerações. 

museu andes 1972

A Caveira, inclusive, recomenda: se algum dia estiver por Montevidéu vale a pena tirar um tempo para conhecer o local e saber mais dessa história inspiradora e trágica que parece ter saído diretamente da ficção. 

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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3 Comentários

  • Patricia

    13 de janeiro de 2024 às 12:49

    fui ao museu dos andes. é impactante…. pensar que jovens, ricos, passaram por tudo isso e sobreviveram…. faço como o Nando dizia, só mais um passo é vou levando a vida….

  • Veridiana Sganzela Santos

    15 de janeiro de 2024 às 11:02

    Quando criança assisti ao filme Vivos e fiquei profundamente impactada (pudera… uma história dessa, para uma criança, contada em um filme, não é algo que se esqueça). Admiro os passageiros, tripulantes, aos atletas que caminharam até encontrar algum sinal de civilização, ao Sergio Catalán que se empenhou em buscar ajuda… Enfim, a cada um, muito respeito. Pretendo adquirir o livro para me emocionar novamente.

  • Maristela Guedes

    15 de janeiro de 2024 às 16:33

    Muito boa a matéria. já assisti ao filme, mas vou ver de novo só para reparar nas cenas em que os sobreviventes reais aparecem. E também pq o filme é muito bom mesmo!

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